25/06/2021

Corremos o risco de que uma variante escape das atuais vacinas e tratamentos, diz OMS

Por Folha Press em 25/06/2021 às 16:08

A rápida expansão da variante Delta (B.1.617.2, identificada primeiro na Índia) em países que já estavam com imunização contra a Covid avançada –como o Reino Unido e Israel– exige que governos redobrem as medidas básicas de prevenção de contágio e acelerem a vacinação, antes que corra o risco de aparecer uma versão capaz de escapar das atuais vacinas e tratamentos.

O alerta foi feito nesta sexta (25) a OMS (Organização Mundial da Saúde), durante entrevista em Genebra. A entidade acompanha no momento a evolução de quatro variantes consideradas “preocupantes” (entre elas a Delta) e outras sete “de interesse”.

“O vírus vai continuar a evoluir. A variante Delta é perigosa porque é extremamente transmissível. Por enquanto, nossos diagnósticos, vacinas e tratamentos funcionam também contra ela. Mas pode haver um momento em que surja uma nova variante que escape das ferramentas de combate que já temos”, disse a líder técnica para Covid-19, Maria van Kerkhove.

Com a maior contaminação, aumenta a possibilidade de que apareçam novos mutantes e de que parte deles seja mais perigosa que as linhagens anteriores. O risco é especialmente preocupante na América Latina, onde há um “nível alto de transmissão comunitária contínua”, segundo a diretora-geral-assistente da OMS, Mariângela Simões.

No relatório mais recente publicado pela OMS, na terça (22), o Brasil foi o país com o maior número de novos casos reportados no mundo (505.344 novos casos em uma semana, uma alta de 11%), à frente da Índia, onde a infecção está caindo (441.976 novos casos, queda de 30%). O número brasileiro é mais que o dobro da terceira colocada, a Colômbia (193.907 novos casos, alta de 10% ).

“A variante Delta tem provocado uma curva de novos casos quase vertical [em que os números se multiplicam várias vezes a cada dia] em muitos países, com crescimento entre os que ainda não estão vacinados”, afirmou Van Kerkhove.

Por que uma variante pode ter mais risco do que as anteriores?

Há várias formas pelas quais uma variante pode ser mais contagiosa que versões anteriores, segundo o diretor-executivo da OMS, Mike Ryan: o vírus pode sobreviver mais tempo nas gotas de saliva, pode fazer com que a pessoa infectada desenvolva uma carga muita maior de vírus ou pode reduzir a “dose infecciosa” (o número necessários de coronavírus para que aconteça a transmissão).

Também há casos em que ele consegue penetrar mais facilmente no corpo (em áreas mais superficiais) ou alterar a rota de contágio.

“Cada vez que o vírus melhora, ele substitui os anteriores, como estamos vendo em muitos países. E, se ele fica mais eficiente, precisamos intensificar os cuidados, ser mais diligentes, redobrar a atenção”, afirmou Ryan.

Van Kerkhove ressaltou que “isso não quer dizer confinamento”, mas o uso correto de medidas básicas como distanciamento, uso de máscara quando a distância for impossível, ventilação de locais fechados, higiene das mãos, teste para identificar infectados, rastreamento de contatos e isolamento.

O diretor disse compreender que essa seja uma tarefa difícil num momento em que todos estão cansados da pandemia e ansiosos para voltar à vida normal, mas garantir que a cadeia de transmissão não se estabeleça e reforce é fundamental para domar a Covid-19.

Von Kerkhove também se disse bastante preocupada com a retomada de aglomerações e viagens. “Temos que tomar cuidado agora, porque cada decisão do governo terá consequências. Há muito o que queremos fazer, mas o que realmente precisamos fazer é reduzir o risco”, disse ela.

Os especialistas da OMS também afirmaram que mesmo os que já estão completamente vacinados não devem abandonar os cuidados contra o contágio, porque, embora as vacinas sejam muito eficazes contra hospitalização e mortes, a contaminação e a transmissão a indivíduos vulneráveis ainda é possível.

A organização também se opõe a que a vacinação seja considerada obrigatória para permitir viagens, principalmente porque há falta de imunizantes no mundo.

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