03/07/2021

Vaticano julgará cardeal e mais 9 por supostos crimes financeiros

Por Ansa Brasil em 03/07/2021 às 13:16

Reprodução/ANSA
Reprodução/ANSA

A Justiça do Vaticano determinou neste sábado (3) que 10 pessoas, incluindo o cardeal Angelo Becciu, sejam julgadas por supostos crimes financeiros, incluindo peculato, lavagem de dinheiro, fraude, extorsão e abuso de poder, no âmbito do inquérito que apura a venda de um edifício em Londres.

“O presidente do Tribunal do Vaticano ordenou a citação para o julgamento dos acusados no âmbito da matéria relacionada com os investimentos financeiros da Secretaria de Estado em Londres. O julgamento terá início na audiência de 27 de julho”, disse a Santa Sé em comunicado.

A decisão ordena que Becciu, cujo escândalo culminou em sua renúncia, responda “pelos crimes de peculato e abuso de poder também em regime de concorrência, bem como por suborno”.

Ainda de acordo com a nota, uma ampla investigação judicial permitiu constatar que a atividade dos acusados resultou em “consideráveis prejuízos para as finanças do Vaticano, tendo-se utilizado também os recursos destinados às obras de caridade pessoal do Santo Padre”.

A Santa Sé enfatiza que a decisão tomada hoje está “diretamente relacionada às indicações e reformas” do papa Francisco, no “trabalho de transparência e limpeza das finanças do Vaticano”.

Todos os indiciados são “membros eclesiásticos e leigos da Secretaria de Estado e altos funcionários da então autoridade de inteligência financeira do Vaticano, bem como personalidades externas, ativas no mundo das finanças internacionais”.

Além do cardeal Becciu, René Brulhart, Mauro Carlino, Enrico Crasso, Tommaso Di Ruzza, Cecilia Marogna, Raffaele Mincione, Nicola Squillace, Fabrizio Tirabassi e Gianluigi Torzi foram acusados, assim como as empresas HP Finance LLC, Logsic Humanitarne Dejavnosti, DOO, Prestige Family Office SA e Sogenel Capital Investment.

Entre os crimes pelos quais são acusados estão suborno, extorsão, peculato, abuso de poder, corrupção, lavagem de dinheiro, fraude, abuso, falsificação de documentos públicos e falsificação de títulos privados.

Em maio passado, o corretor financeiro Torzi chegou a ser detido após pedido emitido pela Justiça da Itália e validado por um juiz inglês. Ele é suspeito de ter recebido ilegalmente 15 milhões de euros pela compra do edifício residencial em Londres, adquirido por US$200 milhões com recursos da Secretaria de Estado do Vaticano.

As investigações, iniciadas em julho de 2019 na sequência de uma denúncia do Instituto das Obras Religiosas e da Auditoria Geral, contaram com a colaboração do Ministério Público de Roma e do núcleo de Polícia Judiciária da Guarda Financeira Romana. Além disso, teve a parceria dos promotores de Milão, Bari, Trento, Cagliari e Sassari e suas respectivas seções da Polícia Judiciária.

As atividades de investigação sobre os fundos da Secretaria de Estado também tiveram a expedição de cartas rogatórias em inúmeros outros locais estrangeiros, como Emirados Árabes Unidos, Grã-Bretanha, Jersey, Luxemburgo, Eslovênia e Suíça, o que permitiram “determinar uma vasta rede de relações com os operadores dos mercados financeiros que têm gerado perdas substanciais para as finanças do Vaticano, tendo também recorrido aos recursos destinados às obras de caridade pessoais do Santo Padre”, acrescenta o comunicado da Santa Sé.

O escândalo da compra do prédio de luxo em Londres culminou com a renúncia de Becciu e com uma ampla reforma feita pelo Papa na gestão econômica da Cúria Romana.

A suspeita é de que o dinheiro usado para a negociação tenha vindo do Óbolo de São Pedro, o sistema que arrecada donativos para a caridade da Igreja. Becciu, no entanto, sempre negou as acusações e alega que o prédio foi adquirido com recursos de um fundo da Secretaria de Estado que “precisava crescer”.

“Sou vítima de uma conspiração tramada contra mim, e há muito tempo que espero ouvir as eventuais denúncias contra mim, para me permitir prontamente negá-las e provar ao mundo minha inocência absoluta”, afirmou Becciu em nota, após ter sido indiciado.

“Nestes longos meses, foi inventado tudo sobre a minha pessoa, expondo-me a uma guilhotina midiática ímpar ao qual não cedi, sofrendo em silêncio, também pelo respeito e proteção da Igreja, à qual dediquei a minha vida inteira”, concluiu o cardeal. 

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