Rodrigo Garcia ignora PT e Haddad e prioriza pautas bolsonaristas em SP
Por Carlos Petrucilio / Folha Press em 28/07/2022 às 08:56
Numa tentativa de ultrapassar Tarcísio de Freitas (Republicanos) nas intenções de votos, o governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), intensificou sua agenda com idas a festas rurais e reuniões com lideranças do agronegócio, além de acenos a policiais, todos esses setores alinhados ao presidente Jair Bolsonaro (PL).
Nas eleições para o Palácio dos Bandeirantes, Tarcísio é apadrinhado por Bolsonaro.
Ao mesmo tempo, o tucano ignora o ex-prefeito Fernando Haddad (PT), atual líder nas pesquisas. A equipe de campanha de Rodrigo acredita que, se ele avançar para o segundo turno, terá boa chance de superar Haddad. Para isso, o governador precisa primeiramente angariar os eleitores de Tarcísio.
De acordo com última pesquisa Datafolha, Rodrigo e Tarcísio estão empatados com 13% cada um, e Haddad lidera a intenção de votos com 34%.
A esperança do tucano é pelo fato que o petista apresenta um alto índice de rejeição e que, no eventual segundo turno, herdaria os votos de Tarcísio.
Neste corpo a corpo contra Tarcísio, Rodrigo percorre uma maratona de compromissos desde a última quinzena de julho.
A começar no dia 14, o governador recebeu Evandro Gussi, presidente da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), no Palácio dos Bandeirantes, e se reuniu com membros da Ocesp (Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo) -que reúne 164 cooperativas agropecuárias e mais de 170 mil produtores rurais no estado.
“Vamos construir a várias mãos uma pauta para o nosso setor e encaminharemos ao Rodrigo. É importante que as autoridades entendam o movimento do cooperativismo”, disse Edivaldo Del Grande, presidente da Ocesp e do Fórum Paulista do Agronegócio.
Quatro dias depois, o governador anunciou uma redução na alíquota do ICMS sobre o etanol hidratado. A tributação passou de 13,3% para 9,57%, o que levou a uma queda de R$ 0,17 no preço do litro cobrado nas bombas.
São Paulo é o maior produtor e consumidor do etanol no país. A medida deve impactar R$ 563 milhões na arrecadação estadual até o final deste ano.
Em compromissos entre a noite sexta (15) e o sábado (16), Rodrigo rodou por quase 700 quilômetros para visitar exposição agropecuária em Jacareí, a festa do ovo em Bastos, um tradicional campeonato de cavalos da raça quarto de milha em Araçatuba e a festa de rodeio em São José do Rio Preto.
Na região de Bastos, a que mais fornece ovos no estado, o governador também se comprometeu com o setor avícola em revisar a tributação sobre os itens vendidos.
As incursões pelo interior do estado ocorrem semanalmente. O tucano já fez um bate-volta entre São Paulo e Presidente Prudente para regulamentar lei que autoriza a transferência de terras pertencentes ao estado para produtores rurais.
O ato reuniu produtores rurais e bolsonaristas como Luiz Antônio Nabhan Garcia, secretário especial de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Na ocasião, Rodrigo pediu que Nabhan transmitisse um abraço a Bolsonaro.
Na segunda (25), o tucano esteve na cerimônia de abertura da exposição Coopercitrus, em Bebedouro, diante de 160 empresas que lideram o agronegócio -fornecedores de máquinas, tratores, tecnologia e insumos.
E no dia 1º, Rodrigo deverá ir na abertura do Congresso Brasileiro do Agronegócio, organizado pela Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG).
Em relação às forças de segurança, o governador assinou um decreto no qual a Defensoria Pública passa a oferecer assistência jurídica a policiais civis e militares acusados ou investigados por atos relacionados ao exercício profissional, mesmo durante folga.
O convênio é polêmico porque garante o benefício para policiais acusados de crimes de lesão grave ou seguida de morte, lesão grave qualificada, fuga de presos, abuso de autoridade, tentativa de homicídio e homicídio.
Também abriu 268 vagas para que policiais atuem na ronda escolar fora do seu horário de expediente. Em contrapartida, o policial poderá receber por até 80 horas adicionais no mês -um gasto anual de R$ 14 milhões aos cofres do governo.
Antes, ele já havia anunciado outras medidas à categoria, como o aumento de efetivo nas ruas, o pagamento de bônus bimestrais e a elaboração de uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) para regulamentar a Polícia Penal no estado.
Para o cientista político Paulo Niccoli Ramirez, professor da ESPM, esta agenda do tucano cada vez mais alinhada ao bolsonarismo evidencia como o PSDB está enfraquecido e vive uma crise de identidade. Assim como Rodrigo está órfão de grandes apoios.
“O Geraldo Alckmin, grande figura do PSDB, está com Lula, Haddad e Márcio França. É a primeira eleição que o PSDB não tem um favorito no estado”, afirma Ramirez.
São Paulo é governado por tucanos desde 1995, mas viu o partido viu a sua base rachar exatamente por esta aproximação a Bolsonaro, em 2018.
No segundo turno daquela eleição, João Doria se apressou em declarar apoio ao presidente e estabeleceu o movimento BolsoDoria, mesmo sem respaldo do PSDB.
A avaliação de integrantes da campanha de Tarcísio é a de que a aproximação de Rodrigo com o eleitor bolsonarista não deve surtir efeito. O “BolsoDoria”, dizem, foi um erro que o eleitor do presidente cometeu uma vez, mas não deve se repetir.
Os estrategistas ligados ao ex-ministro admitem que ele, assim como Rodrigo, ainda são desconhecidos para boa parte do eleitorado. Mas a ideia do marketing de Tarcísio é grudá-lo em Bolsonaro e também reforçar a ligação entre Rodrigo e Doria, o que afastaria o público bolsonarista do tucano.