19/01/2025

Malabares ajudaram Akio a se reerguer após ter carreira no skate ameaçada

Por Alexandre Araujo e Beatriz Cesarini/Folhapress em 19/01/2025 às 13:28

Gaspar Nóbrega/COB
Gaspar Nóbrega/COB

“Você é o japonês que joga malabares?”. Esse é um questionamento que o skatista Augusto Akio ouve com certa frequência, quase que como uma verificação de identidade, principalmente após a medalha olímpica em Paris-2024, que fez dele um rosto mais conhecido fora da bolha.

Com as claves na mala, inclusive, o brasileiro embarcou para a Argentina, onde vai participar da Concrete Lines, torneio organizado pela DC Shoes.

O malabarismo se tornou uma marca registrada, como o próprio Japinha admite, e é levado para todos os cantos, até mesmo para cerimônias como a do Prêmio Brasil Olímpico. A atividade surgiu em um momento em que ele questionava se poderia continuar no alto rendimento, devido a uma lesão no quadril. Foi o maior período em que esteve longe das pistas.

“É uma forma de ser reconhecido, quase uma assinatura. O malabarismo entrou na minha vida em um momento de dificuldade, quando estava afastado do skate. No início da recuperação, não sabia nem se ia conseguir voltar para o skate em alto rendimento, e busquei me ocupar com essa arte. Foi extremamente útil para mim, para me manter ocupado, para que eu pudesse continuar buscando aprimoramento pessoal e aprender algo novo”, diz o skatista.

A lesão foi há apenas alguns anos. “Eu já devia ter uns 20, 21 anos. Não foi há tanto tempo”, lembra ele. Foram três meses de recuperação, que aconteceu com o auxílio da acupuntura — técnica da qual o avô é um dos pioneiros no Brasil e também aplicada pela mãe.

Akio voltou a andar de skate e a competir. Não apenas isso: conquistou uma medalha olímpica logo na primeira participação, na edição na capital francesa – levou o bronze no skate park.

O malabarismo, porém, não ficou para trás. Pelo contrário, passou a integrar o dia a dia de Akio e serve até mesmo de auxílio antes das provas.

“Nos campeonatos, antes de entrar na pista, de começar o aquecimento oficial, jogo malabares porque ajuda na ativação da coordenação, assim no despertar, em ficar atento, na agilidade e na tomada de decisão, porque se você faz um lançamento que não saiu exatamente como você esperava, tem de tomar uma atitude para consertar aquilo, e não para. Então, me ajuda bastante’, comentou.

Mudanças após movimento olímpico

Akio falou inúmeras vezes sobre a “cultura do skate” e como o esporte se integra com os elementos das ruas. E neste sentido, ele vê uma mudança de cenário com a entrada da modalidade nos Jogos Olímpicos. Japinha acredita que um as pessoas passaram a ter um contato maior com o skate, com pais incentivando os filhos para a prática, o que causou uma mudança no olhar de quem, até então, não dialogava com esse universo sobre rodinhas.

“Percebi que, após as Olimpíadas de Tóquio, e fortificado agora com Paris, o incentivo para que os jovens pratiquem o esporte é muito maior, pais acompanhando os filhos que querem ser skatistas, levando para a pista, buscando local adequado, equipamentos e produtos. Isso é muito importante porque também move toda a engrenagem do universo do skate”, afirmou Akio.

Ele, porém, faz um alerta para que as raízes do skate não sejam deixadas de lado. A boa relação entre os atletas – algo que virou meme no Brasil sobre “torcer para as crianças caírem” – e o life style que esse esporte proporciona foram lembrados pelo campeão mundial do ano passado.

“Essa nova geração acaba sendo direcionada muito para o lado da competição, o que às vezes gera uma certa cobrança de familiares, dos pais ou responsáveis, por resultado ou evolução. E eu acredito que isso não é tão sadio para o esporte, porque o skate também é uma forma de se expressar, de ser você mesmo, de ter a sua singularidade, seu estilo único, suas características. E muitas vezes essa competição excessiva acaba estragando momentos de confraternização, amizade e coisas que você vai levar para a vida toda, que vão além de um resultado de uma prova”, avaliou.

Dentre os planos para o ano, Japinha também tem tópicos além dos torneios e medalhas, como a divulgação de um vídeo que ressalta justamente a ligação do skate com as ruas.

“Tenho como meta me manter no circuito olímpico. Além disso, também quero soltar uma video-party de skate gravada, majoritariamente, na rua ou em obstáculos inusitados, gravado pela ‘crew’ da qual faço parte. Essa crew foi um coletivo criativo, um grupo de amigos meus, todos na casa dos 20 anos, andamos de skate, nos divertimos, e gravamos essa essência. É o skate que a Globo não mostra”, disse Akio.

Pontapé para 2025

Augusto Akio embarcou na última quinta-feira para a Argentina. Ele vai competir na Concrete Lines, torneio organizado pela DC Shoes. Será o primeiro grande torneio dele na temporada recém-iniciada.

“Um dos motivos pelos quais me interessei em participar foi que a comunidade argentina do skate é muito calorosa, acolhedora. Por curiosidade, ainda descobrir que um dos juízes de Paris-2024 [Nahoel Martinez], e que conheço há bastante tempo, é um dos organizadores. O Luiz Francisco [4º no park em Tóquio] e o Danny León [da Espanha] vão estar. Acredito que vão ter grandes nomes”, disse

Questionado sobre a preparação no ciclo para Los Angeles-2028, o atleta contou ainda não tem maiores detalhes do planejamento da Confederação Brasileira de Skate junto à organização mundial, mas afirmou estar “aguardando ordens”. “É como se eu fosse um soldado em serviço”, brincou.

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