16/07/2020

Procura por emprego na pandemia é adiada por conta do Auxílio Emergencial

Por #Santaportal em 16/07/2020 às 09:21

AUXÍLIO EMERGENCIAL – A perda de trabalho entre os funcionários informais diante da pandemia foi mais que o dobro registrado entre funcionários formais, de acordo com o estudo feito pelo Ibre-FGV. Devido ao isolamento social e o direito de uma renda mínima do auxílio emergencial, o número de pessoas fora do mercado de trabalho foi um recorde. Por isso, a volta desses trabalhadores a procura de emprego pode pressionar a taxa de desemprego.

A taxa estava em 12,9% no trimestre que se encerrou em maio. De acordo com o IBGE, foi acima do registrado em fevereiro (11,6%), antes das medidas de distanciamento social serem adotadas para tentar conter a propagação do vírus.

Levando em conta que muitas pessoas perderam o trabalho, mas não estão procurando um novo, não sendo assim consideradas desempregadas. Os pesquisadores Paulo Perruchetti, Tiago Martins e Daniel Duque, do Ibre-FGV, analisaram a variação da população ocupada para calcular os efeitos da crise sobre o emprego causada pelo novo coronavírus. Para avaliar o que acontece a cada mês, eles utilizam a metodologia desenvolvida pelo Banco Central que permite mensalizar a Pnad Contínua, de acordo com a pesquisa feita pelo IBGE com base nos trimestres móveis.

A ocupação brasileira somava 83,4 milhões de pessoas em maio, comparado com 93,5 milhões no mesmo mês em 2019, tendo uma queda de 10,7%, de acordo com o estudo realizado. A redução da ocupação dos informais foi de 15,1% em maio, se comparada ao recuo de 6,7% entre os formais.

No levantamento feito, são considerados informais os trabalhadores sem carteira de trabalho, empregadores sem CNPJ, trabalhadores por conta própria, domésticos sem carteira e trabalhadores que auxiliam familiares sem remuneração. Enquanto um trabalhador com carteira tinha uma renda média de R$2.226, os sem carteira ganhavam R$1.462, a doméstica sem carteira recebia R$773 e o trabalhador por conta própria, R$1.734, no fim de 2019.

”O governo tem pouca capacidade de agir sobre o mercado de trabalho informal, esse é um grande problema em termos de política pública”, afirma Duque. ”Outro fator problemático é que muitos desses trabalhadores estão no setor de serviços e comércio, em atividades que para serem viáveis economicamente dependem de aglomeração, o que seria até imprudente manter funcionando”.

A taxa de informalidade chegava a 44% em 2019, em maio a queda da população atingiu 10,7%, de acordo com o levantamento feito pelo Ibre. Liana Guimarães, diarista de 42 anos e moradora de Belo Horizonte, também faz parte dessa estatística.

”Estou desempregada e toda minha família também, estamos vivendo só com o poder de Deus”, diz ela. ”Eu trabalhava de segunda a sábado, fui mandada pra casa por todos os patrões sem pagamento. Eles dizem que, com a pandemia, estão sem condição de pagar. Meus filhos trabalhavam em lanchonete e meu esposo na construção civil, estão todos parados em casa”.

Os trabalhadores da construção civil, com uma taxa de informalidade de 73% em 2019, esse setor teve uma queda da população ocupada de 15,7% em maio, destaca Peruchetti. Apesar da construção ser enquadrada como atividade essencial, houve uma desaceleração no início de novas obras e queda na demanda de reformas residenciais.

Paulo Alves, assistente de pedreiro de 33 anos e morador do Jardim Ângela na Zona Sul de São Paulo, sentiu essa diferença. ”O último bico que eu fiz foi há 15 dias, carregando caminhão num depósito. As pessoas que contratavam para fazer um bico residencial estão com medo por causa da pandemia e tem menos obras acontecendo”.

Com a pandemia no país, a taxa de trabalho atingiu a mínima histórica de 55% em maio, vindo de 61,6% em fevereiro, antes do isolamento. A força de trabalho é a soma das pessoas que estão em idade para trabalhar ou em busca de emprego. A população fora dessa força de trabalho cresceu em 21,5% em maio.

A coordenadora do Boletim Macro do Ibre-FGV, Silvia Matos afirma que ”teremos uma volta dessas pessoas que estão fora do mercado de trabalho. Sem o auxílio emergencial, elas vão ter que buscar renda, então a taxa de desemprego pode subir mais num segundo momento”. Para Silvia, isso explica a pressa do governo em querer implementar a Renda Brasil, ampliando assim o Bolsa Família através da incorporação de outros programas já existentes.

Para a economista-chefe da gestora ARX Investimentos, Solange Srour, o mercado pode sofrer uma mudança no cenário pós-pandemia, com o rápido avanço tecnológico provocado pela crise, contribuindo assim para uma redução da demanda de trabalho menos qualificado. ”É provável um desemprego estrutural que permaneça elevado por mais tempo, ainda que nossa vida volte ao normal”, diz. Como a maior parte dos trabalhadores são pouco qualificados e de menor escolaridade, eles podem enfrentar dificuldade ainda maior ao voltar para o mercado de trabalho.

A taxa de desemprego hoje é de 13%, mas pode subir rapidamente para 20% com a volta dos trabalhadores após o relaxamento do isolamento social e com o fim do auxílio emergencial, diz a economista. ”Vai haver uma oferta maior de trabalho e demanda menor das empresas, que devem diminuir o número de vagas com o fim dos benefícios”.

As respostas do governo sobre esse assunto permanecem limitadas. Um modelo de desoneração de folha acompanhado de programas de qualificação de mão de obra e focado nos menores salários pode ser positivo, segundo Solange. Porém não terá nenhum efeito sem o avanço da agenda de reformas para uma retomada efetiva de crescimento.

De acordo com Duque ”não tem milagre, não há o que o governo possa fazer que faça ter uma recuperação rápida. O que poderia ter sido feito e não foi seria controlar a pandemia. Quanto mais tempo se alonga esse período, a incerteza permanece, com as empresas diminuindo as atividades e pessoas reduzindo o consumo, o que impacta cada vez mais o emprego”.

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