Após Rollo dizer que “sabe muito”, diretor de presídio policial teme resgate e pede remoção

Por Santa Portal em 11/01/2023 às 10:54

Crédito: Pedro Ernesto Guerra Azevedo / Santos FC
Crédito: Pedro Ernesto Guerra Azevedo / Santos FC

A revelação do investigador santista Orlando Rollo em reportagem televisiva transmitida em rede nacional, de que sabe muito sobre o tráfico internacional de drogas e pode colaborar com investigações do Ministério Público (MP), já repercute. O diretor do presídio da Polícia Civil, onde ele está recolhido com mais três colegas por força de prisão preventiva, pediu à Justiça a remoção do grupo para outra unidade por questões de segurança. As defesas dos agentes são contra a transferência.

A matéria da TV foi exibida no último domingo (8), no programa Domingo Espetacular, da Record. No início da reportagem, aparece trecho de videoconferência entre Rollo e promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MP, na qual o policial diz: “Eu tenho muita informação para passar para os senhores”. Ao final, o investigador declara: “Eu quero colaborar não só nesse caso como em outros casos também. Tenho informações sobre tráfico de drogas, tráfico internacional”.

Por meio e-mail encaminhado ao juízo da 5ª Vara Criminal de Santos no início da noite de segunda-feira (9), o delegado Guilherme Lazo Solano Filho, diretor do Presídio da Polícia Civil, na Zona Norte de São Paulo, afirmou que a reportagem “representou o mesmo que acender um barril de pólvora, pois, a partir de então, vários boatos de resgate para ‘queima de arquivo’ começaram a surgir, gerando inquietação no público interno e preocupação para esta Administração”.

Solano também informou que o presídio da instituição não dispõe de estrutura de segurança máxima, “sem condições de eventual enfrentamento diante de organizações criminosas com alto poder bélico”. A cocaína supostamente desviada pelos investigadores quando eles atuavam no 3º DP de Santos seria do Primeiro Comando da Capital (PCC). A facção é responsável pela maior parte da droga que sai de portos do Brasil, em especial o terminal santista, para abastecer outros países.

Por esses motivos, o diretor do presídio da Polícia Civil requereu, “em caráter excepcional”, a transferência de Rollo e dos demais policiais de Santos para uma “unidade prisional adequada, que ofereça a segurança que o caso requer”. A Justiça ainda não decidiu se acolhe ou não o pedido, mas as defesas dos investigadores são contra. O advogado Alex Sandro Ochsendorf, inclusive, considerou o pleito do delegado Solano como um “contrassenso”, desprovido de motivos concretos.

“A fundamentação utilizada pelo nobre diretor do Presídio da Polícia Civil está mais ligada com a repercussão midiática dos fatos do que com a própria segurança interna da unidade prisional. […] Não traz à baila qualquer mínimo elemento concreto que comprovasse os supostos ‘boatos de resgate para queima de arquivo’ que vem sofrendo a unidade prisional. Isto é, são meras ilações”, destacou Oschendorf, que defende os investigadores Orlando Rollo e Joaquim Bonorino.

Conforme o advogado, seria um “contrassenso” transferir os investigadores para garantir a sua integridade física e a própria vida, porque as unidades de segurança máxima, “como é sabido por todos, são dominadas por organizações criminosas que pretenderiam atentar contra a segurança dos acusados”. Ochsendorf destacou que no entorno do Presídio da Polícia Civil ficam grupos de elite das polícias Civil e Militar, tornando eventual resgate, além de pouco provável, um crime de “impossível consumação”.

Denúncia recebida

Ex-presidente do Santos, Rollo e os investigadores Ricardo Razões, Joaquim Bonorino e Marcelo Silva Paulo foram denunciados sob a acusação de desviar 790 quilos de cocaína para revendê-los ao próprio dono da droga, mediante o pagamento de R$ 4 milhões de resgate. Essa droga faria parte de um lote de 958 quilos da droga, mas apenas 168 quil0s foram regularmente apreendidos e exibidos pelos policiais. O episódio aconteceu na madrugada de 6 de agosto de 2022, na estrada de acesso à Ilha Barnabé, em Santos.

O Gaeco investiga o suposto desvio da cocaína e a tentativa de reintroduzi-la ao mercado mediante a cobrança e o pagamento de propina. O grupo especial do MP também foi responsável por oferecer denúncia contra os acusados, recebida pelo juiz Walter Luiz Esteves de Azevedo, da 5ª Vara Criminal de Santos, em 16 de dezembro de 2022. Os réus negam as acusações. As investigações ainda prosseguem para identificar outros envolvidos no esquema e recuperar o montante de droga que teria sido desviado.

Um desses envolvidos usou um celular, com prefixo 11, para manter tratativas para a devolução dos 790 quilos da cocaína com o advogado do traficante apontado como dono do carregamento ilícito. No recado (frase de apresentação) do WhatsApp, ele usa a sugestiva frase “Todo lo peligro se covierte em plata” (Todo perigo vira prata), atribuída ao narcotraficante colombiano Pablo Escobar e com indubitável referência a dinheiro. Há informações de que o Gaeco já sabe quem é “Peligro”. Só faltam as provas. (EF)

loading...

Este site usa cookies para personalizar conteúdo e analisar o tráfego do site. Conheça a nossa Política de Cookies.