Sete anos depois, escritório da Petrobras em Santos não impulsiona economia local
Por Rodrigo Martins em 22/08/2021 às 12:43
Sete anos após a construção da primeira torre da Petrobras no Valongo, em Santos, a estatal reduziu a sua presença na cidade e não levou adiante a construção de mais dois prédios da companhia, no que seria a ampliação dos negócios da petrolífera na região.
Em Santos, as medidas adotadas pela direção da estatal apontam para um esvaziamento paulatino de suas atividades no Edifício Valongo. O prédio foi criado para ser uma espécie de QG das operações de exploração e produção de gás e petróleo das plataformas da Bacia de Santos, mas seu papel estratégico vem sendo ameaçado com o envio de funcionários da estatal para outras praças, principalmente o Rio de Janeiro.
“Primeiro nós temos que entender que existem interesses políticos. A Petrobras, notadamente, sempre foi centrada no Rio de Janeiro. Seus escritórios administrativos são responsáveis pelas movimentações da empresa. No caso de Santos, isso poderia ter trazido um ganho gigantesco para a economia local, tanto com a locação de prédios, quanto na movimentação de trabalhadores. Tudo que envolve a Petrobras, direta ou indiretamente faz a economia girar”, disse o coordenador-geral do Sindipetro-LP e secretário-geral da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP), Adaedson Costa, em entrevista ao Santa Portal.
Economista cita escândalos na Petrobras
Já para o economista Gabriel Sarmento Eid, o escândalo do ‘Petrolão’ e os desdobramentos da Operação Lava Jato contribuíram para que a Petrobras adotasse uma nova linha e realizasse ajustes em seu planejamento estratégico sobre o desenvolvimento em outras regiões do país.
“Desde o início sempre foi algo conturbado. Eu me lembro como se fosse hoje da inflação nos imóveis que a notícia gerou, do boom nas novas construções residenciais por toda a Baixada Santista, foi bem desproporcional na realidade. Desde o início do anúncio foi exagerada a reação do mercado e da economia local da região, foi-se o tempo em que esses tipos de eventos econômicos geravam tamanho impacto”.
“O excesso de otimismo e a nova forma como a Petrobras vem sendo gerida resultaram no que vemos hoje: a Petrobras não é uma simples estatal, é uma S/A com responsabilidades perante seus acionistas. Isso aliado aos impactos da Lava Jato e outras investigações fizeram com que a gestão da empresa reduzisse bastante seu impacto social e investimentos, o que levou a redução de custos e despesas. Consequentemente, levando ao tímido impacto dela na economia de Santos e de outros locais em que ela tinha escritórios como o de Macaé-RJ, que passou por um processo semelhante. Uma tese da Unicamp demonstra o saldo negativo da Lava Jato sobre o investimento da Petrobras na nossa economia e que demonstra que a devolução para o poder público de dinheiro desviado não compensou ainda”.
Gabriel Sarmento Eid, economista
Poder público também tem culpa
O economista aponta os caminhos que seriam necessários para uma retomada do escritório santista da estatal, de forma a alavancar o desenvolvimento na região.
“Para haver uma grande alteração no panorama do Valongo seria preciso um projeto de recuperação predial e econômica em parceria com as empresas de Santos e o poder público, não somente a Petrobras. Na economia competitiva de hoje em dia as empresas não podem se dar ao luxo de não ter lucro, muito menos apenas uma empresa assumir todo o risco de um projeto dessa magnitude. Portanto, se quisermos ver mudanças somente a ação pública em parceira com o capital privado será capaz de fazer essas mudanças acontecerem”, explicou.
Adaedson também vê a vontade política como um ponto fundamental a se trabalhado para que o escritório de Santos tenha um papel de protagonismo econômico.
“A gente tem que envolver o prefeito, o governador do Estado e os nossos representantes lá no Congresso para exercerem a pressão para que a as atividades do pré-sal sejam desenvolvidas necessariamente aqui na região da Baixada Santista. Caso contrário, os investimentos locais vão reduzir drasticamente porque, tanto o corpo administrativo como o corpo técnico, em sua grande parte, foram transferidos para o Rio de Janeiro”, comentou.
Sindicalista diz que pandemia tem baixo impacto nas decisões
Apesar disso, o economista não vê a situação da Petrobras como a maior responsável pela queda da economia na região durante a pandemia.
“Os impactos de curto prazo serão mais locais, quem mais vai sofrer é a economia local, mas como o protagonismo da empresa já não é mais tão grande e a desaceleração da economia em decorrência da pandemia é bem mais gritante, o impacto específico da Petrobras também não será tão relevante quanto a combinação de efeitos negativos que estamos vivendo”, analisou.
Enquanto para o sindicalista, a pandemia tem pouca participação nesse esvaziamento das operações da Petrobras em Santos. “A região estava recebendo um investimento maciço e tínhamos todo um investimento a médio e longo prazo. Começou a sair o Aeroporto de Itanhaém, houve o dobro de investimento na refinaria de diesel de gasolina na Refinaria Presidente Bernardes, em Cubatão. A maior parte da região seria contemplada, mas a partir de 2015 houve uma mudança na política da empresa com a história que todo mundo sabe (Petrolão). Houve um esvaziamento no coração do pré-sal e as pessoas foram sendo enviadas de Santos para o Rio de Janeiro. Essa mudança de diretriz teve impacto nas operações da Petrobras, principalmente no que se refere ao pré-sal, e isso não tem nada a ver com a pandemia”, concluiu Adaedson.
A reportagem entrou em contato com a assessoria de imprensa da Petrobras, que não se manifestou até a publicação desta matéria. Assim que houver um posicionamento, será incluído na íntegra neste espaço.