Partido de Boris amarga derrotas nas eleições regionais do Reino Unido
Por FOLHAPRESS em 07/05/2022 às 08:54
O Boris Johnson sorridente que foi às urnas na quinta (5) acompanhando de Dilyn, seu cachorro, poderia parecer despreocupado com o resultado das eleições regionais. Forma bem diferente da que ele e seus partidários acordaram nesta sexta (6).
Os resultados parciais da votação revelam que o Partido Conservador, a legenda de Boris, perdeu controle de redutos tradicionais em Londres e sofreu reveses em outras regiões, com eleitores aproveitando o pleito para depositar nas urnas uma mensagem de repúdio à série de escândalos de seu governo –sendo o “partygate” o principal.
O cenário inicial segue, em partes, o que previam analistas e pesquisas. O revés para Boris, é verdade, está mais no campo do simbólico, já que os milhares de assentos em conselhos municipais e distritais não têm, em tese, impacto direto na política nacional.
A legenda do premiê perdeu, por exemplo, o controle do conselho de Westminster, na região de Londres, administrado pelos conservadores desde a sua criação, em 1964. Também passou para o controle dos trabalhistas o conselho de Wandsworth, reduto conservador desde 1978, e o de Barnet, sob comando quase que contínuo da sigla do premiê desde 1964 –exceto em duas eleições.
O atual pleito decidirá quase 7.000 assentos em conselhos municipais, incluindo todos os de Londres, da Escócia e do País de Gales, e um terço dos assentos do resto da Inglaterra.
Contagem do jornal The Guardian mostra que, até o momento, os conservadores perderam 284 assentos, enquanto os trabalhistas ganharam 171. Sobraram fatias consideráveis também para outras legendas, como os liberais, que ganharam mais 150 cadeiras –algumas das quais analistas previam que iriam em peso para os trabalhistas.
A BBC, com base nos resultados iniciais, estimou o que aconteceria se todo o país estivesse votando nas eleições desta quinta. Nesse cenário, 30% dos votos iriam para os conservadores, 35% para os trabalhistas e 19% para os liberais. O restante seria dividido entre siglas menores.
A vantagem de cinco pontos dos trabalhistas sobre os conservadores é a maior desde as eleições regionais de 2012. Em compensação, com a fatia de 30%, os conservadores caíram cinco pontos percentuais em relação a 2018 e seis pontos em relação ao ano passado –quando também foram realizadas regionais, mas em menor escala.
Em comentários após os primeiros números serem divulgados, Boris relativizou a perda para sua sigla. “Tivemos uma noite difícil em algumas partes do país, mas, por outro lado, em outras vemos os conservadores avançando e obtendo ganhos notáveis em lugares que não votam no partido há muito tempo”, disse o premiê.
Acrescentou, então, as lições que pensa ter tirado do que chama de “mensagem dos eleitores”: “Querem que foquemos as grandes questões que importam a eles, como a recuperação [econômica] pós-Covid, os problemas de abastecimento de energia e o pico inflacionário, e que continuemos nossa agenda de mais empregos e altos salários”.
Embora as eleições regionais em geral se distanciem dos grandes temas políticos nacionais, a série de escândalos que envolveu o premiê levou seus próprios correligionários a buscarem distanciamento. Alguns dos candidatos que, em circunstâncias normais, poderiam tentar capitalizar o fato de estarem no mesmo partido do chefe de governo fizeram o oposto: se apresentaram como “conservadores locais”.
E a cobrança veio tão logo surgiram os primeiros resultados, com conservadores dizendo que Boris terá de provar sua integridade perante os britânicos e responder aos questionamentos das urnas. “Claramente o premiê tem perguntas difíceis para responder; as pessoas estavam muito esperançosas com as políticas do governo, mas agora não estão felizes com o que ouviram sobre o partygate”, afirmou David Simmonds, parlamentar conservador, ao Guardian.
Reveses também para os trabalhistas
O líder trabalhista Keir Starmer descreveu os resultados parciais como “absolutamente fantásticos”. “Acreditem em mim: este é um grande ponto de virada para nós”, ele afirmou ainda pela manhã.
Pouco depois, porém, viu-se envolvido em caso similar ao que respingou na gestão de seu rival político, Boris Johnson. A polícia britânica anunciou que investigará Starmer por uma possível violação das regras de isolamento para conter a disseminação do coronavírus no ano passado. O caso foi apelidado de “beergate”.
Em abril daquele ano, o político trabalhista foi visto bebendo cerveja com colegas de trabalho durante uma reunião em Hartlepool, no nordeste da Inglaterra. A polícia local havia dito que concluíra que nenhum crime havia sido realizado, mas, nesta sexta, afirmou que, após o recebimento de novas informações, abriu uma investigação.
Prováveis mudanças na Irlanda do Norte
A votação na Irlanda do Norte, país de aproximadamente 1,9 milhão de habitantes, também tem peso significativo, mas por outras razões. Pesquisas de intenção de voto sugerem que o partido republicano Sinn Fein, ex-braço político do Exército Republicano Irlandês (IRA), deve se tornar a principal força política e, assim, eleger o premiê.
Elaborada pelo Instituto de Estudos Irlandeses da Universidade de Liverpool, a última sondagem sobre a escolha dos 90 deputados da assembleia regional, publicada na terça (3), atribui 26,6% dos votos ao Sinn Fein e 18,2% ao Partido Unionista Democrático (DUP).
Caso as projeções se confirmem –os resultados serão divulgados entre sexta e sábado (7)–, a legenda se tornaria o primeiro partido nacionalista a comandar o maior número de cadeiras da assembleia regional em 101 anos, desde a criação da Irlanda do Norte em 1921.
Ainda que a sigla não tenha mobilizado sua histórica pauta de reunificação com a República da Irlanda na campanha eleitoral, focando questões como a inflação e o custo de vida, este é o pano de fundo simbólico que se desenha caso o partido ganhe maioria.
Partidos pró-Reino Unido, apoiados predominantemente pela população protestante, dominam a nação há um século, mas as tendências há muito indicam que eles acabariam eclipsados por partidos nacionalistas, predominantemente católicos, que hasteiam a bandeira da união irlandesa. Na última eleição, em 2017, o DUP, unionista, conquistou 28 assentos, pouco à frente dos 27 do Sinn Fein.