Mãe e filho morrem por Covid-19: "Não quero que ninguém mais passe por isso", diz filha
Por Ted Sartori/#Santaportal em 28/04/2020 às 10:37
CORONAVÍRUS – A técnica de enfermagem Maria Carolina Novaes, de 39 anos, vive um drama familiar em razão do novo coronavírus. Depois de perder para a doença o irmão, o vigilante Luiz Fagner Dias Novaes, no dia 12, agora foi a vez da mãe Alzira Novaes, que completaria 59 anos em agosto e morreu por volta das 13h30 de ontem, duas semanas depois do filho. Ela estava internada na UTI destinada à Covid-19 no Hospital Guilherme Álvaro, em Santos. O sepultamento aconteceu hoje pela manhã, no Cemitério Morada da Grande Planície, em Praia Grande.
“Há quatro dias, minha mãe recebeu transfusão e ficou estável. Tanto que iniciou anteontem fisioterapia para ser extubada (retirar o tubo). No entanto, a parte pulmonar dela piorou e o médico, na hora do boletim, emitiu o aviso de grave”, lembra Maria. Ela e a irmã Fernanda, que tem 34 anos e é professora, também tiveram o novo coronavírus. “Eu estava na Beneficência Portuguesa, em Santos, e tive alta no dia 11. Minha irmã ficou internada no Hospital Frei Galvão, também em Santos, por dois dias, mas sem sequelas”, emenda.
O despachante Silvio Novaes, o pai, de 61 anos, teve um AVC (Acidente Vascular Cerebral) em 20 de março, ficou internado no Hospital Municipal de Cubatão e teve alta dez dias depois. Ele está acamado, não conseguiu ir ao sepultamento e, ciente de tudo, tenta aceitar, na medida do possível, o momento triste pelo qual passa a família.
“Ele acreditava que ela ficaria bem. Todos nós acreditávamos…Agora somos eu, meu pai, irmã, filha, cunhada e dois sobrinhos. Vou me mudar para a casa do meu pai para ajudar a cuidar dele. Alterei meu horário no serviço para ajustar com o da cuidadora e tentar levar a vida, pelas crianças”, conta Maria Carolina. Eles moram em Praia Grande, no mesmo bairro. “Como ele é autônomo e não tem renda, eu e minha irmã vamos dividir as despesas”, emenda.
Quando Silvio teve um AVC, Maria Carolina, o irmão Luiz, a irmã Fernanda e a mãe Alzira se revezavam como acompanhantes dele. “Em 1 de abril, dia seguinte à alta dele, um paciente que estava no mesmo quarto que ele faleceu de Covid-19. Então, acreditamos que nos contaminamos no hospital”, observa Maria Carolina. No quinto dia de hospitalização dele, Alzira, Maria Fernanda e Luiz começaram com sintomas ligados à doença.
“Eu e minha mãe chegamos a melhorar, mas meu irmão internou. Depois, no dia 7, minha mãe internou no Hospital Irmã Dulce, em Praia Grande. Em menos de 40 minutos, fez todos os exames e subiu para a UTI. Foi a última vez que a vi. No dia 9, tanto minha mãe quanto meu irmão foram entubados. Ele ficou internado no Hospital da Transmontano, em São Bernardo do Campo, e teve falência múltipla de órgãos e minha mãe foi transferida para o Guilherme Álvaro, onde morreu ontem”, detalha a técnica de enfermagem.
Ontem, Maria Carolina Novaes fez uma postagem emocionada em sua conta no Facebook. “Ah, mãe…Por que tinha que ser assim? Não tivemos como nos despedirmos. Que o Senhor te receba de braços abertos, agora você está com seus meninos e nós cuidarmos do pai”, dizia um trecho do texto. “Não quero que ninguém mais passe por isso. É triste”, emenda a técnica de enfermagem.
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