11/03/2022

Scalene lança Labirinto, possível último álbum da banda

Por Gyovanna Soares em 11/03/2022 às 17:11

Divulgação
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Scalene lança Labirinto, o seu quinto álbum de estúdio, nesta sexta-feira (11). Nas redes sociais, a banda deu a entender que esse seria um provável fim. Portanto, o Santa Portal conversou com o vocalista, Gustavo Bertoni, que explicou a situação.

“Eu realmente não sei, não tem nem o que esconder, eu só não tenho o que falar. Os últimos anos foram muito intensos para a banda, e a gente já existe há 12 anos. É natural que a vida te leve para outros caminhos. Talvez a gente só precise de umas férias, talvez a gente só precise de um hiato”.

“A morte simbólica está muito presente nesse disco, não a morte literal, mas a gente deixar morrer aspectos nossos para que o novo nasça. Então, acho que talvez seja o último álbum mesmo, porque sempre é o último álbum, a gente nunca é o mesmo depois de lançar um álbum. Talvez, definitivamente, é o último álbum da banda que a gente foi até hoje”, finalizou.

Confira abaixo a entrevista na íntegra:

Como foi o processo criativo do novo álbum Labirinto? E como foi juntar diferentes propostas em um só álbum?

As ideias para esse disco começaram lá em 2019, pré-pandemia. Assim que lançamos Respiro, a gente já começou a entender o que seria um provável caminho para esse álbum. Por ter começado tão cedo, conseguimos desde o início alinhar muito bem a nossa expectativa e influências para esse álbum, nossas intenções, buscas. Então, a pesquisa para esse álbum foi a mais bem organizada e alinhada que já fizemos, isso envolvendo todas as artes, tipo cinema, literatura, muita coisa que a gente foi trazendo por caldeirão.

O apelido do álbum era Noir, que é um movimento do cinema, mas também já traz muita coisa consigo nesse nome, coisa da noite, escuridão, sombras e tal. Então, a gente ficou chamando esse disco de Noir durante um bom tempo, até chegarmos em Labirinto. Foi um processo de mergulho interno muito profundo. Nós brincamos muito com a frase “iluminar os becos da alma”, pois a gente queria muito entender a nossa sombra, escuridão, na busca de se tornar quem se é mesmo. Acho que esse disco, de uma forma mais intensa que antes, tem um certo se jogar no abismo, pular do precipício e se jogar na escuridão de nós mesmos.

Então foi muito intenso, nem sempre foi bonito e fácil, mas trouxe muita novidade para a nossa vida. Por ele ter esse teor muito denso e introspectivo, a gente queria compensar isso no som. É um disco vigoroso, extrovertido, as letras e os temas são mais introspectivos mas é um disco, para os padrões Scalene, intenso. É um disco que dá a cara a tapa. A gente focou muito nisso, na produção também. Não é um disco tímido, acho que essa é a palavra, eu não queria que fosse. Queria que a gente abraçasse quem a gente é, em nossa totalidade, em belezas e imperfeições, luz e sombras. Então, acho que é um disco muito completo e talvez seja o disco mais ‘Scalene’ que a gente já tenha feito. Estou com muito orgulho dele.

Esse álbum sai um pouco do que a Scalene está acostumada a fazer. Como você descreve essa nova fase da banda e o que fez vocês decidirem sair da zona de conforto?

A gente sempre sai da zona de conforto. Acho que esse é o nosso quinto ou sexto álbum, tirando os EPs e DVDs do meio do caminho. Então, sempre saímos da nossa zona de conforto. O desafio nesse álbum, de algumas formas, por mais que ele tenha várias novidades, foi retomar o rock. Quando você está sempre saindo da zona de conforto, sair da zona de conforto é estar na zona de conforto. Se desafiar nesse álbum significava também insistir em certas coisas, não só mudar. Acho que a insistência em coisas que você já é, já faz, é um grande desafio também, especialmente para uma banda que está acostumada a estar sempre mudando, então a gente quis focar nisso também.

Tem muitos elementos eletrônicos nesse álbum, o que foi uma novidade para a gente. Tem mais uso de sintetizadores, então, como sempre, foi realmente um passo em novos territórios, mas também foi uma retomada de muita coisa.

O nosso último álbum foi super MPB, super acústico, e o outro álbum de 2017 era roqueiro mas também era bem brasuca. Acho que voltamos para algumas coisas de um rock que a gente fazia no início da carreira, só que com a maturidade de hoje em dia. Creio que tem temas nesse álbum que a gente já falava sobre, só que eu sinto que agora a gente viveu na pele essas coisas. As questões filosóficas e existenciais da discografia do Scalene que eram muito poéticas e eram muito sobre a curiosidade de viver essas coisas. Agora acho que a Scalene viveu isso, faz parte nós. Então, as questões filosóficas e existenciais estão mais internalizadas, acho que ele fica mais potente, sincero.

As faixas que integram o álbum vão mostrar assuntos tratados ao longo da história da Scalene. Tem alguma canção que vocês estão mais receosos de expor para o público?

Não tem nenhuma canção que traga algum receio, acho que estou bem confortável com todas as letras. Tem uma música que é mais maluca sonoramente, então, rola uma curiosidade do quão louco as pessoas vão achar que isso é. Sempre que a gente lança uma coisa as pessoas acham muito diferente. Para nós já não é, porque a gente já está acostumado com aquilo, estamos convivendo com aquelas ideias durante anos. Às vezes chega de uma forma muito nova mas para gente já é familiar. Então, às vezes rola um pouco dessa curiosidade, não chega a ser um receio de tipo, “será que a gente fez muita loucura aqui ou as pessoas vão entender?”.

Liricamente, pelo contrário, estou super ansioso para que todo mundo mergulhe nessas letras, elas são muito viscerais. Acho que é uma grande importância, quase política, da gente olhar para si, não apontar o dedo, terceirizar responsabilidades, falar do outro e cancelar, mas e a gente? O quanto isso está trabalhando em nós mesmos? Esse disco é muito sobre isso, espero que isso atravesse as pessoas de uma forma construtiva.

O novo álbum da Scalene traz muito sobre autoconhecimento e evolução nas letras. Vocês passaram por isso recentemente? O que levou a fazer esse questionamento e seguir?

Acho que a pandemia fez isso com todo mundo, e esse foi um disco composto durante a pandemia. A palavra evolução, gostaria até de evitar, porque a evolução é muito relativa, o avanço é muito relativo. Acho que já fui até meio presunçoso demais na minha trajetória como artista de ficar falando sobre evolução.

Acredito que é um grande paradoxo esse disco, porque é o disco mais dark que a gente já fez, só que ao mesmo tempo, é um disco que mais me aproximou de uma autoaceitação e de amor próprio. É engraçado, é um disco denso, pesado, complexo, quase meio paranóico. Mas ao mesmo tempo, a aceitação de nossas camadas gera meio que um amor próprio e uma autoaceitação. Acho que projetamos bem menos coisa negativa para o mundo quando a gente está bem consigo mesmo e esse disco foi meio que tentar alcançar isso pelo caminho da sombra, não pelo caminho da luz. Foi tipo, “ah, vamos atravessar esse pântano aqui e ver que a gente aprende com ele”.

Você disse que a pandemia teve muito impacto nas reflexões. Mas teve também percalços para gravar?

A gravação em si não teve tanto percalço. A galera já está mais adaptada, usando máscara quase a todo tempo e tomando bastante cuidado, testamos antes de entrar em estúdio para gravar, fizemos todo o processo de teste todo mundo, então teve vários detalhes para ficar atento.

Mas o que mais mudou foi a rotina mesmo, dia a dia, vivência com a sociedade pandêmica e a pré-produção, definitivamente, foi muito modificada. Isso porque as demos foram feitas em casa, e elas eram muito despretensiosas, era sempre só o rascunho da música, e a gente trabalhava junto no estúdio, tocando junto. Mas por conta da pandemia, comecei as demos em casa no Logic. Sempre usei o To Base, passei a usar o Mac e o Logic e o flow de trabalho da plataforma meio que liberou muita ideia criativa. É uma plataforma muito fácil de produzir, muita coisa foi feita no computador e muita coisa das demos acabou ficando na versão final. Isso foi uma coisa diferente para a gente, gravava o sintetizador, mandava para o Lucão, ele refazia e isso acabou ficando na versão final.

Uma mensagem intrigante, divulgada nos últimos dias nas redes sociais, fez muitos fãs questionarem se esse é o último álbum da Scalene. O que tem por trás disso?

Não sei ainda, eu realmente não sei. Não tem nem o que esconder, eu só não tenho o que falar. Os últimos anos foram muito intensos para a banda, e a gente já existe há 12 anos. É natural que a vida te leve para outros caminhos. Talvez a gente só precise de umas férias, talvez um hiato. Mas eu não gostaria de adiantar, não tem nada definido. A morte simbólica está muito presente nesse disco, não a morte literal, mas a gente deixar morrer aspectos nossos para que o novo nasça. Então, acho que talvez seja o último álbum mesmo, porque sempre é o último álbum, a gente nunca é o mesmo depois de lançar um álbum. Talvez, definitivamente é o último álbum da banda que a gente foi até hoje.

Labirinto conta com a participação do Edgar em Ouroboros, Tanner Merritt em Fortuna e Gabriel Zander em 1=2. Como foi realizada a escolha dos feats em cada música?

Acho que foi por afinidade musical mesmo. Gabriel é um cara que a gente admira. O rolê do Zander, é um rolê louvável de uma banda longínqua, sincera, que faz um corre muito bem feito há muitos anos. Como tinha essa nossa volta ao rock a gente achou legal trazer um nome roqueiro thunderground.

O Edgar acho que foi por afinidade musical em uma música que nós sentíamos que tinha espaço para ter uma outra visão sobre tudo o que a gente estava falando, para não ser só uma visão nossa dos temas. O Edgar traz uma visão mais macro de uns temas que a gente fala de uma forma acho que menos poética, até mais literal, que eu achei muito legal. Ainda hiper abstrata a forma que ele fala sobre as coisas mas ele traz para a realidade de uma forma muito legal. Enquanto a gente está usando muitas referências mitológicas ou metáforas poéticas, ele traz para o urbano, para o Brasil, para a vida, e isso eu acho bem interessante. Então, foi por afinidade musical.

A gente gosta de colaborar com artistas. Até antes de lançar esse disco nós lançamos uma colaboração com Amen Jr, com Selvagens à Procura de Lei. Está no nosso DNA essa colaboração musical, e não tinha por que ser diferente nesse álbum.

O que Labirinto representa para a Scalene? E como estão as expectativas para o lançamento do quinto álbum da banda nesta sexta-feira?

Estou louco para voltar a fazer show, mostrar esse álbum ao vivo. É um álbum intenso, quero muito ver como essa intensidade vai atravessar a galera, como esse álbum vai chegar nos nossos fãs. Temos a grande sorte e conquista de ter fãs muito fiéis, que acompanham mesmo a discografia e vivem as narrativas com a gente. E é uma mudança forte de narrativa esse álbum. Estamos meio que convidando as pessoas para entrarem na escuridão delas mesmas. Só que não estamos nem tentando mostrar caminho para sair depois, tipo “vem para cá e depois se vira”. Quero muito ver como as pessoas vão reagir a isso. A expectativa é voltar a fazer show e ver como as pessoas vão lidar com a escuridão delas mesmas quando elas mergulharem nesse álbum.

Após o lançamento de Labirinto, vocês pretendem realizar uma turnê com esse álbum? Caso sim, pretendem vir para Santos?

Chama nós, que a gente vai. Pretendemos sim, a gente curte Santos, na verdade o primeiro show de volta da pandemia foi no Sesc Santos, foi muito legal. Então, devemos voltar. A ideia é fazer o máximo de shows possível desse álbum e ver o que acontece depois. Tem alguns sendo marcados, queremos divulgar as datas depois de lançar o disco.

Escute Labirinto abaixo:

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