Sumida durante incêndio em Santos, gata é achada; família elogia solidariedade

Por Ted Sartori/#Santaportal em 03/05/2020 às 10:17

SANTOS – O dia 30 de abril foi de novas e fortes emoções para uma família no bairro Encruzilhada, em Santos. Dois dias antes, o apartamento na Rua Guedes Coelho, esquina com Luís de Camões, pegou fogo. Por volta das 9 horas, Manuel Sérgio, de 71 anos, acabou morrendo, após sofrer três paradas cardíacas. Ele estava internado em estado grave na UTI da Santa Casa de Santos, depois de ter 50% do corpo queimado. Por outro lado, a gata Sofia, há dois anos com a família, que havia sumido desde o dia do incêndio, apareceu milagrosamente no próprio apartamento na mesma manhã. A busca pelo felino havia sido contada pelo #Santaportal.

“Quando meu pai morreu, eu tinha que ir ao apartamento, pois precisava pegar os papeis do plano funerário, que estavam em uma gaveta da cozinha. Como este cômodo não foi queimado, fui ver se achava. Antes de sair, fui ao banheiro porque estava passando mal com o cheiro que está no apartamento. E a Sofia apareceu miando nas minhas pernas. Eu não sei explicar. O apartamento já tinha sido vistoriado, revirado do avesso. Meu irmão já tinha ido recolher entulhos e nada de Sofia. No dia em que perdi meu pai, a Sofia apareceu nas minhas pernas”, conta a filha Adriana Aires. Estelinha, de 9 meses, também havia sido encontrada antes no local.

Embora Manuel Sérgio tivesse morrido na madrugada de quinta-feira (30), houve dificuldades burocráticas para que ocorresse o sepultamento, em razão de documentos e roupas perdidas em meio às chamas. “Tive que comprar uma roupa para o meu paizinho, para que ele se despedisse da gente. Olha que difícil isso”, conta Adriana.

Como o Instituto Médico Legal de Santos está fechado em razão da pandemia do novo coronavírus, o corpo dele foi levado para o de Praia Grande. Manuel foi velado na Santa Casa de Santos e sepultado na manhã de ontem no Cemitério da Filosofia, no Saboó, em Santos.

“Meu filho, em homenagem ao avô, tocou Brasileirinho (composição do violonista e cavaquinista Waldir Azevedo), que ele amava. Muitas pessoas usando máscaras passavam dentro dos carros e levantavam suas duas mãos unidas em sinal de força e iam embora sem sair dos seus carros. Eram pessoas que conhecíamos e outras não”, lembra.

Embora internada na ala de queimados da Santa Casa de Santos, Alessandra Aires Lopes esteve presente no velório. O local foi escolhido pensando nela. “Fiz um pedido ao corpo clínico que foi deferido. Assim, minha irmã desceu com enfermeiros e conseguiu se despedir do pai tão querido e tão amado por nós”, conta Adriana.

Alessandra não corre risco de vida. Ela ainda irá passar por cirurgia plástica nos pés e nas mãos, fruto do heroísmo para retirar o pai da cama que pegava fogo. Manuel Sérgio se locomove apenas em cadeira de rodas, em função de um AVC (Acidente Vascular Cerebral). As chamas começaram em um dos quartos por volta de 20h de terça-feira (28). As causas estão sendo apuradas. “Ela está em estado de choque”, completa Adriana.

Solidariedade
O incêndio despertou a solidariedade em muitas pessoas, algumas da própria Rua Guedes Coelho, onde fica o apartamento atingido pelo fogo. “A gente não encontra palavras para o que estas pessoas estão fazendo. É maravilhoso. Um grupo de moradores da Rua Guedes Coelho está se organizando para nos ajudar a lavar o apartamento, a recolher o lixo ou deixar artigos que comprou para as gatinhas. O material a gente recupera. Isso é sensacional”, contou, chorando, Adriana.

Um grupo de um edifício na Rua Visconde de Cairu, próximo à Avenida Bernardino de Campos, também está arrecadando roupas, segundo Adriana. “Teve uma parte do guarda-roupa de minha mãe que não queimou. Mas tava tudo molhado pela espuma do combate ao fogo pelos bombeiros. Já lavei duas, três vezes as roupas, mas náo sai o cheiro do fogo. Teve um colchão do quarto de minha mãe que queimou parcialmente. Mas quem disse que alguém aguenta o cheiro do colchão? Tirando a cozinha, tudo foi destruído”, detalha.

Uma conta bancária de Adriana também está sendo disponibilizada para doações, mas somente para amigos mais próximos e ela prefere não divulgar publicamente. Além disso, ONGs estão oferecendo ajuda para as gatas, com brinquedinhos, roupas e ração, e igrejas arrecadando cestas básicas. “Recebemos também muitas cartinhas de crianças, mostrando o amor de santistas por nós. Uma tragédia está unindo santistas em forma de generosidade e empatia”, afirma Adriana.

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