Mãe russa e nascido nos EUA: o ginasta que quer vestir as cores do Brasil
Por Alexandre Araujo/Folhapress em 23/02/2025 às 13:56

Pai brasileiro, mãe russa, nascido e criado nos Estados Unidos e membro de uma família que tem a ginástica artística no DNA. Vitaliy Guimarães, de 24 anos, é uma das caras da modalidade e busca conquistar espaço na seleção brasileira no ciclo para Los Angeles-2028.
Nascido em Dallas, no Texas, Vitaliy disputou a Liga Universitária -estudou na Universidade de Oklahoma -e chegou à seleção dos Estados Unidos. Ele desembarcou no Brasil em março do ano passado: “Eu adoro o país, uma cultura única. Foi a melhor decisão da minha vida”.
Ele chegou para defender o Minas Tênis Clube e considera que a atual temporada pode ser uma virada de chave. Inclusive, esteve no primeiro estágio de treinamento, organizado pela confederação, da caminhada até os Jogos Olímpicos.
“É um processo, um pé na frente do outro e, a partir daí, aumentar devagar. Quero chegar à seleção, competir no Mundial e em outras competições internacionais, mostrar que eu posso ajudar a seleção. E acho que começa esse ano para mim. Tenho de trabalhar”, disse Vitaliy Guimarães, ao UOL.
A história de Vitaliy tem um capítulo inicial no interior de São Paulo. Tatiana Kondratova, mãe dele e técnica de ginástica, veio trabalhar no Brasil no começo da década de 90. Após uma passagem pelo Pinheiros, mudou-se para Ribeirão Preto, onde conheceu o também treinador Marcelo Guimarães.
O casal foi morar nos Estados Unidos, onde nasceu Vitaliy Guimarães -que tem nacionalidade brasileira. “Eu nasci e sempre estive no ginásio. Eu ficava correndo com as crianças, fazendo bagunça. Depois, comecei a frequentar as aulas com os pequenos e, posteriormente, passei a competir. E meus pais sempre ajudaram muito dentro e fora do ginásio”.
Marcelo acabou se tornando o primeiro técnico de Vitaliy, que contava também com os ensinamentos da mãe “principalmente, para melhorar no salto e no solo”, conta ele. “Éramos como um pequeno time, o Time Guimarães”.
Aos 10 anos, o ginasta se mudou para Denver, onde passou a treinar no famoso ginásio 5280 e permaneceu até os 18 anos. Foram ainda cinco anos disputando pela universidade, com quatro anos na seleção de base dos Estados Unidos e dois na adulta.
“Sempre mantivemos contato no Brasil. Conversei com meus pais e vimos como uma boa oportunidade. Quero mostrar que posso representar o Brasil. No começo, foi difícil para me adaptar, mas é sempre um processo. Não é fácil sair de um programa de ginástica para entrar em outro. Mas as coisas começaram a ficar mais fáceis e acho que estou entendendo um pouco mais”, contou o atleta.
Apesar dos obstáculos, Vitaliy fez ótima estreia no Troféu Brasil, em junho de 2024, quando foi ouro no solo e prata no salto -aquelas modalidades em que teve uma ajuda especial da mãe.
A comunicação, inclusive, não é problema para o ginasta, apesar do sotaque. Desde a infância, as conversas em casa contavam com português e russo, as línguas nativas dos pais.
O conhecimento da cultura brasileira não estava apenas na língua. Vitaliy já conhecia a culinária, com destaque para o arroz com feijão, e acompanhava o futebol nacional -herdou o gosto pelo Palmeiras: “Assistia aos jogos do Campeonato Brasileiro com meu pai, cresci com isso”. O ginasta ainda não teve tempo para ir a uma partida no Allianz, mas espera poder estar na arquibancada em breve.
Formado em psicologia, o ginasta também pretende se especializar em psicologia do Esporte. “Eu adoro esporte e tudo que o envolve. Quero trabalhar com atletas e ajudá-los a pegar o nível máximo que puderem. Meus pais me ajudaram muito com esse lado psicológico, na preparação para treinos, competições. Você tem de sair do ginásio satisfeito com o que fez”.