Prefeito de Manaus chora ao comentar situação na cidade com o novo coronavírus
Por #Santaportal e Estadão Conteúdo em 22/04/2020 às 07:25
CORONAVÍRUS – Arthur Virgílio Neto (PSDB-AM), prefeito de Manaus, afirma que a cidade vive estado de calamidade em meio à pandemia do novo coronavírus. São 1.664 casos e 156 óbitos no município. No domingo (19), 17% das 122 pessoas enterradas na capital do Amazonas morreram em suas casas. No dia seguinte, a taxa cresceu para 36% dos 106 óbitos.
“São números que mostram o colapso. Estamos chegando no ponto muito doloroso, ao qual não precisaríamos ter chegado se tivéssemos praticado a horizontalidade da quarentena, no qual o médico terá que se fazer a pergunta: salvo o jovem ou o velho?”, disse Virgílio, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo. “O Amazonas pede socorro. SOS Amazonas. Aceitamos voluntários, médicos, aparelhos que estejam em bom funcionamento ou novos”, completa. Ele se reuniu com o vice-presidente Hamilton Mourão para solicitar o que a cidade precisa para combate à doença: tomógrafos, pessoal treinado, equipamentos de proteção individual e remédios.
No encontro, Arthur Virgílio Neto também criticou a presença de Jair Bolsonaro em atos com pedidos de intervenção militar. O pai de Virgílio Neto, o senador Arthur Virgílio Filho, teve mandato cassado pela ditadura militar. “Não podia deixar de condenar o presidente participar de um comício, aglomerado, e ainda por cima tecendo loas a essa coisa absurda que foi o AI-5. Cassou meu pai, Mário Covas, pessoas acima de quaisquer suspeitas, e que serviam o país”, afirma. “É de extremo mau gosto o presidente participar de um comício, insistentemente contrariando a OMS e os esforços que fazem governadores e prefeitos. Bolsonaro toca diariamente nas minhas feridas”. Restou a Mourão ficar quieto.
Por sinal, Bolsonaro chegou a dizer, pouco tempo depois disso, que não é coveiro, quando perguntado sobre o número aceitável de mortes por Covid-19. Arthur Virgílio Neto, então, foi às lágrimas ao falar sobre esses funcionários. “Queria dizer para ele que tenho muitos coveiros adoecidos. Alguns em estado grave. Tenho muito respeito pelos coveiros. Não sei se ele serviria para ser coveiro. Talvez não servisse. Tomara que ele assuma as funções de verdadeiro presidente da República. Uma delas é respeitar os coveiros”, desabafa. “Não fui criado sob essa lógica do ‘homem não chora’. Nessa crise tem acontecido isso. Às vezes, consigo controlar. Muitas vezes, não”, emenda.
Valas coletivas
A rotina de 30 enterros por dia ultrapassou 120 no Amazonas e já exige o uso de valas coletivas no Cemitério Parque Tarumã, principal área de sepultamento na zona norte de Manaus. O Estado apresenta o maior índice de contaminação proporcional pela doença.
Segundo a Prefeitura, essa metodologia de “abertura de trincheiras”, já é utilizada em outros países. Diferentemente do que se convencionou chamar de vala comum, uma área de enterros sem identificações, essa medida “preserva a identidade dos corpos e os laços familiares, com o distanciamento entre caixões e com a identificação das sepulturas.”
O Amazonas registrou mais 110 casos de covid-19 nesta terça-feira, totalizando 2.270 relatos confirmados do novo coronavírus no Estado, segundo boletim epidemiológico divulgado pela Fundação de Vigilância em Saúde (FVS-AM). Também foram confirmados mais oito óbitos pela doença, elevando para 193 o total de mortes.
A Secretaria Municipal de Comunicação (Semcom), da Prefeitura de Manaus, informou oficialmente que, “com o aumento na demanda do cemitério público Nossa Senhora Aparecida, no Tarumã, em consequência da covid-19, e devido aos consecutivos conflitos entre familiares e a imprensa”, o acesso ao local está restrito “às famílias que forem enterrar os seus entes queridos, na quantidade máxima de cinco pessoas, conforme o Decreto 4.801, de 11 de abril de 2020”. “A medida visa a preservar a privacidade das famílias enlutadas e também considera o risco de propagação do novo coronavírus.”
“Hoje, dos 106 sepultamentos (no Estado), 36,5% das pessoas morreram em casa. Está se caracterizando certa falência, certo colapso das possibilidades de atender. Nosso Hospital de Campanha, e a prefeitura não tem obrigação de cuidar de hospitais, está trabalhando e bem. Hoje, se não me engano, foram quatro altas. Estamos acolhendo as pessoas com critério muito rígidos para termos certeza de dominância do quadro. O número de UTIs está crescendo e as UTIs estão totalmente lotadas. As quatro vagas abertas com certeza já foram ocupadas”, disse o prefeito Arthur Virgílio (PSDB) nas redes sociais.
A alta nos enterros coincide com o momento em que a ocupação dos leitos oscila entre 96% e 100%, segundo confirmou a secretária estadual de Saúde, Simone Papaiz, em boletim do governo. Faltam vagas em leitos clínicos e, principalmente, nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs). Entre casos suspeitos e confirmados de covid-19, 879 pessoas estão internadas, sendo 262 em UTI.
A diretora da Fundação de Vigilância Sanitária do Estado, Rosemary Pinto, atribui os números do Amazonas à falta de adesão ao isolamento, em Manaus. “A Polícia e a Vigilância passam nas áreas de comércios não essenciais e na hora eles fecham. Duas horas depois, nós voltamos e o comércio está todo aberto. A população não está aderindo ao ‘fique em casa’.”
Assistência
O Serviço de Pronto Atendimento da Alvorada, zona oeste de Manaus, a chegada de pacientes é crescente e os relatos são de estrutura precária, com falta de respiradores e de técnicos para trocar o cilindro de oxigênio. E os profissionais de saúde também se somam à lista de doentes: em uma semana, 52 testaram positivo no Amazonas. São 376 afastados. Houve nove mortes – três médicos, quatro técnicos de enfermagem e um gestor e um profissional de outra categoria.