05/04/2020

"Não tenho medo. A gente se expõe", Evaldo Stanislau, infectologista, com suspeita de coronavírus

Por Ted Sartori/#Santaportal em 05/04/2020 às 10:47

CORONAVÍRUS – O médico infectologista santista Evaldo Stanislau está afastado das atividades por suspeita de ter contraído o novo coronavírus. No aguardo do resultado dos exames, o profissional, que é médico do Hospital das Clínicas, em São Paulo, além de diretor clínico e infectologista do Hospital de Cubatão da FSFX e do PS de Cubatão, conversou com o #Santaportal a respeito do que está vivendo.

Quando e como tudo começou?
Na quarta-feira (1), começou um mal-estar. Na quinta (2), continuou e aí começou uma tosse, uma tosse seca. Ao longo do dia, essa tosse se intensificou um pouco. O mal-estar foi aumentando e à noite realmente parecia que eu tinha apanhado de tanta dor muscular que eu tinha, de um grande mal-estar, sensação de febre.

E no dia seguinte?
Na sexta-feira (3), isso se intensificou: uma sensação de febre, tosse importante, grande mal-estar. No sábado (4), saí pra fazer exames e isso cansou bastante, me obrigando depois a ficar de cama. Minha saturação de oxigênio, que estou monitorando, caiu num valor bem abaixo do normal. Ficou no limite de definir se vou pra o hospital. Mas, felizmente, me recuperei com repouso.

O senhor sentiu outros sintomas?
Ontem (sábado), eu perdi o olfato, a capacidade de sentir cheiro. E hoje estou trabalhando na minha mesa, no meu escritório, sem muitas atividades e conseguindo fazer minhas coisas. Evidentemente que isso se alterna com grandes períodos de grande adnamia (fraqueza muscular), dores musculares, a tosse continua…E vou monitorando. Hoje é o terceiro, quarto dia de sintomas. Normalmente a gente tem até o sétimo dia, que é um período crítico. A partir do sétimo dia é que podem aparecer complicações. A única preocoupação que tenho realmente é essa.

E não pode ser uma gripe comum?
Sou vacinado de gripe. Então a probabilidade de ser uma gripe comum existe, mas é menor, mas tomei vacina há um tempo que me protege. E tenho muito contato com pacientes e outras pessoas que tem casos de covid-19 convirmados.

O senhor tem medo?
Não tenho medo, nenhum temor. Acho que é um fator que acaba acontecendo. A gente se expõe, a despeito de usar EPI (equipamentos de proteção individual), a despeito de eu me cuidar, o vírus é altamente infectante, então isso pode acontecer mesmo. Estou fazendo disso um período de reflexão. Continuo trabalhando e alerto para que as pessoas realmente entendam que a única maneira de evitar é ficando em casa, obedecendo as atividades sanitárias. Eu não tenho opção, assim como os demais profissionais de saúde. A gente se expõe na linha de frente. Tem que ser assim. Não tem jeito mesmo, mas as pessoas que podem ficar em casa, fiquem, que saiam só para o que for essencial. Que elas entendam que covid não é uma coisa simples. Para muitos pacientes tem um desfecho muito ruim, principalmente os mais idosos, doentes crônicos, inclusive jovens. Então é isso.

E a expectativa pelo resultado do exame?
Minha expetativa é o exame vindo positivo, confirma, e se vir negativo existem variáveis técnicas. Repetirei o exame, se for necessário. Hoje no Brasil a gente adota um diagnóstico clínico epidemiológico. Eu ainda pertenço a um grupo que estou tendo a felicidade de recorrer a um laboratório. Tem muita gente que desenvolve sintomoas e nem pode fazer o exame. Fica só no diagnóstico clínico epidemiológico. Isso prejudica muito o controle, o estabelecimento de números totais.

Como lidar com tudo isso?
É tranquilidade. A gente tem que lidar com isso com espírito cidadão. Não somos nós. Tudo o que a gente faz impacta nas outras pessoas. Então a gente tem que ter a responsabildiade de ficar em quarentena, em isolamento social, distanciamento, e ser solidário aos profissionais de saúde, não usando os EPIs que podem fazer falta a eles e valorizando o trabalho, sobretudo daqueles que estão com a mão na massa, os técnicos de enfermagem, os enfermeiros, fisioterapeutas, médicos também.

Qual mensagem o senhor deixa?
Muda a nossa vida. Todo mundo tem um impacto muito grande quando um profissional de saúde fica afastado porque não só ele deixa de traalhar como pessoas que entraram em contato ou trabalham próximas também ficam em afastamento preventivo por até 14 dias ou até sair os exames. E isso impacta na rede. Em casa, todo mundo tem que ficar sozinho, quando há a suspeita ou a confirmação. Eu estou sozinho, no meu quarto, no meu escritório. Tenho essa condição. Quem não tem uma condição como essa e precisa compartilhar um cômodo ou uma casa, que fique a mais de um metro de distância dos demais. Todos os objetos íntimos têm de ficar separados, não podem ser mistrurados. A pessoa doente tem que usar a máscara para não transmitir aos demais e ter o cuidado de manter as janelas abertas, para garantir uma circulação de ar para tirar o vírus de combate.

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