Sem trabalhar, ambulante arrecada alimentos para pessoas necessitadas em Santos

Por Marcela Ferreira/#Santaportal em 05/04/2021 às 20:18

SANTOS – Uma vendedora ambulante que trabalha na Avenida Conselheiro Nébias, no Boqueirão, em Santos, enfrenta dificuldades para atravessar a pandemia da covid-19 sem poder trabalhar em seu carrinho de pastéis. Com a permissão de funcionários de dois supermercados, ela resolveu arrecadar alimentos na porta de dois estabelecimentos na mesma avenida, para seus vizinhos e amigos, que estão com dificuldades.

Márcia é conhecida por vender seus pastéis há anos no mesmo ponto. Querida pelos clientes, ela passou a contar com a solidariedade para conseguir mantimentos no início da pandemia. Neste ano, com a volta para a fase mais rígida do Plano São Paulo, novamente ela precisou parar de trabalhar, e pede para quem puder, que auxilie famílias em necessidade.

“No ano passado, quando fechou tudo, eu me vi perdida. Minha filha estuda no colégio integral e comia na escola. Falei: e agora? Vou comer o que? E vou dar o que pra minha filha? Aí falei com uma pessoa muito boa no Carrefour, que me autorizou a pedir os alimentos na porta, porque eu trabalho ali na calçada, todo mundo conhece, e não teria problema”, conta.

No entanto, as primeiras tentativas não funcionaram. “Fiquei dois dias tentando e não conseguia nada. Aí resolvi ficar na calçada pedindo doações para as famílias carentes que estavam desempregadas, até porque não seria só eu. Minha vizinha estava passando necessidade, tem duas amigas que eu sabia que iriam precisar, mas têm vergonha de pedir”.

Márcia, então, passou a ser reconhecida por conta de seu carrinho. Antigos clientes que a viam pedindo alimento passaram a ajudá-la com as doações para outras famílias. “Quando me falavam que tinham algum amigo precisando, eu montava kits e levava”.

Nova onda da pandemia

Com a volta do aumento de casos de covid-19 neste ano, Márcia foi proibida por um decreto municipal de trabalhar como ambulante em seu carrinho de pastéis. “E qual não foi a nossa surpresa, né? Esse ano voltou tudo de novo, fechei carrinho. Aí fui para o supermercado Dia, porque eu já tive carrinho na porta de lá”.

No ano passado, ela conta que para a Páscoa, pedia massa de bolo para fazer o doce e distribuir para as crianças que moram nos morros de Santos. Neste ano, porém, a falta de gás de cozinha fez com que a ideia não fosse para frente. “Eu precisava de, pelo menos, um botijão de gás. Eu não tenho”.

Apesar de poder contar com a solidariedade de muitas pessoas, Márcia diz que já foi alvo de agressividade. “Esse ano eu estou sentindo que o pessoal está mais agressivo. ‘Ah, pede pro governo, pede pro prefeito, quem tem que ajudar é o governo, não sou eu, ninguém me ajuda’. Isso eu não escutava no ano passado. Me sinto até mal, fico chateada, mas é assim mesmo. Quem nunca passou fome, quem nunca passou necessidade, não sabe o que é isso”, desabafa.

Márcia finaliza dizendo que, caso consiga uma doação de botijão de gás, conseguirá fazer marmitas para distribuir a pessoas em necessidade. “Caso alguém se ofereça a doar um botijão, eu me proponho a fazer marmitas e distribuir aos moradores de rua”, finaliza.

Quem se interessar em ajudar, pode encontrar Márcia durante a semana em frente ao supermercado Carrefour ou supermercado Dia, na Avenida Conselheiro Nébias, em Santos, ou ligar no número (13) 99169-7069.

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