30/11/2017

UE e África lançam força-tarefa para 'proteger' imigrantes

Por ANSA em 30/11/2017 às 10:20

MUNDO – Após as denúncias de que imigrantes estão sendo vendidos como escravos na Líbia, a União Europeia, a União Africana e a Organização das Nações Unidas (ONU) anunciaram ontem (29) a criação de uma “força-tarefa” para proteger as pessoas ao longo das rotas migratórias.

A decisão foi tomada durante uma reunião entre o secretário-geral da ONU, António Guterres, o presidente da Comissão da UA, Moussa Faki, o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, e a alta representante para Política Externa da UE, Federica Mogherini.

Os quatro se encontraram durante a 5ª Cúpula UE-África, que acontece em Abidjan, maior cidade da Costa do Marfim, e reúne os principais líderes dos dois blocos. O trabalho da força-tarefa será coordenado com as autoridades da Líbia para acelerar a realocação de solicitantes de refúgio e a repatriação voluntária de imigrantes sem direito a proteção internacional.

O presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, por exemplo, já afirmou que todos os cidadãos de seu país bloqueados em solo líbio e em qualquer parte do mundo serão repatriados e “reabilitados”. “É chocante que alguns nigerianos tenham sido vendidos em leilão como cabras por poucos dólares na Líbia”, disse.

Além disso, a iniciativa intensificará a colaboração entre todas as partes envolvidas para desmantelar as redes de traficantes de seres humanos que atuam na Líbia e contribuir para o desenvolvimento dos países de origem dos imigrantes.

Os fluxos migratórios entre UE e África nascem nas nações subsaarianas, passam pela Líbia, cruzam o Mediterrâneo e chegam à Itália. Entre 1º de janeiro e 29 de novembro de 2017, 117.042 pessoas realizaram a travessia, número 32,23% menor que o registrado no mesmo período do ano passado, segundo o Ministério do Interior italiano.

Boa parte dessa queda se deve ao acordo para o país europeu treinar e equipar a Guarda Costeira da Líbia, capacitando-a para realizar resgates no Mediterrâneo. Com isso, as pessoas socorridas no mar são levadas de volta para a nação africana, desestimulando novas travessias.

No entanto, essa estratégia evidenciou algo que já estava claro desde a assinatura do pacto, em fevereiro: as dificuldades das autoridades da Líbia, um país fragmentado desde a queda de Muammar Kadafi, para administrar grandes fluxos migratórios.

São frequentes as denúncias de violações dos direitos humanos em campos de acolhimento na nação e de vendas de imigrantes da África Subsaariana como escravos, como foi flagrado pela emissora “CNN” em outubro passado.

Na Itália, contudo, a estratégia é celebrada. “Exprimo satisfação pelos resultados extraordinários dos últimos meses para reduzir os fluxos migratórios irregulares nas mãos dos traficantes. Os números são impressionantes. De julho a novembro, passamos dos 102.786 de 2016 para os 33.288 de 2017”, disse o primeiro-ministro Paolo Gentiloni, presente na cúpula em Abidjan.

Os marfinenses formam o terceiro maior contingente de migrantes forçados que desembarcam em solo italiano, com 9.324 pessoas, atrás de nigerianos (18.049) e guineanos (9.604) – os três países ficam na África Subsaariana, também conhecida como “África Negra”.

“Cabeça erguida”

Gentiloni encerrou na Costa do Marfim uma viagem de quatro dias pelo continente, que incluiu também Tunísia, Angola e Gana, onde a questão migratória dominou a pauta. “A Itália fez sua parte, com orgulho e cabeça erguida”, afirmou.

Além disso, ele celebrou o fato de a cúpula entre UE e UA ter envolvido os países africanos no combate à crise migratória. “O caminho está traçado, é preciso colocar a mão no bolso, porque não é possível que [as medidas] sejam financiadas apenas por Itália, Alemanha e União Europeia”, acrescentou o premier, em recado direto aos países do leste europeu – Hungria, República Tcheca, Eslováquia e Polônia – que se recusam a apoiar as políticas migratórias do bloco.

“Cada um precisa fazer sua parte nesta estrada aberta pela Itália”, disse.

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