Nina Maia faz MPB sintética e encontra a si mesma em álbum de estreia 'Inteira'
Por Amanda Cavalcanti/Folhapress em 31/10/2024 às 10:34
Quando escreveu a canção que abre seu disco de estreia, “Caricatura”, a cantora Nina Maia tinha 14 anos. Compondo desde os 12, ela fez músicas com Tiê, Maria Gadú e Liniker antes de alcançar a maioridade.
Nesta quinta-feira (31), ela debuta seu primeiro trabalho solo aos 21. Com faixas escritas ao longo dos últimos sete anos, “Inteira” documenta sua trajetória de adolescência e começo da idade adulta.
Filha de Philippe Fargnoli, guitarrista que já passou pelo Dead Fish e hoje toca no CPM 22, Nina fez aula de piano e guitarra quando criança e pegou um gosto precoce pela canção. “Desde pequena eu sabia que gostaria de fazer música profissionalmente, mas eu sabia que tinha meu caminho pra traçar”, disse a cantora em entrevista à Folha.
O processo de “Inteira”, então, começou quando Nina passou a se enxergar como não apenas uma compositora, mas também uma produtora musical. Junto com o produtor Yann Dardene, do selo Seloki Records, ela fez as oito faixas do álbum, além de tocar baixo, piano, teclado e guitarra. “Muitas vezes tive a oportunidade de entregar o disco nas mãos de alguém, algum produtor ou produtora, uma pessoa que já tivesse uma visão fechada para aquilo. Mas eu sempre parava no meio e pensava, não é isso. Era o momento de tomar as rédeas.”
“Inteira” é uma mistura lida com um contraste sonoro interessante: os timbres vocais de Nina e a estrutura e levada das canções lembram o nosso samba e MPB moderna, mas o espaço sonoro restante é completado com kicks eletrônicos e autotune. É uma sonoridade que a coloca ao lado de outras artistas do que pode ser considerado uma MPB um pouco mais sintética e experimental, como Luiza Lian e Ava Rocha.
“Eu queria que o álbum fosse uma mistura desses dois mundos que fazem parte de mim”, diz a cantora, que cita nomes que vão de Marisa Monte a Billie Eilish como inspirações musicais.
Assim como os da cantora americana, seus vocais são baixos e sussurrados, mas suas letras contam uma história potente de autodescoberta e amadurecimento. A personagem principal, descrita como “a menina de ouro” na primeira faixa do álbum, começa o disco introvertida e incerta sobre si mesma. “Eu não gosto de quem eu sou, tenho medo de ficar só”, Nina canta na segunda faixa, “Kaô”.
“Depois ela vai num movimento de olhar para dentro e falar, calma, mas o que tá acontecendo de fato? Quem eu sou?”, conta a cantora. “Acho que é sobre essa procura, sobre tentar encontrar a si mesma para poder se libertar. E, ao final, se sentir inteira finalmente.”
Segundo a cantora, o fio narrativo surgiu despropositadamente. “Quando juntei as músicas e fiz uma ordem, percebi que existia um arco e uma jornada. É super importante tirar de mim pessoalmente, mas também é um espelho dos meus últimos anos me tornando mulher”, complementa.
Antes do álbum ver a luz do dia, Nina já levava parte dele aos palcos acompanhada de uma banda que formou ao longo dos anos. Com a parceria dos músicos Thalin, Valentim Frateschi, Francisca Barreto e Thales Hashiguti, ela planeja fazer, ao vivo, uma versão “potencializada” de “Inteira”. O show de lançamento do disco acontece no domingo, dia 3 de novembro, no Sesc Avenida Paulista.
“É bonito o quanto a experiência de estar tocando, mesmo antes do disco sair, já fortalece a gente como banda”, fala Nina. “O nosso show está potente, e eu quero seguir rodando com esse show.”