23/12/2025

Gilberto Gil faz show intimista para 60 pessoas em teatro histórico de Salvador

Por Lucas Fróes/Folhapress em 23/12/2025 às 15:48

Reprodução
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Dois dias depois de fazer o que provavelmente será o seu último grande show na Bahia para cerca de 45 mil pessoas que foram à Arena Fonte Nova, em Salvador, parte da turnê “Tempo Rei”, Gilberto Gil subiu na noite de segunda (22) no palco do Teatro Gamboa, também na capital baiana, para um show intimista, com apenas 60 convidados na plateia.

“O Teatro Gamboa, 51 anos. Muitos serviços prestados à vida cultural baiana, à cultura da Bahia. Como uma entidade pequena, de tamanho limitado, tem sempre dificuldades maiores do que os grandes teatros, os grandes estádios, os grandes lugares onde os patrocínios são mais generosos”, disse Gil durante a apresentação, que teve transmissão ao vivo da TVE Bahia e da TV Brasil.

Com apoio do Centro Cultural Banco do Brasil, o show fez parte da campanha “Fica, Gamboa”. Por financiamento coletivo, tenta-se arrecadar R$ 500 mil para a compra do imóvel e a realização de reformas no local por parte da Associação Teatro Gamboa formada por artistas, produtores e técnicos culturais, que gere o teatro desde 2007, mas não é dona do espaço.

“Essa lógica natural do mercado, que é muito importante, ela favorece muita coisa, mas ela cria também dificuldades para os pequenininhos, esses que têm um papel extraordinário de resistência e de criatividade também, são inventivos, oferecem oportunidades aos novos”, disse Gil no espaço pequeno e aconchegante.

O show teve a abertura de seus netos Bento Gil e Flor Gil. No palco, sozinho com seu violão, durante cerca de uma hora, Gil aproveitou para tocar e cantar um repertório diferente do que vem lotando estádios pelo Brasil.

“A ladeira da Preguiça fica logo aqui, bem aqui do lado”, disse Gil antes de tocar “Ladeira da Preguiça”, composição sua gravada por Elis Regina. As outras novidades foram “Soy Loco por Ti, América”, “O Rouxinol/Nightingale”, “Maracatu Atômico”, “Chiclete com Banana”, “Prece” e “É Luxo Só”.

Inaugurado em 1974 pelo ator Eduardo Cabús, o Teatro Gamboa foi por fim comprado pelo ator Perry Salles, morto em 2009. Atualmente, o teatro pertence aos familiares do artista, que decidiram colocar o imóvel à venda, mas deram prioridade de compra para a Associação Teatro Gamboa.

“É uma negociação bem amigável com a família”, disse o gestor Maurício Assunção.

Os custos mensais do teatro são cobertos por um edital estadual de manutenção de espaços culturais. Com isso, o Gamboa recebe artistas sem cobrança de pauta, oferecendo também assessoria de imprensa, material digital e toda a bilheteria para os artistas. O teatro costuma ter 240 apresentações por ano.

A ideia de chamar Gil para a campanha foi do próprio Assunção. Gil e sua banda já usaram o Gamboa como local de ensaios, graças a um de seus parceiros musicais, o italiano Aldo Brizzi, que mora em cima do teatro. Nesta segunda, sua casa serviu de camarim para Gil.

“Uma saudação: boa noite para todos vocês, meu povo, o povo lá de casa, amigos, meu colega Tuzeas de Abreu, Tuzé de Abreu, a quem assisti muitas vezes. Uma delas aqui, neste palco, nunca me esqueço”, disse Gil.

À Folha, o flautista e compositor Tuzé de Abreu relembrou o show citado por Gil, realizado em 2014. “Foi o show ‘Novas Aventuras no País do Som, feito lá no Gamboa. E esse show foi muito importante porque ganhamos o troféu Caymmi de melhor show do ano e melhor direção”, afirmou.

“Gil assistiu. Foi ele, Caetano Veloso, Regina Casé, Moreno Veloso. Foi uma maravilha, um show com um sotaque experimental”, diz Tuzé, que acaba de lançar um livro de memórias.

“Eu gosto muito do Gamboa. Tem uma coisa espetacular que eu só vi semelhante na Flórida, num lugar que eu toquei. É que, em determinadas circunstâncias, dependendo do horário, eles abrem uma cortina no fundo do palco e a própria vista da Baía de Todos-os-Santos vira o cenário”, afirma o flautista.

Outro dos 60 felizardos na plateia do Gamboa foi o ator Wagner Moura, que também esteve no show da Fonte Nova, dois dias antes. Por lá, no burburinho do público, havia a expectativa de que Gil fizesse algum tipo de despedida, o que não aconteceu.

Em determinado momento, o público puxou o coro “Gil, eu te amo”, que contagiou o estádio. “É recíproco! Amo vocês todos. Meu amor por vocês todos, por esses anos todos, levarei até o fim da vida. E se for o caso de haver vida depois, eu também continuarei amando vocês, onde quer que eu esteja”, disse o cantor.

No Gamboa, ele tocou músicas da turnê, como “Tempo Rei”, “Drão”, “Estrela”, “Se Eu Quiser Falar com Deus”, “Andar com Fé” e “Toda Menina Baiana”, mas na versão voz e violão, sinalizando o que podem ser suas futuras apresentações, mostrando que segue em grande forma no instrumento.

“O Teatro Gamboa agradece por esse envolvimento, por essa mobilização que estamos todos fazendo no sentido de que seja possível a sua manutenção por mais 51 anos, se for o caso”, disse sorridente o cantor, que após o show deixou o palco e foi até a plateia cumprimentar as pessoas.

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