Quem é Andrea Gavassi, brasileiro da equipe do curta 'A Lien', que disputa o Oscar
Por Thales de Menezes/Folhapress em 23/02/2025 às 14:26

Um filme rodado em 2021, sem orçamento. Foi concluído após mais de um ano de pós-produção, com todos os envolvidos trabalhando de graça. Essa ação entre amigos, por suas inegáveis qualidades e um componente emocional poderoso, pode ganhar um Oscar. E um brasileiro tem participação importante em tudo isso.
Andrea Gavassi, de 34 anos, é o diretor de fotografia de “A Lien”, que disputa no próximo dia 2 de março a categoria de melhor curta no Oscar 2025. E a foto é determinante no impacto brutal que esse filme de 15 minutos sobre opressão aos imigrantes nos Estados Unidos consegue provocar.
“Se você perguntar qual o gênero desse filme, eu respondo que é um filme de terror”, diz Gavassi. Depois de um ou dois minutos de exibição, o clima que envolve a ida de um jovem casal ao departamento de imigração ganha contornos de thriller bem pesado. Uma narrativa angustiante, até o final.
A americana Sophia e o salvadorenho Oscar comparecem para a última entrevista de um longo processo para emissão do green card do marido. Com eles está a filha do casal, Nina, de cinco anos. Após sete anos no país, Oscar deve sair de lá com o documento definitivo de permanência, após cumprir todas as exaustivas etapas para sua obtenção.
Mas, num momento em que Sophia está separada do marido e da filha, entregando documentos para a audiência, um grupo de agentes entra no local com ordens para prender seis homens que estão ali –entre eles, Oscar. O que se vê depois é uma pressão absurda sobre cada um deles. Oscar, sofrendo violência física. Sophia, impotente diante da burocracia e apavorada porque Nina também está prestes a ser levada pelos agentes.
Gavassi utiliza com insistência enquadramentos próximos ao rosto das pessoas, aumentando uma sensação claustrofóbica que incrementa mais o ambiente opressor. “A câmera fechada, usada na mão, é parte da estratégia que a gente buscou ao usar técnicas do cinema de terror.”
“A Lien” é dirigido pelos irmãos David e Sam Cutler-Kreutz. Gavassi trabalhou com Sam na produção de filmes de publicidade, que são, ao lado de rodar videoclipes, as atividades mais constantes do brasileiro, que está no Estados Unidos há uma década.
Ele admite que, infelizmente, é uma boa hora para esse filme ser assistido, em razão da política do governo Trump em relação aos imigrantes. “Em 2021, saindo do primeiro mandato dele, a ideia era contar uma história de um passado recente, não de um futuro que estava por vir.” Ele admite que tudo na tela é quase Kafka.
“A burocracia é o monstro que tem as piores intenções possíveis. É kafkiano mesmo. Eu sou imigrante nos Estados Unidos, tenho visto, e participei de todas as entrevistas. E fui tratado assim, como um número. Não como uma pessoa. É um processo não humano. É preciso fazer uma reforma, é preciso entender que existem famílias, pais e filhos que são separados.”
O filme não está disponível para ser visto na internet e, por enquanto, não há perspectiva de chegar ao Brasil. Gavassi diz que a trajetória do filme teve momentos bem diferentes. “Ele foi feito praticamente quando estávamos saindo da era Trump, era algo que todos tentavam esquecer. Mas Trump voltou e o interesse pelo filme aumentou.”
Depois de ser exibido em festivais, ele conta que os diretores achavam que a vida do filme tinha terminado. Mas veio a chamada “longa lista” do Oscar, com os 65 filmes que estavam sendo considerados na categoria, e “A Lien” estava lá.
“Depois de uma semana veio a lista curta, com 15 filmes, e aí começamos a acreditar. Adam McKay, que ganhou um Oscar de roteiro em 2016, por ‘A Grande Aposta’, entrou como produtor executivo e está ajudando que o curta seja visto pelos membros da Academia. E muitas ONGs estão atrás do filme, para utilizá-lo em trabalho educacional com imigrantes.”
Gavassi, que desde garoto viveu entre Brasil e Itália, onde estudou, seguiu o conselho de uma produtora espanhola que falou para ele tentar a sorte em Nova York. “Eu não estudei cinema, fiz economia. A minha escola foi gravar clipes. Morava no subúrbio e aprendi filmando.”
Nos videoclipes, já trabalhou com gigantes da música pop, como Sabrina Carpenter, Charlie XCX e OneRepublic. Quer seguir como diretor de foto em publicidade, mas, de tempos em tempos, fazer filmes de ficção. Embora o barulho na mídia com a indicação ao Oscar seja recente, ele sente uma valorização do seu trabalho. “Estou recebendo ofertas bem interessantes”, diz o brasileiro.
Sobre “A Lien”, ele admite que a questão emocional, com a perseguição atual aos imigrantes, pode favorecer o filme no Oscar. “Talvez o filme também ajude a mostrar ao mundo essa questão.”