Thami lança álbum Labirinto e quer "curtir o momento"
Por Gustavo Sampaio em 01/09/2024 às 13:00
Explorando temas mais intimistas, como a solidão, perseverança e coragem, a cantora Thami lançou o seu primeiro álbum autoral, Labirinto.
Thami começou a carreira musical participando de projetos como Proteja Seus Sonhos 2, da Som Livre, fez parte do coral da Iza no prêmio Multishow e também foi backing vocal da Tuany Zanini no show do Rock in Rio 2019.
A trajetória de Thami também inclui um EP e alguns singles, que somados atingiram mais de 3 milhões de plays nas plataformas digitais. Ainda sim, a cantora almejava mais e após ter algumas faixas já escritas decidiu mudar para São Paulo para construir e lançar o que imaginava ser um EP. A decisão foi difícil, mas certeira, trouxe novas influências, sons e contatos, começando pelo produtor Julio Mossil que deu um belo norte ao seu trabalho.
Em entrevista para o Santa Portal, Thami contou como a mudança para São Paulo influenciou seu ritmo e música, além do processo de produção do álbum e possíveis shows pelo Estado. Confira a íntegra da entrevista abaixo.
Como Labirinto reflete na sua jornada pessoal e profissional até aqui?
Acho que a ideia de construir o álbum veio a partir do momento que me mudei para São Paulo. Precisei abrir mão da minha rede de apoio, minha casa, minha família, vim porque entendi que aqui era o lugar onde teria mais possibilidades. Precisava fazer uma escolha e fiz essa escolha, só que o custo disso é muito alto, né? De você sair da sua zona de conforto, assim.
Acho que, no geral, para qualquer pessoa, você sair do seu lugar de conforto é muito ruim. Porque você está em um lugar desconhecido, com pessoas desconhecidas e ter que construir tudo de novo é muito complexo.
Então, acho que o Labirinto começou aí, deste movimento de sair do Rio e vir para São Paulo. E a partir das sensações, dos sentimentos que ia tendo, comecei a escrever.
E fui transformando isso em música. Então é um álbum que fala sobre as sensações que a gente tem por esse caminho. Acho que todo mundo está procurando alguma coisa, está indo atrás de alguma coisa, em busca de algo, de algum sucesso. Seja profissional, pessoal e a gente nunca tem certeza se a gente vai conseguir alcançar aquilo que a gente busca. A gente só tem certeza do aqui e do agora.
É um álbum que fala sobre isso, sobre você aproveitar o processo, o caminho. Porque você não sabe se você vai chegar, então está tudo bem se você precisar voltar algumas casas. Está tudo bem se você sentir saudade, tudo bem se você explorar.
Se algumas pessoas que caem pelo caminho faz parte, faz parte do Labirinto. Acho que misturou o sentimento que tinha de vida pessoal, o que estava sentindo naquele momento e quis aproveitar esse sentimento e transformar em canção.
Foi um momento que me marcou muito e me trouxe muita maturidade mesmo, foram vivências muito importantes que precisava mesmo passar por aquelas situações para crescer, tanto profissionalmente quanto pessoalmente. E consegui colocar isso dentro de uma obra, dentro de um álbum.
Você falou dessa sua mudança do Rio para São Paulo. Isso influenciou a sua sonoridade de alguma forma?
Acho que esse estar só foi muito importante na questão profissional. Porque quando você está sozinho, ou você usa isso a seu favor ou você fica depressivo, literalmente não tem um meio do caminho. Então consegui usar isso a meu favor.
Comecei a estudar muito, a pegar muita referência. Aqui em São Paulo acho que a cultura é muito rica, o que você quiser você tem show de segunda a segunda, então comecei a frequentar mais casas de show, assistir shows de outros artistas. Fui me alimentando de música e isso me enriqueceu muito na hora de construir um álbum, a parte sonora dele ficou completamente diferente, as pessoas até têm comentado isso comigo e de como está maduro o álbum. Acho que essa maturidade tem muito a ver com essa minha vivência aqui, de mergulhar mesmo na música.
Eu não tinha muito o que fazer na verdade, e na minha cabeça era isso. Vim aqui para isso, então era para esse lugar que tinha que ir. Não vim aqui em busca de fazer novos amigos, claro que acho que isso é consequência, conheci pessoas incríveis, mas não foi esse o meu objetivo, meu objetivo desde o minuto um era conseguir aumentar e ampliar o meu trabalho. Acho que tenho conseguido.
Às vezes a gente olha para o trabalho e acha que deveria estar em outro lugar e se sente um pouco inferior, mas se a gente for olhar cada parte e cada micro vitória a gente percebe o quão grande a gente já está, o quanto a gente já caminhou. Então tento olhar para isso, olhar para essas micro vitórias, que vêm sempre. Micro vitórias que vêm todos os dias, mas às vezes elas passam batidas, porque também tem muitas micro derrotas no caminho, então a gente acha normal do ser humano mesmo olhar sempre para a coisa ruim com mais verdade do que para as coisas boas.
Labirinto tem faixas que exploram temas como coragem, solidão, incerteza e perseverança. Qual dessas mensagens você acha mais urgente nos dias de hoje?
Acho que o Talvez que foi a faixa que escolhi para puxar o álbum amarra muito bem na minha cabeça, faz muito sentido. No final das contas, a gente está sempre procurando alguma coisa, como eu te disse. Só que a gente nunca tem certeza se a gente vai encontrar aquela coisa, então se a gente curtir o momento, se a gente vai se divertindo pelo caminho, as coisas ficam mais leves e ficam mais fáceis.
E, nesse processo todo, consegui entender que o sofrimento vem, e ele vai vir sempre e é muito doloroso, mas ele não te mata. Acho que ninguém morre de amor, termino a música falando isso, Ninguém morre de amor, mas o remédio é caro, caro mesmo. O custo disso é muito alto, é muito doloroso, mas isso ao mesmo tempo que te machuca, também te faz crescer, essa música consegue amarrar bem nisso.
A gente não vai morrer de sofrer, vamos ver o que esse sofrimento pode trazer de bom para a gente, olhar para o lado bom. Essa faixa é a faixa que mais passa a mensagem, acho que ela puxando faz muito sentido, e o mesmo que eu volte fechando o álbum também faz muito sentido.
Porque o refrão fala exatamente isso, deixa que o tempo vai curar tudo que tiver que curar, e o que tiver que ser vai ser. E mesmo que volte para aquele lugar que estava de sofrimento e de tristeza, eu não vou ser mais a mesma pessoa, não vou voltar atrás porque já mudei as minhas convicções.
Já mudei a minha cabeça, já cresci, é um álbum que ressalta bastante as questões de solidão e de sofrimento, mas ao mesmo tempo que ele evidencia isso, ele também te mostra uma luz, te mostra que existe caminho depois da dor. Acho que essa é a mensagem que fica.
Você mencionou que o produtor Julio Mossil deu um norte ao seu trabalho. Como foi essa parceria e o que ela trouxe de novo para o seu som?
Vim para cá e não conhecia ninguém e um amigo em comum que já tinha trabalhado com ele, falou: “procura o Júlio, porque o som dele tem muito a ver com o que você faz, combina muito contigo, procura ele, ele vai poder te ajudar”.
Na primeira semana, já mandei uma mensagem, perguntei se ele podia me receber no estúdio dele, que queria mostrar os trabalhos e tudo mais, ele super abraçou as minhas músicas.
A primeira que produzi foi com ele, que gostou muito do trabalho e foi me indicando outras músicas. Ele é uma pessoa bem fluente aqui nesse meio musical. Me apresentou ao Bernardo Massot, que produziu outra faixa, o filmmaker, que produziu os clipes também. Foi um ponto de luz, literalmente, para que pudesse desbravar o meu trabalho. Ele foi muito mais do que um produtor, acabou que a gente virou amigo.
A gente é muito próximo, a esposa dele também é cantora e a gente criou uma relação de muita amizade. Durante esse processo eles me acolheram não só na música, mas na vida pessoal, perceberam que estava sozinha e me deram um suporte emocional que foi primordial para concluir o que tinha que concluir.
Foi realmente muito importante, fora a sonoridade. Como ele é daqui de São Paulo, é muito diferente o jeito de trabalhar, nunca tinha trabalhado com nenhum produtor de fora, é um estilo diferente, com referências completamente diferentes e foi muito importante para mim explorar isso, conhecer novos sons.
Ele trabalha muito com rappers, é muito do universo do hip hop, que é um universo que tinha zero contato, pude entrar um pouco nesse mundo e entender como funciona, foi muito enriquecedor mesmo essa parceria.
O álbum mistura R&B, soul, pop, afrobeat e ritmos brasileiros. Quais foram as influências que guiaram essas escolhas musicais?
Queria trazer uma sonoridade mais brasileira desde sempre. Quando tive a ideia de construir um álbum, queria trazer um pouco mais de sons brasileiros, porque as músicas que tinha lançado anteriormente não tinham tanta sonoridade brasileira. Elas tinham pegado muitas referências da gringa, queria trazer um pouco mais do Brasil para o meu som.
A percussão queria que tivesse muito presente, sabia que seria isso que ligaria uma faixa na outra, isso já estava muito claro comigo. Além dessa sonoridade brasileira, quis trazer um pouco de referências que me marcaram. O samba é uma coisa que me remete muito a infância, não venho de uma família de músicos, a única experiência que tenho de música dentro da minha família era um churrasco, que acontecia nos finais de semana, no quintal da minha avó, e os meus tios tocavam umas percussões, era um pagode, um samba. Essa é a única memória musical que tenho familiar e quis trazer isso para dentro do álbum, como parte da minha história.
Estava falando do meu labirinto, acho que dentro do meu labirinto tinha que ter essa sonoridade que também me trazia de volta para o Rio de Janeiro, o meu lugar de origem, de onde estava longe. Ouvir essa faixa me remete muito ao Rio.
Essa coisa da saudade, de não estar perto, de ser um lugar confortável. Quis juntar isso, comecei o álbum, com Deixa Queimar, que foi uma faixa que lancei como single e foi proposital, esse lançamento como single, porque queria uma faixa que fizesse esse link da Thami do EP Nua para a Thami do Labirinto.
E achei que essa faixa foi a que melhor fez esse movimento, porque se você a escuta, consegue voltar lá para o Segue o Baile, que era o nome que puxava o meu EP, mas você também ficou para a parte B da música.
Você consegue entrar dentro do Labirinto, que é o álbum. Em resumo, ela tem essas duas vertentes que fazem essa ligação, para mim ela tinha que vir primeiro mostrando essa transição.
O que você planeja para os próximos meses? Pretende excursionar com o álbum? Santos está nos planos?
Olha, esse é o meu maior sonho, o meu maior desafio. Por que falo que é o meu maior desafio? Porque a gente precisa, como artista independente, abrir as portas para a gente mesmo. A ideia é ir levando o Labirinto, não só para Santos, quero rodar o Brasil com o álbum, acho que as pessoas merecem e precisam ouvir esse som. Quero muito que esse som alcance mais pessoas e mais lugares, esse realmente é o meu maior objetivo.
Quais os três álbuns que mais te influenciaram na carreira? Por que?
Escolher três é bem complicado, mas vamos lá: Índigo Borboleta, da Liniker, foi um álbum que me marcou muito, principalmente na construção da história, nas letras, me fez mudar. Não sei se mudar é a palavra, mas me fez enxergar a música de uma outra forma.
O álbum da Luedji Luna, Bom mesmo é estar debaixo d’água, mexeu muito comigo no sentido sonoro da coisa. Acho que o som da água, a brasilidade que trouxe para o meu álbum, veio muito do que escutei do álbum dela.
Por fim, é o álbum da Lianne La Havas, que é uma artista que tenho como referência desde o momento que me tornei cantora. Acho a Lianne uma artista completa no sentido de técnica e sentimento, ela consegue migrar tudo. Ela abre a boca e já sinto tudo, ouço todos os sonhos. É como se ela não precisasse de instrumento nenhum. Como se a voz dela já preenchesse todo o espaço.
Você menciona que o mais importante para você é ser feliz enquanto trilha o caminho, respeitando seu tempo e corpo. Que mensagem você gostaria de deixar para quem está tentando encontrar a saída do seu próprio labirinto?
Vou falar o que falaria para mim. Se a gente olhar para o lado, para o externo, a gente sempre vai ver alguém melhor do que a gente, uma condição financeira ou profissional, e a gente vai se perder, isso só retarda o nosso processo.
Quando você olha para frente, parece clichê, talvez seja, mas não tem outra opção, ao meu ver, é você seguir o que você acredita, o que você tem na mão, fazer o melhor que você pode com o que você tem, sem olhar para o outro lado. Sem olhar para o mundo externo, olha para frente, faz o seu e acredita no seu tempo.
Acredita no seu processo, talvez as coisas não aconteçam como você acha que deveriam acontecer ou como você esperava, mas elas vão acontecer como elas tem que ser e está tudo bem. Esse é o maior desafio, a gente respirar e entender que está tudo bem, seja de um jeito ou de outro. Ser feliz independente das respostas e independente das saídas que cheguem. É você curtir o momento, curtir as pessoas, tem gente que vai entrar e tem gente que vai sair, mas é isso. É você seguir em frente, acreditando em você e acreditando no que você está fazendo e que aquilo ali é o melhor.