Aos 4 anos, Olavo fala várias línguas e faz cálculos de cabeça; família busca escola adequada
Por Bárbara Silva em 23/08/2021 às 20:31
Com pouco mais de um ano, o pequeno Olavo, hoje com quatro, já falava os números em inglês, contava até 100 e pronunciava todas as cores. A mãe, a analista fiscal Janaína Albuquerque, 34, acreditou que ele estava apenas reproduzindo o que aprendeu no desenho animado Bob e o Trem, como todas as crianças costumam fazer.
Um dia, Janaína estava na farmácia com Olavo, e ali perto parou um carro de polícia. Como toda criança curiosa, ele desvendou o que estava escrito na porta do veículo: “Po-lí-cia”. Acontece que, na época, ele tinha apenas um ano e oito meses.
Uma semana depois, o esposo de Janaína brincava com Olavo, quando o menino leu a frase inteira que estava escrita na camiseta. Nisso, Janaína e o marido olharam um para o outro, e foi aí concordaram que havia algo diferente no filho.
Olavo apresenta um grau mais leve dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA), e tem acompanhamento com uma psicóloga e fonoaudióloga.
Segundo a fonoaudióloga clínica Dulce Craveiro, que faz o acompanhamento de Olavo, este tipo de habilidade não é comum para a idade. No grau de autismo dele, explica, “são crianças que têm mais habilidades que os autistas comuns, se comunicam bem, mas têm dificuldade de se colocar no lugar do outro ou falar em público”.
O grande desafio, ela afirma, é ensinar a criança a lidar com crianças e situações da idade dela, sem diminuir suas altas habilidades. E as escolas, segundo Dulce, não estão preparadas para isso.
Ideal
“O ideal é colocar a criança numa escola normal, ela tem que aprender a lidar com as situações normais do dia-a-dia. O Olavo tem altas habilidades, escreve bem, fala inglês muito bem, tem diálogo. Não pode tirar isso dele, porque lá na frente, como adulto, vai ter um diferencial.”
Olavo, ela descreve, é uma criança muito amorosa e educada. “Sempre cumprimenta, fala, ‘Boa tarde, como vai?'”
Além da leitura, Olavo tem habilidades com idiomas e matemática. O menino consegue fazer operações de adição, subtração, multiplicação e divisão, até mesmo de cabeça, e gosta de lógica e quebra-cabeças.
Nas redes sociais, ele fala palavras e frases em várias línguas, como inglês, espanhol, francês e russo. “Como ele era bebê”, relata Janaína, sobre a época em que ele começou a falar outras línguas.
“O YouTube vai levando de um vídeo a outro. Ele via Bob e o Trem em português e espanhol. Quando começou a ler, ele já colocava formas em francês e japonês”.
Segundo a fonoaudióloga, o inglês dele tem o sotaque de uma pessoa nativa. “Todo autista tem uma facilidade para línguas, e o inglês tem uma sonoridade que facilita”.
“O Olavo além de falar, entende, conversa. Ele tem um dom para línguas, e que bem trabalhado, ele terá um futuro maravilhoso. Mas a gente precisa de um lugar bacana pra ele caminhar, ser bem tratado. A escola é muito importante porque é onde ele passa maior parte do tempo”, afirma Dulce.
Olavo na escola
Olavo entrou na creche aos sete meses, pois Janaína precisava trabalhar. Ao longo dos anos, não teve grandes problemas. No entanto, quando a família procurou um fonoaudiólogo e um neurologista, pediram relatório para a escola. Nele, foi apontado que Olavo não interagia com as outras crianças e tinha dificuldade em algumas tarefas.
Segundo Janaína, a escola não fazia uma adaptação no ensino para Olavo. A maioria das crianças em sua idade está no começo da alfabetização, e ela acredita que o método usado pode desanimar o menino a estudar.
“Eles justificavam que era por conta da pandemia, que a escola teve que abrir e fechar, só que eu comprei o material todo”, conta. Ela tirou Olavo da escola, por conta das dificuldades.
“O Olavo além de falar, entende, conversa. Ele tem um dom para línguas, e que bem trabalhado, ele terá um futuro maravilhoso. […]”
Dulce Craveiro, fonoaudióloga clínica
Agora, ela busca uma escola que possa fazer essas adaptações no método para atender Olavo e exercitar suas habilidades. “Uma escola bilíngue, que tivesse esse método, interagisse mais. E uma estrutura que tenha um psicólogo que ajude a fazer essa adaptação, pois em uma escola comum ele não vai querer ir”, explica.
Mas as escolas neste padrão custam muito caro. Por isso, foram criados canais nas redes sociais para ajudar a encontrar uma escola que ofereça uma bolsa e possa atender Olavo e ajudá-lo com suas habilidades. Nas redes sociais, as postagens ainda promovem a adoção de um ensino inclusivo para crianças do espectro autista.