Investigador atingido por tiro na cabeça recebe alta após coágulo

Ao contrário do que consta no boletim de ocorrência, não foi um tiro de raspão. A bala que atingiu a lateral frontal direita da cabeça do investigador Albino Arias, de 52 anos, não resvalou simplesmente. Ela acertou a vítima com a sua ponta, mas sem força suficiente e ângulo propício para penetrar. O impacto do projétil, que depois ricocheteou, causou um sangramento interno, gerando um coágulo e a indicação clínica de internação.

Chefe dos investigadores do 1º DP de Praia Grande (Tupi), Albino estava acompanhado de três colegas e foi baleado por volta das 7 horas de quarta-feira (23). Eles ocupavam uma viatura descaracterizada, participavam de operação deflagrada na região pelo Departamento de Polícia Judiciária do Interior-6 (Deinter-6) e se dirigiram até a Rua Vista Alegre, no Quietude, por ser um local conhecido como ponto de tráfico de drogas.

Os agentes viram quatro homens conversando na beira da mata, depois de um pequeno canal. Dois suspeitos entregaram aparentemente dinheiro aos demais, recebendo algo em troca. Após a típica situação de tráfico, os supostos compradores de droga foram embora e os policiais decidiram abordar os outros que permaneceram no local. A viatura foi estacionada e os investigadores tentaram se aproximar a pé.

Porém, os suspeitos de terem vendido drogas há instantes perceberam os agentes e abriram fogo contra eles. Os policiais revidaram os disparos e a dupla escapou pela mata sem ser identificada, abandonando entorpecentes, dois pares de calçados e duas blusas na fuga. A ação foi rápida e os investigadores não perseguiram os desconhecidos, porque Albino foi atingido e os seus colegas priorizaram socorrê-lo.

Entre as drogas apreendidas havia 31 pinos de cocaína, um tablete de maconha pesando 265 gramas, 32 porções pequenas da erva e uma maior. O material largado pelos criminosos durante a fuga foi recolhido e apresentado no 1º DP de Praia Grande. Inicialmente, o policial ferido foi levado à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Quietude, onde recebeu os primeiros socorros.

Depois, houve a remoção da vítima ao Hospital Irmã Dulce, onde foram realizados exames solicitados pelos médicos da UPA. Com a recomendação clínica de internação, houve a transferência do investigador para a Beneficência Portuguesa, em Santos. O Santa Portal apurou que o policial passa bem e recebeu alta na manhã desta quinta-feira (24). Os médicos têm a expectativa, positiva, de que o coágulo se dissipe naturalmente.

Fermento nos números

Apesar da tentativa de homicídio contra o investigador, a operação da Polícia Civil prosseguiu e o seu balanço será divulgado nesta quinta-feira (24), em entrevista coletiva. Denominadas como “atuação de campo de polícia judiciária (ACPJ)”, essas operações são realizadas mensalmente pelo Deinter-6, cuja área abrange Santos e mais 23 cidades da Baixada Santista, do Litoral do Sul e do Vale do Ribeira.

Em novembro de 2021, levantamento do Santa Portal detectou que quatro supostas “capturas” de procurados da Justiça, pelo menos, inflaram as estatísticas policiais, porque eles já estavam encarcerados por outros crimes quando tiveram cumpridos os seus mandados de prisão. Na época, o presidente do Sindicato dos Policiais Civis de Santos e Região (Sinpolsan), Renat0 Martins, criticou as operações do Deinter-6.

De acordo com o sindicalista, as operações são “um trabalho superficial, com claro objetivo de apresentar uma polícia em atividade, criando uma falsa sensação de eficiência, apenas com a produção de estatísticas”. Martins também chamou as tais atuações de campo de polícia judiciária de “gincanas”, que colocam em risco a vida dos policiais devido ao déficit de servidores e da falta de recursos. (EF)