Conheça a nova espécie de raia-manta com nome inspirado em lenda folclórica brasileira

Por Laeticia Bourgeois em 20/11/2025 às 13:00

Foto: Roberto Amarante Costa Pinto/Projeto Mantas do Brasil
Foto: Roberto Amarante Costa Pinto/Projeto Mantas do Brasil

Cientistas brasileiros, em colaboração com pesquisadores do México e da Flórida, identificaram uma nova espécie de raia-manta que habita águas tropicais do Oceano Atlântico. Batizada em homenagem à Iara, figura do folclore brasileiro, a Mobula yarae chama atenção por suas características únicas, hábitos costeiros e, sobretudo, por já surgir como mais uma espécie rara sob ameaça de extinção.

A descoberta foi fruto de uma pesquisa que já acontece há muitos anos, e não somente no litoral brasileiro, mas em outras partes do atlântico. “Essa raia aparece em quase todo oceano atlântico, principalmente nas regiões tropicais e subtropicais. Elas não costumam ir para águas frias (águas temperadas)”, explica Letícia Schabiuk, coordenadora executiva do Projeto Mantas do Brasil. 

O Projeto Mantas do Brasil, sediado em Santos, voltada à pesquisa e preservação desses animais, colaborou na descoberta da nova espécie.

Principais diferenças entre as espécies

As principais diferenças são as características morfológicas. Elas são um pouco menores do que as raias-mantas oceânicas (ocorre em todos os oceanos). O tamanho médio dela é de 5 metros de envergadura. “É uma raia intermediária entre as demais espécies, a maior delas podendo chegar a 7 metros. Todas pesam mais de uma tonelada”, conta Letícia. “Não se sabe ao certo a expectativa de vida, mas acredita-se que elas vivem até 40 anos.”

Algumas características corporais também são diferentes: as manchas ventrais da barriga (meio de fotoidentificação das raias-mantas) são mais claras e não possuem tantas manchas. No dorso, possuem uma mancha branca em formato de V. 

“A outra espécie, Mobula birostris, possui uma mancha em formato de T, e outra espécie – que ainda não ocorre no Brasil -, Mobula alfredi, tem formato de Y.”

Distribuição e habitat 

A Mobula yarae se encontra distribuída entre os oceanos tropicais e subtropicais, e existe ocorrência da espécie na Baixada Santista. Existe um único registro no litoral paulista dessa espécie, de um espécime encontrado morto e encalhado em Cananéia. “Infelizmente estava morto. Provavelmente teve contato com a pesca, pois estava com as nadadeiras decepadas”, conta Letícia.

“Acreditamos que a distribuição dessa espécie ocorre desde o sul do litoral paulista até o litoral da Flórida, passando por todo o litoral brasileiro e pela região do Caribe, mas a maior concentração dela é em Fernando de Noronha”, concluiu. 

Outra diferença se refere ao habitat da nova espécie – encontrada em regiões mais costeiras, principalmente em ilhas. Não é uma espécie oceânica, diferente da Mobula birostris – espécie migratória e a maior delas -, e geralmente ficam próximas de recifes. “São ambientes importantes pro ciclo de vida delas: alimentação, reprodução, agregações. É uma espécie de que tem uma vida solitária”, comenta a coordenadora. 

A origem por trás do nome

O nome da nova espécie carrega um simbolismo especial. Por se tratar de um trabalho liderado por pesquisadores brasileiros, foi escolhida uma referência cultural forte: Iara, personagem folclórica que representa a proteção dos rios e mares.

Raridade e risco de extinção

A Mobula yarae é considerada uma espécie rara – e como todas as espécies de raias-mantas, está ameaçada de extinção (a Mobula alfredi, que não ocorre no Oceano Atlântico, corre um pouco menos de risco). “Tudo o que se sabe hoje sobre risco e ameaça à extinção era considerado apenas uma espécie. Então esse cenário é ainda mais drástico. Por ser um espécie recém descoberta, ainda não consta no status de conservação nacionais e internacionais. Por isso, não sabemos o grau de risco dessa espécie, apenas que é bem crítico”, afirma Letícia.

As raias-mantas são prejudicadas por diversos fatores: 

  • Poluição dos oceanos
  • Pesca acidental (bycatch), quando é capturada sem intenção, sem ser o alvo da pescaria 
  • Pesca intencional – (mais comum em outros países), para uso de guelras na medicina tradicional asiática
  • Mudanças climáticas – que afetam diretamente a qualidade da água e a disponibilidade de presas (são animais filtradores) 
  • O turismo insustentável e tráfego irregular de barcos, que podem causar colisões e ferimentos nos animais 

No que diz respeito à atividade portuária, não existem estudos que afirmam a ameaça. O que se sabe é que algumas ações de gestões costeiras acabam trazendo um impacto negativo ao meio ambiente, mas não se sabe ao certo os impactos a essa espécie. 

O que pode ser feito para evitar extinção 

No Brasil, já existem leis de proteção para as raias-mantas:

  • Instrução Normativa Interministerial nº 2 (2013): Proíbe a pesca, transporte e comercialização de todas as espécies da família Mobulidae em águas brasileiras.
  • CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas): As raias-mantas estão listadas no Apêndice II, com comércio internacional rigorosamente controlado para evitar ameaças à sua sobrevivência.
  • Lista Vermelha da IUCN (2020): Classifica as raias-mantas como “Ameaçadas de Extinção”.

Além disso, Letícia destaca a importância da educação ambiental e da divulgação científica. “Quanto mais as pessoas souberem da existência e da importância desses animais, maior a chance de sensibilização da sociedade e de pressão por políticas públicas eficazes.” 

A pesquisadora também ressalta que, caso a espécie entre em um estado crítico de extinção, existe a possibilidade de reprodução artificial em cativeiro – embora difícil e desafiadora, já que se trata de um animal de grande porte. “Mas não é impossível, afinal, hoje já existem aquários que mantêm espécies ainda maiores em cativeiro com sucesso”, conclui. 

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