'Dark Matter', novo álbum do Pearl Jam, é manifesto contra a passagem do tempo
Por Rodrigo Salem/Folhapress em 12/04/2024 às 10:15
Quando o Pearl Jam lançou “Ten”, seu o álbum de estreia que se tornou um dos maiores sucessos de venda da era grunge da década de 1990, o grupo fez uma pequena apresentação promocional no Troubadour, lendária casa de shows de Los Angeles, em 1991.
Ao sair do furgão e entrar no local que fez a carreira de nomes como Elton John e Joni Mitchell, o quinteto liderado por Eddie Vedder percebeu todas as paredes envelopadas em rosa para replicar o tom da capa do disco, rasgando-as diante da equipe da gravadora que planejou o cenário.
Trinta e três anos depois, a banda retorna ao mesmo Troubadour com uma atitude menos agressiva e mais madura. “Gostaria de pedir desculpas para todos e agradecer por terem ficado ao nosso lado todo esse tempo”, diz Vedder ao subir ao palco para apresentar “Dark Matter”, 12º álbum de estúdio do Pearl Jam, para uma pequena plateia de convidados especiais que inclui o baterista Chad Smith, do Red Hot Chili Peppers.
“Acho que é o nosso melhor trabalho”, diz o vocalista sobre o primeiro lançamento do grupo desde “Gigaton”, lançado em março de 2020, dias antes do planeta inteiro pausar por causa da pandemia. “Mas vocês podem dizer se estou mentindo.”
Julgar se é o melhor álbum do Pearl Jam é uma tarefa ingrata, mas “Dark Matter”, que será lançado na próxima sexta-feira, dia 19, certamente é o mais pesado do grupo em anos, fruto de um encontro entre a urgência do “Binaural” e a melancolia do “No Code”.
Haverá ainda sessões em vários cinemas do Brasil, na terça-feira (16), para que os fãs possam ouvir o disco com antecedência, primeiro apenas frente a uma tela preta, e depois recheada de efeitos visuais para acompanhar as músicas.
Trabalho do jovem Andrew Watt, vencedor do Grammy de melhor produtor, em 2021, e um artista que trafega entre Justin Bieber e Ozzy Osbourne com a mesma desenvoltura e energia –além de ter trabalhado com Vedder anteriormente.
As gravações foram transferidas para o estúdio Shangri-La, em Malibu, do produtor Rick Rubin, depois que a casa de Watt ficou inundada. “Aquele espaço tem uma vibração diferente. Aproveitei o máximo que pude”, lembra Vedder sobre as três semanas de convivência com Watt que “usou um chicote” para extrair a energia do quinteto de Seattle. “Somos adultos, mas ele nos fez alcançar o que queríamos”, diz o vocalista.
Na audição de “Dark Matter” no Troubadour, Watt escutou o show em um frenesi, pulando e mexendo os braços como se tocasse uma bateria no ar enquanto abraçava Eddie Vedder, que distribuia tequila para quem estivesse do seu lado –ritual que ele repete a cada lançamento. “Todas as vezes que toquei o disco para alguém, precisei de dois dias para me recuperar”, diz o vocalista de 59 anos.
Depois de três décadas juntos –com a exceção do baterista Matt Cameron, que entrou para a banda em 1998–, o Pearl Jam está longe de soar cansado, mas o seu líder parece incomodado com o passar dos anos. “Ainda estamos procurando maneiras de nos comunicarmos”, diz Vedder, que compara a criação do álbum com a tentativa do surfista e amigo Kelly Slater de encontrar a onda perfeita. “É uma obra da engenhosidade humana. Acho que tem uma relação. Em vez de água, queremos passar emoção e transmitir raiva, tristeza e arrependimento em uma música.”
“Upper Hand”, uma das melhores faixas de “Dark Matter”, é um bom exemplo de como ele encara a juventude cada vez mais longe. A fúria do hard rock do Pearl Jam confronta a letra melancólica que dispara logo na abertura: “A distância para o fim está mais perto que nunca”.
A balada “Something Special”, por sua vez, é uma homenagem à filha adolescente de Vedder, que estava na plateia e dançou com o pai. “Algum dia, você vai se ver no lugar onde estou agora”, canta ele na faixa.
Mas, no geral, o álbum segue a linha dos dois primeiros singles, a faixa-título “Dark Matter” e a punk-pop “Running”, energéticos e joviais. Uma piada de Vedder quase passa despercebida no meio dos seus discursos. “Matt Cameron toca demais, especialmente quando vejo que é nosso último álbum”. Quando percebe algumas vaias e o olhar surpreso de Ament e do guitarrista Mike McCready, o vocalista começa a rir. “Estou brincando.”
‘Dark Matter’, faixa a faixa
“Scared of Fear”: O álbum abre já chutando a porta, com uma de suas músicas mais pesadas. A letra é sobre saudosismo e “desentendimentos”, diz Eddie Vedder. “Costumávamos rir/Costumávamos cantar/Costumávamos Dançar/Costumávamos acreditar/Acho que você se machuca para poder me machucar.”
“React, Respond”: Levada pelo baixo pesado de Jeff Ament, uma batida de ska e por uma letra quase em forma de discurso ativista. “Quando você não conseguir o que deseja/Não reaja, responda!”
“Wreckage”: É a primeira faixa mais lenta de “Dark Matter” e fala sobre erros. Em outros anos, seria single com um refrão grudento. “Vasculhando os destroços/Resistindo, suportando”.
“Dark Matter”: A faixa-título lançada em março inicia com uma bateria furiosa, depois atacada por guitarras industriais e uma letra bastante politizada, especialmente em anos de eleições nos Estados Unidos. “Certa vez, ouvi falar/E ficou na minha mente/Prenderam a imprensa/Ninguém sabe o que aconteceu depois/Renuncie os demagogos.”
“Won’t Tell”: Uma balada típica do Pearl Jam, que começa intima até se tornar grandiosa. “Você pode curar? /Você pode sentir? /As correntes no meu coração”.
“Upper Hand”: Outra que poderia ser um single com uma bateria pesada, porém com um andamento mais suave e crescente. Fala sobre envelhecer, um tema que bate forte em Vedder perto dos 60 anos.
“Waiting For Stevie”: Talvez contenha o refrão mais digerível do álbum com uma letra melancólica. “Você pode ser amado por todo mundo/E ainda assim não sentir o amor”.
“Running”: Levada por um baixo distorcido e guitarras pop-punk, Vedder busca seu amor pelos Ramones com uma mensagem ambientalista. “Perdido no túnel/E o túnel está afunilando/Como o esgoto no encanamento/Porque deixamos a água correndo”.
“Something Special”: A faixa que Eddie Vedder fez em homenagem à filha adolescente. É uma balada bubblegum que traz ecos de “Last Kiss”. “Algum dia, você vai se ver no lugar onde estou agora”.
“Got To Give”: Hard rock curto e direto, apesar de ficar mais lenta no fim. “Vamos direto ao momento/Em que acreditamos que, juntos, somos melhores/Eu e você”.
“Setting Sun”: Vedder emula Lou Reed numa faixa que poderia fazer parte do “Vitalogy”, de 1994. O ritmo é mais sombrio, contrastando com a letra mais otimista novamente sobre envelhecer: “Dizem que tudo ficará bem no fim/Se não está tudo bem/Bem, então não é o fim/(…) Afinal, a eternidade chegou e se foi/Sou o único resistindo?”
Dark Matter
- Quando: Sex. (19) nas plataformas digitais. Ter. (16), em sessões especiais no cinema
- Onde: Nos cinemas e nas plataformas digitais
- Preço: CD ou vinil importado, de R$ 199 a R$ 349
- Autoria: Pearl Jam
- Link
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