A mineira batizada 'para vencer' que fez dobradinha no Aberto da Austrália
Por Alexandre Araújo/Folhapress em 10/02/2025 às 17:04
![Foto: Reprodução/Redes Sociais](https://santaportal.com.br/wp/wp-content/uploads/2025/02/WhatsApp-Image-2025-02-10-at-17.02.07.jpeg)
Quando Solange Dias deu à luz, ouviu dos médicos que a filha recém-nascida poderia ter pouco tempo de vida. A mãe, que até então não sabia o sexo da criança, decidiu, naquele momento, batizá-la de Vitória e acreditar que tal projeção não se confirmaria.
Aos 17 anos, a mineira de Belo Horizonte conquistou dois troféus no Aberto da Austrália de cadeira de rodas, na categoria júnior, e desponta como uma das promessas do tênis paralímpico brasileiro.
Ela nasceu de seis meses -a bolsa da mãe havia estourado quando a gestação tinha apenas quatro-, e ficou quase um ano em uma incubadora. Ela, posteriormente, foi diagnosticada com artrogripose congênita, e tem apenas 10% da força nas pernas.
Atual líder do ranking mundial Júnior, ela conquistou o ouro na chave individual e de duplas em Melbourne, se tornando um dos destaques do Grand Slam realizado no mês passado.
Irmã caçula em uma família de cinco filhos -ela tem quatro irmãos mais velhos-, a atleta conta que viveu uma “montanha-russa” na Austrália: ela imaginou que estava eliminada após a derrota na rodada inicial.
Na decisão, a tenista bateu a norte-americana Sabina Czauz por 2 sets a 1, de virada, após superar um 6/0, “pneu” no jargão do tênis, no primeiro set. “Tiveram altos e baixos na final [individual], de psicológico também. Eu iniciei tomando 6/0, e acho que o que fez a diferença ali foi o incentivo do Léo, que me puxou o tempo todo. No terceiro set, tinha certeza que aquele jogo seria meu”.
No dia anterior, a brasileira tinha chegado ao topo do pódio nas duplas, em parceria com a belga Luna Gryp. “Jogamos esse jogo felizes, leves. Até ali, eu só pensava que não podia fazer igual ao primeiro jogo [quando perdeu], e estava colocando uma pressão grande. Esse jogo em dupla serviu para quebrar esse pensamento e dar mais confiança”.
Desde cedo, Vitória fez acompanhamento na Associação Mineira de Reabilitação (AMR) e teve contato com modalidades esportivas. O tênis entrou na vida dela aos 9 anos.
A mineira treinou por dois anos, em um ritmo quase que “por brincadeira”, como classificou, mas decidiu parar e nem ela sabe ao certo o motivo. Em 2021, novamente na AMR, levantou 65 kg em um exercício e foi questionada sobre prática esportiva. Respondeu que já havia feito tênis e gostaria de retornar. “Ligaram para o Léo e disseram que tinha uma ovelha dele desgarrada que queria voltar”.
Vitória voltou ao tênis e, certa vez, batendo bola com a então líder do ranking brasileiro adulto, ouviu que teria de treinar muito para atingir o nível da adversária. Respondeu, porém, que queria “ser melhor”. “O Léo foi ouvir e falou: ‘então, temos de tomar um rumo diferente’. Foi quando comecei a ter uma dedicação maior ao tênis e vi que era o que eu gostava de fazer, queria seguir carreira”.
Em 2023, aos 15 anos, Vitória foi duas vezes campeã no Parapan de Jovens, em Bogotá. Ela conquistou o ouro na chave simples e nas duplas mistas, ao lado de Luiz Calixto. Em Melbourne, a mineira repetiu um feito da tocantinense Jade Lanai, também campeã na chave de simples e de duplas femininas em um Grand Slam – em 2022, no US Open.
Vitória cursa o terceiro ano do ensino médio e quer entrar para a faculdade de psicologia para trabalhar na área esportiva, mas ainda não sabe se será um plano para curto prazo. “Não tenho certeza se eu vou fazer já esse ano porque dependo nosso planejamento da temporada, mas é um objetivo”.