Aliados de Bolsonaro tacham Tarcísio de traidor e o acusam de querer o Planalto em 2026
Por Matheus Teixeira, Marianna Holanda e Julia Chaib/Folhapress em 09/08/2022 às 16:12
Escolhido pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para disputar o Governo de São Paulo, estado com maior parcela do eleitorado brasileiro, Tarcísio de Freitas (Republicanos) passou a ser alvo de críticas de aliados do mandatário.
Em conversas reservadas, uma parte do entorno do presidente tem tachado o ex-titular da Infraestrutura de traidor, acusando-o de tentar se cacifar como sucessor do bolsonarismo na corrida ao Planalto de 2026.
O fogo amigo no palanque paulista tem crescido com a proximidade da eleição, marcada para 2 de outubro.
As queixas contra Tarcísio têm levado esses bolsonaristas a dizer nos bastidores que vão trabalhar pelo atual governador e candidato à reeleição, Rodrigo Garcia (PSDB). Hoje ele tenta se apresentar como independente, mas o diagnóstico é que, num eventual segundo turno, a disputa paulista pode ficar ainda mais nacionalizada entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Interlocutores do Palácio do Planalto afirmam que Tarcísio assumiu como estratégia de campanha a tentativa de descolar sua imagem da do mandatário. Isso, dizem, expõe sua ingratidão com o presidente, que o escolheu para ocupar uma das maiores vitrines eleitorais do país mesmo sem nunca ter sido testado nas urnas no passado.
Ele também foi alvo de críticas por ter firmado aliança com o PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab, que indicou o vice da chapa. Apesar de o partido em nível nacional não ter oficializado apoio a Lula, Kassab teve reuniões com o petista e é visto como um futuro aliado do PT.
Além disso, a avaliação é que Tarcísio não tem se esforçado para defender a atual gestão federal e que ele marca distância das posições mais radicais do presidente.
O argumento dos que disparam contra o ex-ministro é que, ao focar em sua própria candidatura e em seu futuro político, Tarcísio não tem ajudado a alavancar a popularidade de Bolsonaro em São Paulo.
Assim, em vez de ajudar na missão de alavancar a popularidade de quem o escolheu para disputar o Governo de São Paulo, Tarcísio estaria mais focado na própria candidatura e no próprio futuro político.
Os mesmos críticos de Tarcísio avaliam, porém, que ele será obrigado a defender o governo Bolsonaro com a intensificação da campanha. Uma demonstração disso ocorreu no primeiro debate entre os candidatos a governador, na TV Bandeirantes no domingo (7).
O ex-ministro exaltou a atual gestão federal e, na contramão das queixas de aliados, não escondeu Bolsonaro. Adotou uma postura mais conservadora, abrindo sua participação agradecendo a Deus e à família, como geralmente faz o mandatário.
No debate, ele mencionou Bolsonaro ao responder sobre educação, lembrando que o governo federal perdoou dívidas do Fies (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior).
As críticas contra Tarcísio por aliados do presidente são reforçadas por declarações recentes do ex-ministro. No começo de junho, ele afirmou em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que tem um “perfil diferente” do de Bolsonaro e que não manteve “postura ideológica na condução do Ministério da Infraestrutura.”
Em sabatina realizada em maio por Folha de S.Paulo e UOL, Tarcísio disse que divergiu da postura antivacina do chefe do Executivo e que imunizou sua família contra a Covid-19.
Em outra ocasião, a mais explorada pela extrema-direita para se queixar contra o ex-ministro, ele afirmou que a disputa presidencial entre Bolsonaro e Lula coloca frente a frente “dois titãs” da política brasileira.
“Um ex-presidente [Lula], um atual presidente [Bolsonaro]. Os dois maiores líderes políticos da história recente do Brasil. Duas pessoas que têm conexão direta com o povo”, disse durante evento em São Paulo.
Aliados de Tarcísio defendem o ex-ministro e dizem que o eleitor paulista é mais de centro. Portanto, um ajuste de rumo ideológico seria necessário para ganhar eleição no estado governado pelo PSDB há décadas.
Correligionários do ex-ministro dizem que a equipe de marketing do pré-candidato constatou que ele precisa se equilibrar entre acenos ao eleitor mais fiel ao bolsonarismo e aos paulistas que, embora de direita, repudiam declarações mais ideológicas do presidente.
Por fim, afirmam que Tarcísio não esconderá Bolsonaro de sua campanha, já que precisa do voto bolsonarista. Mas alegam que ele também buscará marcar postura própria em temas polêmicos.
O ex-prefeito Fernando Haddad (PT) lidera a disputa com 34% das intenções de voto, segundo o último Datafolha. Tarcísio e Garcia aparecem empatados, com 13% cada.
A briga se afunilou com a saída do ex-governador Márcio França (PSB) da corrida pelo Palácio dos Bandeirantes.
Para críticos de Tarcísio no bolsonarismo, o objetivo final do ex-ministro é concorrer à Presidência da República como herdeiro do espólio do atual mandatário.
Os críticos usam como argumento um episódio em que, dizem, Tarcísio demonstrou interesse em levar adiante a “missão” de Bolsonaro.
Por um lado, afirmam que o projeto nacional do ex-ministro mira em 2026, depois de um possível mandato como governador de São Paulo.
Por outro, dizem que Tarcísio já sugeriu substituir Bolsonaro na corrida ao Planalto ainda neste ano.
Aliados do presidente contam que, no final do ano passado, Bolsonaro amargava alto índice de rejeição e demonstrava cansaço de enfrentar uma nova corrida ao Planalto.
Nesse contexto, uma ala de pessoas próximas do presidente relata que parte do seu entorno, inclusive militares e o centrão, passou a traçar uma estratégia na qual Tarcísio disputaria a Presidência.
Tarcísio se animou com a possibilidade, afirmam pessoas próximas do presidente, o que foi lido como um gesto de traição. Eles dizem que a movimentação enfraqueceu a candidatura do mandatário.
Nas regras que regem as relações dos aliados de Bolsonaro, fidelidade absoluta é a maior virtude.
A aposta de Bolsonaro por Tarcísio em São Paulo atravessou diferentes etapas. Inicialmente, sua candidatura era vista como “missão” por aliados do Planalto. O diagnóstico é que ele teria poucas chances, servindo apenas para dar um palanque a Bolsonaro em São Paulo.
Na época, Rodrigo Garcia era vice de João Doria (PSDB), que era pré-candidato à Presidência. O tucano acabou desistindo de concorrer ao Planalto.
Tarcísio despontou nas pesquisas em São Paulo, algo que aliados dizem ter ocorrido graças à transferência de votos de Bolsonaro para ele.