30/07/2022

Reclamações levam à pausa nos testes do Instagram

Por Nayani Real / Folha Press em 30/07/2022 às 12:10

Na última semana, famosos e anônimos encheram as redes sociais com reclamações sobre as mudanças do Instagram, comparando novos recursos da rede ao concorrente chinês, o TikTok. O movimento ganhou maior projeção quando personalidades como as irmãs Kim Kardashian e Kylie Jenner publicaram uma imagem viral que pedia à plataforma que parasse de tentar se parecer com o “app vizinho”.

Em resposta à grande repercussão do movimento, que inclusive contou com petição para que a Meta ouvisse os usuários, o Instagram anunciou nesta quinta-feira (28) que irá diminuir as sugestões de vídeos e pausar testes do modo tela cheia no mundo todo, por tempo indeterminado. Ambos os recursos eram uma clara tentativa de se “tiktokizar”.

Apesar da pausa anunciada, Adam Mosseri, chefe do Instagram, disse ao público que os vídeos têm se tornado cada vez mais relevantes no Instagram. Nesta sexta-feira (29), ele publicou uma sequência de Stories em seu perfil, explicando o que muda com o anúncio.

Entre as alterações ele aponta que diminuir a entrega de vídeos para quem prefere fotos é difícil. “Eles estão crescendo com ou sem a gente”. A empresa indica o aumento de 30% no tempo que as pessoas passam assistindo a Reels no Facebook e no Instagram, um dos motivos para continuar fazendo mudanças no algoritmo.

Nesse sentido, especialistas ouvidos pela reportagem afirmam que, apesar das reclamações, essa é uma tendência global. O formato se intensificou quando o TikTok começou a se popularizar entre os quarentenados, no início de 2020. Ainda naquele ano internautas já comparavam as duas redes e questionavam se o Instagram estaria ficando obsoleto.

Aline Bak, especialista em influência digital, mentora e estrategista de marketing digital, considera vídeos ferramentas importantes para trazer dinamismo ao Instagram, e aponta que a audiência atualmente consome tudo de forma muito rápida.

Mariana Mesquita, especialista em estratégia de conteúdo, explica que a alteração na dinâmica do ambiente diminuiu a conexão entre as pessoas devido ao apelo comercial que adotou. “Agora a estratégia para impulsionar conteúdos é fazer parte das tendências, usando a música e o filtro do momento, no formato de vídeo vertical, e isso dificulta a criação de um conteúdo autêntico e original”, diz.

Para Lorelay Fox, nome artístico e drag persona de Danilo Dabague, 35, que conta com mais de 680 mil seguidores no aplicativo, essa dinâmica não é uma novidade e nem incomoda.

A “vovózinha”, como é conhecido pelos fãs, compara a dinâmica ao uso das tags, temas em evidência que pautavam as produções no YouTube há alguns anos, e acredita ser até mais fácil produzir por gerar um sentido de coletividade online.

À reportagem ele diz que o Instagram perdeu sua essência devido à frequência das alterações empregadas pela rede, além de criticar a falta de suporte da plataforma: “É como chegar no mesmo trabalho todos os dias, mas a empresa mudou. Você tem que se adaptar o tempo todo”.

Para Matheus Diniz, 29, criador da página Greengo Dictionary em 2019, alterações abruptas já foram motivo de ansiedade, mas o designer gráfico aponta que não é uma particularidade dessa rede. “Trabalhar com todas as redes sociais é hostil”, diz.

Atualmente com 1,6 milhão de seguidores, a página que traduz expressões típicas brasileiras para o inglês em tom bem-humorado, nasceu com publicações estáticas. Matheus acredita que foi um processo de evolução, mas conseguiu adaptar o conteúdo para atender o algoritmo sem perder a identidade.

O mesmo aconteceu com a Melted Videos, página híbrida criada em 2016, e que hoje tem 1,5 milhão de seguidores. Felipe Misale, 35, radialista fundador da Melted, e João Miguel, 33, arquiteto e urbanista que hoje integra a equipe de oito pessoas que comandam o conteúdo focado em memes, concordam com os impactos psicológicos negativos das redes, mas acreditam que a velocidade das mudanças nas ferramentas cause maior impacto para os perfis pequenos.

Ao contrário de Dabague, eles contam que recebem um bom suporte do Instagram, mas acreditam que o acesso ao serviço deveria ser mais difundido entre todos os usuários.

A especialista Aline Bak aponta ainda que a tentativa da plataforma de fazer com que o internauta siga cada vez mais contas causou estresse e fomentou a onda de reclamações. Apesar de ficar sob os holofotes a partir de uma repercussão negativa, Bak diz que a plataforma é soberana e isso não irá mudar rapidamente -isso porque faz parte da Meta, conglomerado de tecnologia que também é dono do Facebook e do Whatsapp.

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