Sobrevivente em operação do Baep alega inocência; jovem morreu ao completar 18 anos

Por Santa Portal em 18/02/2022 às 15:20

Reprodução/Guarujá Atual
Reprodução/Guarujá Atual

Um dos cinco mortos durante a operação do 2º Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep), na terça-feira à tarde (15), na Vila Santa Rosa, em Guarujá, é um jovem que completou 18 anos no próprio dia do confronto. Nicolas dos Santos Bezerra estava acompanhado de um adolescente, de 17, que também tombou. Segundo os policiais militares, a dupla os recebeu a tiros. Porém, a versão é contestada por um sobrevivente, que foi baleado no braço e liberado por falta de provas.

O sobrevivente Lucas (nome fictício) tem 23 anos e estava na comunidade acompanhado da namorada. O jovem contou que, de repente, começaram os tiros e ele correu “desesperadamente” quando sentiu o braço “queimar”. Baleado, ele procurou refúgio em uma palafita, onde moradores tentaram estancar a hemorragia com calças enroladas no ferimento. Momentos depois, os PMs localizaram o jovem ao seguirem um rastro de sangue e exibiram um revólver calibre 38, que afirmaram pertencer ao rapaz.

Conduzido à Delegacia de Guarujá após ser medicado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Rodoviária, Lucas foi acusado de tentativa de homicídio pelos membros do 2º Baep. Porém, o delegado Otaviano Toshiaki Uwada o liberou por considerar necessários novos elementos de informação e provas, como as imagens contidas nas câmeras dos policiais militares. A filmagem ainda não foi disponibilizada à Polícia Civil. A versão do jovem foi confirmada pela namorada e por testemunhas.

Demais mortos

Segundo a versão dos PMs, Lucas estava com Raphael Valente Martins, de 25 anos, que também teria participado do tiroteio, mas foi atingido e morreu. Com este rapaz, os policiais afirmaram que encontraram uma pistola calibre ponto 40, rádio de comunicação e R$ 70,00. O confronto aconteceu em uma área de mangue no final da Rua Paulo Fabres. Os agentes relataram a ocorrência de mais três embates com criminosos em locais diferentes da comunidade.

O confronto que vitimou fatalmente Nicolas e o adolescente, por exemplo, aconteceu no lugar conhecido como Beco da Almas. Eles e mais dois rapazes, que conseguiram fugir e não foram identificados, receberam os policiais a tiros, conforme os agentes públicos. Em uma área seca, os PMs arrecadaram uma pistola 380, que seria dos jovens. Ainda de acordo com a equipe do 2º Baep, nos punhos de cada rapaz morto havia uma sacola contendo drogas, totalizando 38 porções de maconha e 155 pinos de cocaína.

O palco de outro tiroteio foi a Avenida Miguel Mussa Gaze com a Rua José Foster Junior. Consta da versão oficial que dois marginais correram em direção ao mangue ao ver os policiais. Júlio César Lourenço Odorico, de 19 anos, apontou uma arma para os PMs, motivando o revide. Ele foi atingido e morreu, enquanto o seu comparsa escapou sem ser identificado. A arma que estaria com Júlio não foi achada, mas com ele havia uma sacola contendo cocaína, maconha, crack, lança-perfume, rádio de comunicação e dinheiro.

Na Rua Marilúcia dos Santos Brito, Caio Souza da Cruz, de 20 anos, e outro rapaz teriam apontado armas para os policiais, que reagiram disparando. Em seguida, a dupla se embrenhou em uma área de vegetação fechada, onde atirou contra os PMs, que revidaram novamente. Caio foi atingido e não resistiu, enquanto o seu acompanhante escapou. Os policiais disseram que acharam no local duas pistolas dos calibres 380 e 9 milímetros, rádio de comunicação, R$ 272,00 e 178 porções de maconha, cocaína e crack.

Além de aguardar as imagens das câmeras acopladas aos uniformes dos policiais militares, o delegado apreendeu todas as armas (dos acusados e dos agentes) para submetê-las a perícia. Otaviano Uwada também acionou o Instituto de Criminalística para periciar os quatro locais de confronto, mas a equipe da Polícia Técnico-Científica não pôde ser realizar o trabalho por questões de segurança. Barricadas colocadas no entorno da comunidade do Santa Rosa impediram o acesso de viaturas.

Drogas no quartel

O 2º Baep realizou a incursão na Vila Santa Rosa com a justificativa de reprimir o tráfico de drogas e a ação de criminosos armados na comunidade. Porém, no dia 10 de agosto do ano passado, o batalhão especializado da PM foi alvo de investigação da própria Corregedoria da corporação, que montou uma operação de guerra para vistoriar o quartel da Avenida Coronel Joaquim Montenegro (Canal 6), na Ponta da Praia, em Santos. Até cães farejadores foram utilizados.

Sede do Comando de Policiamento do Interior (CPI) – 6, responsável pelo policiamento militar na Baixada Santista e no Vale do Ribeira, o quartel também abriga o 2º Baep. Em um armário destinado a este grupo de elite da corporação havia 1.202 pedras de crack e cocaína (814 pinos, 34 porções pequenas e 14 sacos com porções a granel). A pesagem dos entorpecentes totalizou 10,2 quilos. Não havia identificação no armário que pudesse vinculá-lo a determinado policial.

Duas réplicas de pistola, espingarda, quatro munições de escopeta, martelo de borracha, luneta, quatro granadas, dois telefones celulares, duas balanças de precisão e quatro bases para carregador de HT completaram a relação de materiais achados no armário. Os indícios são de que eles seriam utilizados para forjar prisões – os chamados kits flagrante. Ninguém foi preso na ocasião e a PM não divulgou eventuais desdobramentos da investigação da Corregedoria. (EF)

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