Futuro da lateral direita da seleção tem carência, dúvida e grande aposta
Por Gabriel Carneiro, Igor Siqueira e Danilo Lavieiri/Folhapress em 16/12/2022 às 11:50
Problema resolvido com a improvisação de um zagueiro durante a Copa do Mundo, a lateral direita da seleção brasileira é um grande enigma para o futuro. Isso acontece porque entre os dois convocados deste ano, Danilo vê seu futuro justamente na zaga e Daniel Alves se despede da Amarelinha aos 39 anos, abrindo uma lacuna em que não existe consenso para ser preenchida.
Foi a posição que sofreu menos variação no ciclo até o Catar, tanto é que há um ano e meio as convocações circulam entre três nomes. Além de Danilo e Dani, Emerson Royal (Tottenham) também foi testado por Tite, mas não convenceu. Até as últimas horas antes de anunciar os 26 convocados, o agora ex-técnico da seleção tinha dúvida se chamava só um lateral-direito, já que Militão era opção no setor -como, de fato, teve chance de jogar e foi bem.
Até Cafu, capitão do pentacampeonato mundial e dono da posição por mais de dez anos, elogiou o improviso: “Estivemos muito bem representados pelos laterais que lá estavam, Daniel Alves, Danilo, Alex Sandro e o próprio Militão, que foi adaptado na lateral. O problema da seleção não foi falta de laterais.”
A carência na lateral direita é tão profunda que a seleção brasileira sub-20 vai disputar o Sul-Americano da categoria entre janeiro e fevereiro do ano que vem com apenas um jogador da posição. O técnico Ramon Menezes escolheu Arthur, do América-MG. Na esquerda são dois, como normalmente acontece.
Arthur tem 19 anos e está no América-MG desde março de 2018. Ele foi integrado ao time profissional neste ano e ganhou algumas chances no Brasileirão com o técnico Vagner Mancini.
Grande aposta está no Real Madrid
Em agosto, a CBF divulgou um documento elaborado pelo Centro de Pesquisa e Análise (CPA) das categorias de base masculina da seleção com números e dados sobre o processo de observação técnica e convocações durante o período de janeiro de 2021 a julho de 2022. É uma espécie de previsão sobre jogadores que podem ser importantes nas Olimpíadas de Paris 2024 e Los Angeles 2028 e nas Copas do Mundo de 2026 e 2030.
Entre dez atacantes e seis meio-campistas, há somente um lateral-direito: Vinicius Tobias, de 18 anos.
Tobias é campeão sul-americano sub-15 com a seleção em 2019, defendeu o Internacional por seis anos e ainda na base foi vendido para o Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, por cerca de R$ 37 milhões. Poucos meses depois, no contexto da guerra contra a Rússia e sem jogos, o time ucraniano decidiu emprestar o lateral para o Real Madrid.
No time B do gigante espanhol, o brasileiro nascido em 2004 joga com frequência e já ganhou elogios do treinador, que é o ex-atacante Raúl González. O contrato de empréstimo vale até o meio do ano e a cláusula de compra é de mais ou menos dez milhões de euros (R$ 56,8 milhões). Jornais espanhóis já informam que a tendência é que Vinicius Tobias fique no Real.
Quem mais pode ganhar chance
Vinicius Tobias ainda tem 18 anos, mas existe uma geração um pouco mais velha de olho em chances imediatas no próximo ciclo da seleção brasileira, a começar por Emerson Royal, de 23 anos. Outro jogador bem avaliado pela comissão técnica de Tite e que passou perto de convocação nos últimos meses foi Vanderson, ex-Grêmio, atualmente no Monaco. Ele tem 21 anos.
Dodô, de 24 anos, ex-Coritiba, está em sua primeira temporada na Fiorentina depois de ser comprado por quase R$ 80 milhões e já é titular. Matheuzinho, de 22 anos, também passa a ser alternativa se tiver uma temporada de consolidação no Flamengo. Yan Couto tem 20 e tenta se firmar na Europa para se candidatar ao posto na seleção. Ele é do Manchester City, emprestado ao Girona.
Há opções já consolidadas, mas que podem chegar à Copa do Mundo da América do Norte em 2026 já numa faixa etária avançada: Gilberto (29 anos, do Benfica), Fagner (33 anos, do Corinthians), Marcos Rocha (34 anos, do Palmeiras) e Rodinei (30 anos, recém-contratado pelo Olympiacos-GRE).
Na Copa, posição ficou sem brilho
Os três jogadores usados na lateral direita da seleção brasileira durante a Copa do Mundo passaram longe de ser problemas, mas também não brilharam, seja Danilo, Daniel Alves ou o improvisado Militão. No geral, inclusive nas outras seleções, a posição não concentrou grandes destaques individuais.
O marroquino Hakimi talvez seja o principal nome da Copa. Inteligente na ocupação de espaços e na construção de jogadas, chamou atenção também pela velocidade e pelas tabelas rápidas na criação de jogadas com Ounahi e Ziyech.
Marrocos disputa o terceiro lugar da competição neste sábado (17), contra a Croácia de outro destaque da lateral: Juranovic, este de características mais defensivas. Nas quartas de final contra o Brasil, o jogador apelidado de “Jura” por sua torcida marcou Vini Jr com eficiência.
Entre as finalistas Argentina e França, a lateral direita foi uma dor de cabeça. A Argentina começou a Copa com Molina, depois Montiel e aí voltou para Molina. Já a França começou com Pavard, mas ele perdeu espaço por opção técnica e Koundé, que é zagueiro no Barcelona, assumiu a posição improvisado. Nenhum foi brilhante ou desequilibrou no torneio.
Os dois melhores do Campeonato Inglês, que é o torneio mais valioso do mundo, foram coadjuvantes: o português João Cancelo, do Manchester City, perdeu a titularidade para Diogo Dalot; enquanto o inglês Alexander Arnold, do Liverpool, ficou na reserva de Kyle Walker.