Segurança é oportunidade e risco para discurso eleitoral de Rodrigo
Por IGOR GIELOW/SÃO PAULO, SP/FOLHAPRESS em 05/05/2022 às 11:57
O governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), usou um velho palco para se apresentar de fato ao eleitorado que irá às urnas no estado em outubro: a segurança pública. É uma aposta que embute mais oportunidade do que risco.
Com baixo índice de conhecimento, o ex-vice de João Doria (PSDB) passou primeiro mês no cargo estudando variáveis e com baixíssima exposição pública. Foi-se o tempo das entrevistas coletivas ritualizadas e a presença online ostensiva do antecessor.
Começou também a dar sua cara ao governo, trazendo nomes consagrados como Zeina Latif (Desenvolvimento Econômico) e Felipe Salto (Fazenda) e novidades como Inês Coimbra (Procuradoria-Geral do Estado) e Laura Müller (Desenvolvimento Social).
Mas a mudança mais importante veio na mudança da cúpula das polícias. Rodrigo escolheu um delegado, Osvaldo Nico, e um coronel, Ronaldo Vieira, conhecidos por serem próximos do cotidiano dos subordinados.
Aqui, a questão operacional encontra a política. No escopo maior, do interesse público, Rodrigo precisava dar uma resposta à crescente sensação de insegurança na capital paulista, com a onda de assaltos envolvendo falsos entregadores por aplicativo.
Lançou uma operação para lidar com o problema e trouxe para o barco o prefeito Ricardo Nunes, cuja boa vontade é vista no Palácio dos Bandeirantes como um sinal claro da intenção do seu MDB de ser o parceiro de chapa de Rodrigo.
O governador, assim, fez sua estreia para valer no noticiário nesta quarta (4). Trouxe uma velha conhecida dos paulistas: a promessa de endurecimento com a criminalidade, algo que de Paulo Maluf (“Rota na rua”) a Doria (“Bandido que reagir vai acabar no cemitério”) sempre deu voto.
Fiel a seu tom comedido, Rodrigo modulou o que falava seu ex-chefe. “Bandido que levantar arma para polícia vai levar bala”, disse, retirando o cadáver da equação. Houve a grita usual de especialistas à esquerda e haverá do eleitor nesta faixa de frequência, mas não é a eles que Rodrigo fala, e sim ao dito paulista médio.
A esquerda tenta caracterizar esse segmento como uma elite, o que é falso. Inclui a elite, claro, mas também uma grande classe média de centros urbanos com medo de assalto e boa parte do eleitorado das franjas metropolitanas empobrecidas, influenciado pelo conservadorismo evangélico.
Cartão de visita na mesa, Rodrigo tem também um alvo secundário não menos importante, o bolsonarismo. Encarnado na figura do ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), o movimento retém força eleitoral em São Paulo e, nas contas do Palácio dos Bandeirantes, ainda pode crescer um pouco mais.
Empatados tecnicamente na terceira posição na mais recente pesquisa do Datafolha, Rodrigo e Tarcísio apelam para uma faixa semelhante de eleitorado e miram o segundo turno contra Fernando Haddad (PT), sendo Márcio França (PSB) a incógnita no processo. Ambos trazem uma bagagem mista de saída muito parecida: são desconhecidos, portanto pouco rejeitados, e têm problemas com seu padrinho.
Rodrigo pode tentar se descolar do impopular Doria, como já vem fazendo, amparado na enorme máquina que é o estado e seus R$ 50 bilhões em investimentos no biênio 2021-22. Já Tarcísio é Jair Bolsonaro, no sentido de que o voto nele é um voto no presidente, que está melhorando sua posição, mas carrega também enorme rejeição, o que impõe teto presumido ao pupilo.
Não por acaso, as inserções de TV do líder nas pesquisas, Haddad, focam na dupla rejeição, batendo igualmente em Doria e Bolsonaro.
Seja como for, Tarcísio apostou de cara na segurança, criticando o elogiado programa de câmeras corporais que ajudou a reduzir a letalidade policial e a morte de PMs em serviço. Está certo: a polícia em São Paulo, particularmente a Militar, é um ente bolsonarista.
No ano passado, Doria teve de punir um coronel que convocava manifestações antidemocráticas em rede social, e a tropa é muito próxima do diapasão bolsonarista. Menos até do que preocupação eleitoral, há no governo paulista a preocupação com a influência na maior força policial do país de um movimento que está em pregação aberta de contestação de qualquer resultado não seja a vitória de Bolsonaro.
Assim, a entrevista dada pelo novo chefe da PM à Folha, na qual ele riscou a linha separando simpatia política de atuação policial, é um recado eloquente feito por um oficial respeitado nas ruas. E há as compensações, como o pagamento de bônus policiais represados e outras medidas em estudo.
Tudo isso embute, claro, riscos. Doria foi obrigado a recuar de sua agressividade no tema após a ação da PM que deixou nove jovens mortos em Paraisópolis, em 2019. Mesmo nesta quinta (5), a Polícia Federal apreendeu um avião cheio de ouro escoltado pelos PMs. O PCC pode inventar uma nova e lucrativa modalidade de crime, ou a ação contra os motoqueiros pode fracassar.
Mas são ônus potenciais menores, à primeira vista, das vantagens que a aposta no cavalo conhecido traz.