Trump impõe sanções contra Colômbia após Petro recusar voos de deportação
Por Victor Lacombe/Folhapress em 27/01/2025 às 09:42

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse neste domingo (26) que seu governo impôs sanções contra a Colômbia depois de o presidente Gustavo Petro se recusar a receber dois voos militares americanos carregando deportados.
Trump anunciou uma série de medidas contra o país latino-americano: proibiu membros e apoiadores do governo Petro de viajar aos EUA e suspendeu seus vistos; prometeu tarifas alfandegárias de 25% contra mercadorias colombianas, dizendo que vai subir a porcentagem para 50% em uma semana; e falou em “sanções financeiras e bancárias” contra o país, aliado mais tradicional dos EUA na América do Sul.
“Acabo de ser informado que dois voos de repatriação dos EUA, com um grande número de criminosos ilegais, não tiveram o pouso autorizado na Colômbia. Essa ordem foi dada pelo presidente socialista da Colômbia, Gustavo Petro, que é muito impopular entre seu povo”, escreveu Trump na sua plataforma Truth Social.
Na avaliação do presidente americano, a decisão de Bogotá “coloca em risco a segurança nacional e segurança pública dos EUA”, o que justificaria as medidas drásticas. Essa é uma das primeiras sanções impostas por Trump desde que voltou ao poder, e o fato de estarem relacionadas à imigração mostram a centralidade do tema para o republicano neste novo mandato.
“Essas medidas são apenas o começo. Não permitiremos que o governo da Colômbia viole suas obrigações legais em relação ao retorno de criminosos que eles forçaram contra os EUA”, conclui Trump.
Horas depois, os EUA suspenderam o processamento de pedidos de vistos em sua embaixada em Bogotá em “resposta direta à decisão do presidente colombiano”. Segundo um porta-voz do Departamento de Estado, os solicitantes foram notificados, e os cidadãos americanos não serão afetados.
Petro reagiu ao americano também nas redes sociais e anunciou a imposição de tarifas como retaliação. “Eles me informaram que vocês colocaram uma tarifa de 50% sobre o fruto do nosso trabalho humano para entrar nos EUA; eu faço o mesmo”. Com um texto cheio de referências a acontecimentos históricos envolvendo os dois países, o presidente colombiano usou ainda um tom irônico na rixa diplomática. “Trump, não gosto muito de viajar para os EUA, é meio chato.”
Mais cedo, Petro havia citado o caso dos brasileiros que chegaram algemados ao país e acusam agentes de imigração americanos de agressão e tratamento degradante ao dizer que não aceitará deportações em aviões militares.
De acordo com uma autoridade americana que falou à agência de notícias Reuters em condição de anonimato, o avião com 80 migrantes já havia decolado do estado da Califórnia quando o governo colombiano suspendeu a autorização.
“Um migrante não é um criminoso e deve ser tratado com a dignidade que um ser humano merece”, afirmou Petro em publicação no X. “Não posso fazer com que migrantes fiquem em um país que não os quer; mas se esse país os devolve, deve ser com respeito, em aviões civis. A Colômbia exige respeito.”
O presidente colombiano ressaltou que mais de 15 mil americanos em situação irregular vivem em seu país. De acordo com os dados mais recentes do Pew Research Center, de 2022, há 190 mil imigrantes colombianos não autorizados vivendo nos EUA.
Em comunicado, a Presidência da Colômbia informou mais tarde que o avião presidencial será enviado “para facilitar o retorno digno dos cidadãos que chegariam provenientes de voos de deportação”. Segundo o comunicado, “esta medida responde ao compromisso do Governo em garantir condições dignas”.
Já o voo que estava marcado para levar outros 80 migrantes deportados para o México teve a autorização do governo mexicano rescindida antes de decolar. Outros três voos com destino à Guatemala com 80 pessoas cada, dois deles, militares, foram concluídos sem problemas, disseram autoridades americanas à emissora NBC. A Cidade do México não deu detalhes para a recusa do voo.
O Itamaraty, por sua vez, disse no sábado (25) que pedirá explicações ao governo Trump sobre o “tratamento degradante” contra os brasileiros no voo de deportação. Os migrantes que chegaram a Minas Gerais no sábado relataram agressões, ameaças e tratamento degradante que sofreram por parte dos agentes de imigração americanos.
Vários disseram ter ficado 50 horas algemados, sem ar condicionado no voo e sujeitos a abusos dos americanos, e relatam que só conseguiram alertar as autoridades brasileiras depois de abrir uma das portas de emergência do avião e gritar por socorro do alto da asa.
“A gente disse pra eles: nós não vamos mais viajar nesse avião, chama a nossa polícia, tira a gente daqui”, afirma Denilson José de Oliveira, 26 anos. “Senti muito medo. Parecia que estavam tentando nos matar.”
Segundo o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, o governo Lula determinou a retirada das algemas dos brasileiros assim que foi informado da situação pela PF. O ministro falou em “flagrante desrespeito” dos direitos dos brasileiros. O Planalto também enviou um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) para fazer o transporte dos migrantes até Belo Horizonte, destino final do voo original.