Vila Socó entra na pauta da Comissão da Verdade de São Paulo

Por #Santaportal em 26/02/2014 às 12:14

Trinta anos depois, a tragédia da Vila Socó vai ser novamente investigada, agora pela Comissão da Verdade “Rubens Paiva” (de São Paulo). O anúncio da inclusão desse tema foi feito nesta terça-feira (25) pelo seu presidente, deputado Adriano Diogo, na Assembléia Legislativa, como informou em Cubatão o advogado e jornalista Dojival Vieira dos Santos, que solicitou essa inclusão e à noite participou do debate sobre o documentário “Vila Socó – Uma Tragédia Anunciada”, exibido no Cine Roxy Anilinas.

A reapresentação do filme (que foi exibido na segunda-feira durante cerimônia na Vila São José em homenagem às vítimas daquele incêndio) foi promovida pela Prefeitura de Cubatão, que também apresentou uma exposição de fotos e documentos raros, organizada pelo jornalista Allan Nóbrega.

Aberto pela Banda Cartum, o evento realizado no Novo Anilinas teve a participação de diversos secretários municipais – entre eles o de Cultura, Welington Borges, representando a prefeita Marcia Rosa -; do diretor do filme, Diego Moura; do diretor de cinema e documentarista João Batista de Andrade, atual presidente do Memorial da América Latina; de Dojival – fundador da Associação das Vítimas da Poluição e das Más Condições de Vida; e de Diney Manoel de Souza, ex-presidente da Sociedade de Melhoramentos da Vila São José; além do presidente da seccional cubatense da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Luiz Marcelo Moreira; e de outros convidados.

Dojival falouquenão tem dúvida alguma em classificar como crime o que aconteceu em Vila Socó, pois “tudo o que aconteceu era absolutamente previsível. Desde o início do vazamento do oleoduto até a explosão, foram pelo menos seis horas, tempo suficiente para se evacuar toda a vila. Além disso, o vazamento ocorreu porque o oleoduto estava corroído e não havia uma política de manutenção das instalações”.

Como observou, os judeus todo ano lembram do Holocausto da Segunda Guerra Mundial com um minuto de silêncio, e fazem questão que os filhos conheçam essa história. Em Cubatão, é preciso também criar esse minuto de silêncio todos os anos, para que os fatos não sejam mais esquecidos. “Logo depois da tragédia, começou a Operação Abafa, uma das maiores já feitas no país. Era o fim do regime militar. Havia interesse em reduzir o número de mortos para 93, porque a tragédia comprometia a imagem do regime militar. Mas quem fala em 508 mortos nem são os moradores, foram os promotores das investigações realizadas logo depois. E eles explicaram que o corpo humano, submetido a 1.000 graus Celsius por 15 minutos, desaparece, vira cinzas. No incêndio da Vla Socó, a temperatura em meio às chamas era ainda maior e assim foi por várias horas, o que explica não serem encontrados mais corpos”.

“É fundamental não esquecer, para agir. Propus hoje à Comissão da Verdade que este fato faça parte das investigações da Comissão da Verdade-SP, e a proposta foi aceita, divulgada em discurso de seu presidente na Assembleia Legislativa”. Dojival continuou: “Queremos saber por que o inquérito foi arquivado e os responsáveis por esse crime não foram punidos. Na época, houve inquérito, foi oferecida a denúncia para 16 pessoas. O presidente da Petrobrás, Shigeaki Ueki, foi nomeado embaixador na União Europeia para escapar do processo, e o prefeito Osvaldo Passarelli obteve habeas corpus. Os outros 14 seriam condenados a penas de 7 a 12 meses de prisão, na primeira instância, e absolvidos pelo julgamento em segunda instância. Ou seja, ninguém foi punido”.

loading...

Este site usa cookies para personalizar conteúdo e analisar o tráfego do site. Conheça a nossa Política de Cookies.