"Perdi meu chão", diz influencer santista diagnosticada com autismo depois dos 40 anos
Por Rodrigo Martins em 02/02/2023 às 16:53
Já pensou descobrir depois dos 40 anos que você possui o Transtorno do Espectro Autista (TEA)? Essa situação aconteceu com a digital influencer e fisioterapeuta Andréa Jório, de 42 anos, que mora em Santos.
Após anos de terapia sem sucesso, ela finalmente encontrou a causa de seus problemas. “Eu já fazia acompanhamento psiquiátrico há muitos anos e sem bons resultados. Tive vários diagnósticos, mas nenhum tratamento era eficiente. Em 2012 comecei a ter crises e perda de controle em alguns momentos. Busquei uma especialista em autismo em adultos, que é bem diferente do TEA em crianças. Ao longo do acompanhamento e através de avaliação neuropsicológica, ela chegou a essa conclusão, que foi confirmada pelo psiquiatra”, disse Andréa, em entrevista exclusiva ao Santa Portal.
Para a digital influencer, receber o diagnóstico gerou uma ‘virada de chave’ em sua vida. “Podem haver outros transtornos, por isso o diagnóstico não é tão simples. Quando recebi o diagnóstico parecia que tinha resolvido todos os problemas da minha vida. Mas quando comecei a entender o que era o TEA e como ele tinha impactado minha vida por 42 anos, perdi o meu chão e a identidade”, afirmou.
Com o diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista e o tratamento correto, Andreá conta que passou a ter uma melhor qualidade de vida. No entanto, ela lembra que passou por altos e baixos durante esse período.
“Estamos indo muito bem, mas isso também inclui muitos momentos de confusão e cansaço. Ter uma vida normal é relativo, até porque essa é uma condição permanente, com momentos de crises e outros mais tranquilos. Os momentos de crise eram bem violentos, comigo e com quem estivesse perto. Já estou há muitos meses sem ter uma crise. Tomo uma medicação que ajuda a controlar. A terapia é constante e envolve toda a família”, explicou.
Ela destaca que ajustar a rotina familiar é um dos pontos fundamentais para que o tratamento dê certo. Andreá revela que seu filho também foi diagnosticado com TEA. “Melhorei muito do quadro psiquiátrico de depressão e ansiedade, mas o processo de inclusão na nossa família foi um dos piores momentos. Meu filho de 19 anos também é TEA. Conseguimos fazer ajustes e acordos na rotina da casa para deixar tudo fluir melhor: o trabalho, as tarefas e os momentos de individualidade. Mas é preciso informação e solidariedade para isso acontecer. Informação é essencial”, pontuou.
Com os resultados do tratamento e se sentindo melhor, Andreá resolveu compartilhar a sua história nas redes sociais para ajudar outras pessoas. “A inclusão não é simples. Mas poder falar a respeito me ajuda, me tira o peso de precisar ter um comportamento padrão. Eu não conseguia mais sorrir quando não estava com vontade de sorrir. Precisava poder ser eu mesma, mesmo que isso fosse meio estranho. Tenho dificuldade com alguns tipos de reuniões e eventos, preciso usar tampão de ouvido e meus óculos parecem uma máscara. Meu olhar algumas vezes vai para o além. Quero fazer tudo isso em paz, sendo eu mesma sem precisar disfarçar. E quero que as pessoas saibam que o TEA não é o fim, nem o limite. Mesmo que a princípio seja muito sofrido, com o tratamento correto o autismo é um mundo de possibilidades incríveis”, destacou.

Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal
Ao saber conviver com a sua condição, ela ressalta que desenvolveu outras características que lhe deram satisfação pessoal. “Todos esses ajustes potencializaram meu lado intelectual, passei a produzir mais e melhor. O autismo deu sentido a quem eu sou. Eu sabia. Sabia que havia algo diferente na forma como eu aprendia, sentia e reagia ao mundo”, concluiu.
O que é o TEA?
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio do neurodesenvolvimento caracterizado por desenvolvimento atípico, manifestações comportamentais, déficits na comunicação e na interação social, padrões de comportamentos repetitivos e estereotipados, podendo apresentar um repertório restrito de interesses e atividades.