Guerra, baterista da Fresno, revela bastidores da produção de primeiro álbum solo: "Uma terapia"
Por Rodrigo Cirilo em 29/02/2024 às 06:00
O baterista Thiago Guerra, da Fresno, lançou, na última sexta-feira (23), seu primeiro álbum solo, intitulado Nu Mato Futuro. Também produtor de trilhas sonoras e beats, o artista conta que a decisão de lançar um disco foi consequência de um processo de libertação durante a pandemia, quando todas as atividades estavam indeterminadamente suspensas.
“Faço vários rolês de produção, mas nunca tinha parado para cantar e fazer uma coisa assim. Comecei a pirar aqui com as coisas que podia aqui, como uma terapia. Fui vendo e tinha duas, três, quatro, aí começou aquela coisa será que eu lanço isso aqui? Depois tinha cinco, seis, dez, então comecei a pensar em fazer um disco. Isso foi possível porque estava preso, mas livre para poder me divertir sem ter um foco em nada”, revela Guerra, em entrevista ao Santa Portal.
Por conta do isolamento social, Guerra não pôde chamar outros artistas para tocar em seu disco. Por isso, todos os instrumentais são de sua própria criação. Inclusive, uma das guitarras de Gustavo Montavani, o Vavo, guitarrista da Fresno, está com ele até hoje.
“Fui revisitando umas coisas que já tinha de produção, daí eu achava um beat que gostava, e nunca tinha usado, e pegava um baixo para tocar em cima, ligava um sintetizador e começava a me divertir. Hoje em dia, a tecnologia está facilitando as coisas. Com pouco recurso, você consegue criar coisas muito legais. Foi como meu playground, fui fazendo as paradas e me divertindo”.
Nenhuma das onze faixas, com exceção de Saudade, foi escrita. Guerra conta que após “se divertir instrumentalmente”, já começava a cantar em cima do beat, de improviso e sem deixar os pensamentos passarem. Portanto, o artista optou por deixar alguns erros de gravação passarem para o produto final.
“Tem muito erro no disco, tem tudo que você imaginar. Mas no final, falei cara, não vou regravar isso aqui, porque todo o sentimento tá aí. Tem um errinho ali, beleza, vai ser assim mesmo. Não quero refazer como se fosse uma coisa séria, com um microfone, se gravei com o que tinha e o disco é feito em casa. Foi uma cascata de sentimentos que se entrelaçaram”.
Viagem musical
A maioria das onze faixas do disco possui um ritmo dançante. No entanto, o álbum também apresenta “um lado mais aterrado”, como Saudade, Nu Mato Futuro e Parafuso, por exemplo. Guerra explica que, apesar das diferenças, todas têm a proposta de convidar o ouvinte para uma viagem de reflexão.
“Todas têm um beatzinho, alguma coisa eletrônica no meio. Há uma similaridade entre as faixas e, ao mesmo tempo ele te leva para uns lugares diferentes, ele tem a maior parte do conjunto de músicas dançantes, mas tudo para refletir, é uma viagem”.
Essa viagem reflete no nome da faixa Nu Mato Futuro, que também intitula o álbum. Para Guerra, o significado pode ser vários, depende da interpretação, como ‘não mato o futuro’, ‘no mato, o futuro’, entre outros.
“Se você ficar repetindo isso várias vezes, vai ver que tem muitos sentidos na mesma frase. Veio em loop, e comecei a cantar, gritar, falar mansinho, mudar a sensação de falar isso. Virou um mantra depois eu discorri outras partes da música, que falam de coisas relacionadas a isso”.
Futuro da Fresno
O início oficial da carreira solo não atrapalhará o andamento da Fresno. Pelo contrário, Lucas Silveira (vocalista) e Vavo são os maiores incentivadores e ouviram as faixas em primeira mão. Aliás, os ‘irmãos’ foram os primeiros que Guerra procurou para pedir ajuda com processos do álbum, como a parte burocrático.
“Vavo está fazendo as coisas dele, apresentando a NBA. Já o Lucas também produz um monte de gente e tem suas músicas. Isso só faz a banda ficar maior. Tudo que é arte só acrescenta, agrega valor, faz o bolo crescer. O importante é o amor que temos pela banda e a vontade de fazer ela ir para frente. Nesse caminho da vida, só vamos acrescentando coisa, para lá na frente a Fresno ser uma parada maior. É muito legal ver esse processo humano de cada um”.
Guerra, entretanto, não planeja tocar uma de suas músicas nos shows da Fresno. O baterista descreve que a banda é com uma engrenagem, ou em suas palavras, “um organismo muito massa, que funciona muito bem”.
“Só se for uma brincadeira, uma coisa assim. O show é o momento da Fresno. Sou eu da Fresno, o Lucas da Fresno, o Vavo da Fresno, é como a Fresno com todas as potências máximas possíveis da gente. É um conjunto, não tem como destrinchar”.
Próximo disco
Apesar de ter curtido o processo de criação completamente sozinho, Guerra planeja seu segundo disco, mas com a participação de amigos músicos nos instrumentais.
“Foi uma sorte que eu tive nesse disco, que não sei se vai se repetir no segunda. Mas pretendo chamar um cara pra tocar uma guitarra no meu disco, acho que o processo vai mudar um pouco, mas nunca se sabe”.