"Temos que ter uma perspectiva boa sobre qualquer tipo de cenário", Bruno Reis, psiquiatra
Por Ted Sartori/#Santaportal em 25/03/2020 às 08:38
CORONAVÍRUS – Chefe do serviço de Psiquiatria da Santa Casa de Santos, o médico psiquiatra Bruno Reis participou da edição de hoje do Bom Dia Cidades, da Santa Cecília TV, e também conversou com o #Santaportal sobre os problemas das pessoas em meio à reclusão forçada pelo Covid-19. Na entrevista, o profissional dá orientações de equilíbrio para as pessoas e aponta aspectos positivos que surgem diante dos problemas.
Como a psiquiatria pode atuar em favor do equilíbrio das pessoas nesse momento que o mundo vive em razão do coronavírus, com reclusão e possíveis problemas financeiros?
O importante é passar a mensagem para as famílias e as pessoas que estão em quarentena, em isolamento, que a gente precisa manter nosso equilíbrio emocional. Razões para a gente perder o equilíbrio existem desde antes do advento do coronavírus. O que temos que fazer agora que vivemos uma nova realidade, em que estamos de uma maneira forçosa mantendo-se dentro de casa? Temos algumas regras que podemos seguir para ajudar a manter esse equilíbrio. A primeira delas é que, se você faz qualquer tipo de tratamento médico, mantenha, com as orientações de seu médico. A segunda é que você não se automedique, que não busque tentar tratar os sintomas eventuais que você possa ter de momentos de ansiedade ou de tristeza em função dessa quarentena. A terceira é que você mantenha uma rotina. Isso é muito importante. Que você estabeleça horários para trabalhar, para se alimentar, para passar com a família, que está dentro de casa, para você trabalhar, para aquele que está em home office, e acima de tudo que a gente não perca a esperança. O combate a essa pandemia depende de cada um de nós. Ela está em nossas mãos, literalmente. Se cada um fizer o seu papel, a gente consegue sair mais rápido dessa quarentena.
Já houve procura pedindo sua ajuda profissional em razão de problemas relacionados?
Sim, os pacientes do consultório e da clínica têm buscado bastante os nossos serviços. A gente tem buscado pelas redes sociais também transmitir algumas dicas e orientações aos pacientes e à população em geral. É importante também a gente ter uma perspectiva boa sobre tudo isso de ruim que está acontecendo. Temos oportunidade de nos reconectar com nossa família, de se reconectar com as pessoas que a gente ama. A gente sempre reclama que não tem tempo para nada, que não tem para ver aquela série, ler aquele livro, para conversar com os filhos e com nossos pais e, de maneira forçosa, é óbvio, a gente tem essa oportunidade agora.
É aquele momento em que a pessoa tem de usar a reclusão em seu favor?
Isso. A gente tem que ter uma perspectiva boa sobre qualquer tipo de cenário e, aproveitando que a gente está nesse período sabático, por que não a gente correr atrás de tudo aquilo que a gente almejava antes de acontecer essa pandemia e não conseguíamos? É só a gente conseguir se organizar, acertar nosso tempo, uma rotina e entrar em contato com as pessoas que a gente mais ama que são as da nossa família.
Dentre as pessoas que procuram sua ajuda profissional, do que elas mais têm medo?
O brasileiro é classificado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como a nação mais ansiosa do mundo. Nove por cento das pessoas no Brasil têm o diagnóstico confirmado de Transtorno de Ansiedade. Agora, imagine para alguém que está sempre preocupado com alguma coisa aparecer algum tipo de conteúdo novo que faz com que a gente fique cada vez mais preocupado. Orientamos essas pessoas a justamente buscar outro tipo de atividade ou ocupação. Temos diversos cursos e oportunidades para conseguir passar esse tempo e não deixar que essa preocupação tome conta do nosso pensamento.