Yago Dora vê título mundial de surfe ao alcance após mudança difícil na carreira
Por Klaus Richmond/Folha Press em 08/08/2025 às 18:46
Líder do ranking da WSL (Liga Mundial de Surfe, na sigla em inglês) e já garantido matematicamente no Finals, evento que define o campeão da temporada, o surfista Yago Dora, 29, tenta escrever um capítulo que considerava inimaginável há bem pouco tempo.
O curitibano criado em Florianópolis pode alcançar no começo do próximo mês, em Fiji, o posto de quinto brasileiro campeão mundial do esporte. Já venceram o campeonato Gabriel Medina, três vezes, Filipe Toledo, duas, Adriano de Souza e Italo Ferreira.
“Estou há muitos anos tentando me encontrar e conseguir colocar minha performance dentro das competições. Sinto que isso tardou um pouco para mim, tinha dificuldades em me ver como alguém que podia ganhar etapas ou até brigar por um título. Simplesmente não conseguia”, disse.
Dora tem uma trajetória incomum no esporte. De iniciação considerada tardia, com 11 anos, sonhava em tornar-se jogador de futebol antes de trocar definitivamente a bola pela prancha, com insistentes incentivos do pai, o ex-surfista e hoje técnico Leandro Dora, conhecido como Grilo.
A chegada à elite mundial do Championship Tour ocorreu de forma arrebatadora, em 2017, quando foi convidado a participar na etapa Rio Pro, em Saquarema, e desbancou nomes já consolidados como Gabriel Medina, John John Florence e Mick Fanning, chegando até as semifinais. A partir de 2018, contudo, acumulou decepções.
“No começo, o surfe era frustrante para mim”, contou em um documentário produzido em 2023. “Saía frustrado e chorando porque não conseguia mostrar meu nível”, disse.
O melhor nível apareceu em 2023, novamente em Saquarema, com o título da etapa brasileira do circuito.
“Eu sabia que o meu nível de surfe era bom, mas não conseguia colocar tudo aquilo na competição. Foi um processo de tempo, de aprender com as derrotas. Eu sempre me cobrei muito por isso, mas realmente acho que nos últimos três anos comecei a me visualizar como alguém que poderia brigar por etapas e algo maior. Passei a me portar como tal”, afirmou.
Mas, mesmo com bom desempenho em 2023 e 2024, ele acabou fora do Finals, terminando essas temporadas como sétimo e sexto colocado, respectivamente -apenas os cinco melhores se classificam. Para ele, ainda era necessário um último choque: mudar de treinador, substituindo o próprio pai.
“O ano passado foi um momento de transição. Comecei a tomar algumas decisões e fazer mudanças na minha carreira, tomar as rédeas. Eu sempre fiquei muito na tutela do meu pai e, agora como um adulto, com 29 anos, senti essa necessidade de ser eu o responsável pelo meu futuro”, disse.
Dora escolheu um velho conhecido, Leandro da Silva, com quem competiu e treinou na adolescência e também trabalhava para seu pai.
“Foi uma decisão muito difícil de tomar. Era um trabalho com o meu pai, tem todo o afeto entre pai e filho, mas sinto que tem sido muito positivo. Conheço o Leandro desde moleque, temos uma conexão muito boa. Pai e filho acabam misturando um pouco as coisas”, declarou.
Na etapa de Teahupo’o, a última da temporada regular, iniciada nesta quinta-feira (7), no Taiti, na Polinésia Francesa, ele já garantiu vaga nas oitavas de final. O resultado já lhe assegura, no mínimo, a segunda colocação ao fim da fase de classificação do Mundial.
Yago espera ir longe no Taiti, mas calcula os riscos pensando no evento final, em Fiji. Apesar dos tubos perfeitos, a etapa de Teahupo’o é uma das mais temidas do circuito por conta da força incomum das ondas, formadas sobre uma fossa abissal de mais de 1.400 metros de profundidade.
“Sei que já tenho minha vaga e planos maiores do que ficar tentando bancar o herói ou me jogando para fazer a onda do dia”, afirmou.
Caso sustente a liderança do ranking -para isso, sem depender do resultado do sul-africano Jordy Smith, basta-lhe avançar às semifinais-, Dora entrará em vantagem no Finals. Na etapa derradeira, o quinto colocado enfrenta o quarto para decidir quem encara o terceiro. Desse duelo sai o adversário do segundo. E só nesse confronto é definido o rival do primeiro.
Diferentemente do que ocorria até o ano passado, basta ao líder vencer sua primeira bateria para ficar com o título. Em caso de derrota do primeiro colocado, a disputa passa a ser de melhor de três.