"Santistas não se sentiram representados pela Grande Rio", diz pesquisador

CARNAVAL – Com o desfile que realizou no último domingo (7) em homenagem à Cidade de Santos, a escola de samba Grande Rio dividiu a opinião dos santistas, especialmente sobre a falta de referências e personagens históricos, como os canais, os prédios tortos e figuras como Pagu ou Bartolomeu de Gusmão (o Padre Voador). Entre os comentários dos internautas do Santaportal, muita gente diz ter tido a impressão de que a escola não pesquisou a Cidade nem recebeu ajuda da Prefeitura para montar o desfile. Hoje (11), o jornalista e escritor Sergio Willians, diretor da Fundação de Arquivo e Memória de Santos, se manifestou sobre o assunto nas redes sociais. Ele nega que tenham faltado informações históricas à escola.

Como e quando se deram as visitas da equipe da Grande Rio?
A primeira visita da equipe da escola à Santos aconteceu em março do ano passado. Eles vieram a Santos algumas vezes. Desde o início, levando em consideração que não há como mostrar todas as particularidades, foi apresentada a história básica, com os momentos e figuras mais importantes. Além de slides, foram mostrados os jardins, os bondes, os canais, a Santa Casa e as figuras históricas mais importantes, como José Bonifácio, Quintino de Lacerda e até mesmo a história do nosso Carnaval, com o Rei Momo Waldemar Esteves da Cunha, o mais famoso da Cidade. Tudo isso foi entregue a eles. Também foi entregue ao pessoal da Grande Rio o Almanaque Santista, com 12 fascículos sobre a história da Cidade, produzido pelo Instituto Histórico e Geográfico de Santos.

A equipe chegou a conhecer os pontos turísticos da Cidade?
Sim, levamos o carnavalesco para conhecer a Cidade. Ele se encantou por alguns, como a Bolsa do Café e o Monte Serrat.

Qual a sua opinião sobre o que foi apresentado no desfile?
Mesmo com a base importante que demos sobre a Cidade, fatos relevantes não foram apresentados na Marquês de Sapucaí. O Santos FC, por exemplo, é um item importante masnão é o principal. E o Carnaval do Rio praticamente só falou disso. Além disso, em momento nenhum conversamos sobre a banda Mamonas Assassinas ou nos foi dito que isto seria apresentado. Acredito que se a intenção fossemostrar o rock na Cidade, poderiam ter lembrado do Charlie Brown Jr., ou até mesmo do último show do Legião Urbana que aconteceu aqui mesmo, em Santos.

Qual poderia ter sido o motivo para a escola não ter aproveitado o material disponibilizado pelo acervo?
Eu entendo o desfile da escola de samba como uma peça artística. O que para nós é História, para o carnavalesco representa algo diferente. Eles pensaram mais no lado estético. O Monte Serrat, por exemplo, foi representado por uma caveira. Por isso várias peças ficaram de fora, eles não quiseram tomar para si a responsabilidade de retratá-las. Mas isso frustrou muito a gente. Compreendo a proposta, apesar de acreditar que quando se faz uma homenagem deve-se ser o mais fiel possível.

A impressão de muitos é de que a Grande Rio não conheceu a Cidade de Santos. Como você vê isso?
Apenas me manifestei hoje porque vi comentários como esse. Que diziam, entre outras coisas, que ninguém quis orientar a escola. Eu, pessoalmente, mostrei a Cidade, montei uma apresentação, apresentei os personagens e os fatos históricos, dei almanaques com fatos históricos. Eles tiveram acesso. Total acesso. Mas só usaram o que quiseram. Talvez exista o pensamento de que representar figuras mais populares,como Pelé, Neymar e Roberto Carlos em um desfile é muito mais importante e dá mais audiência do que contar sobre quem foi Brás Cubas. Apenas não admito que digam que não receberam informação.

O que os santistas realmente esperavam, na sua opinião?
Os santistas queriam ver a sua história sendo contada para todo o Brasil. Queriam se sentir representados, que os fatos relevantes daqui fossem mostrados. Queriam que o orgulho que temos de nossahistória fosse mostradopara todo o país.

Não perca na próxima segunda uma entrevista exclusiva com o carnavalesco da Grande Rio, Fábio Ricardo

A redação do Santaportal tentou contato com o carnavalesco Fábio Ricardo, da Grande Rio, mas não conseguiu falar com ele. Uma entrevista foi agendada pela sua assessoria para a próxima segunda-feira.