Morre o compositor Gilberto Mendes, criador do Festival Música Nova

Por #Santaportal em 01/01/2016 às 21:05

Atualizado em 02/01/2016, às 16horas

SANTOS – Morreu no fim da tarde de sexta-feira (1º), Santos (SP), aos 93 anos, o compositor, jornalista, crítico musical, professor universitário e maestro Gilberto Mendes, um dos criadores do Festival Música Nova e grande incentivador das artes. Gilberto estava internado desde o Natal na UTI da Santa Casa de Misericórdia de Santos com problemas respiratórios. Ele morreu por falência múltipla dos órgãos.

O corpo foi cremado neste sábado (2), às 16 horas. A prefeitura de Santos decretou luto oficial de três dias.

A morte impactou a classe artística. O maestro Luis Gustavo Petri lamentou a perda. “Cada encontro com ele era uma lição. De música e de vida”. Ele destaca a tristeza profunda com que recebeu a notícia. “É sempre difícil ver um amigo partir. Eu conheci o Gilberto quando eu tinha apenas 8 anos de idade. Minha mãe cantava no Madrigal Ars Viva e eu assistia aos ensaios e onde conheci a comunidade musical Santista. É evidentemente o querido mestre. Sempre mantivemos contato. Quando entrei na USP em música em 1981 ele ainda era professor. Sempre com bom humor nunca ouvi Gilberto reclamar da vida. Quando voltei a Santos para criar a Sinfonica de Santos ele foi um dos grandes incentivadores. Participamos todo ano do Festival Música Nova e em algumas edições fiz parte da curadoria”.

A versão de “Santos Football Music” que foi usada no filme do filho dele, Carlos Mendes, é de Petri e da Orquestra Sinfônica Municipal de Santos. E foi feita uma fusão de imagens da versão de Eleazar de Carvalho e a de Petri. “Uma honra para mim e para a OSMS. Ele, sempre que a saúde permitia frequentava nossos concertos e eu ouvia deus elogios e críticas com atenção. Era um grande homem, que viveu intensamente. Trabalhou até o final da vida sempre provocando, instigando. Gilberto foi um dos divulgadores da música brasileira especialmente da linha que ele defendia. Muitas vezes em encontros com artistas internacionais assim que eu mencionava a cidade de Santos era sempre indagado sobre Gilberto. Ele foi um dos grandes artistas brasileiros com obras executadas no mundo inteiro”.

O escritor Flávio Viegas Amoreira, que era muito ligado ao compositor, também lamentou. “Estou manco de alma. O Brasil perde seu mais importante artista de vanguarda, nosso DJ erudito”. Foi baseado em um poema de Amoreira que Gilberto Mendes compôs sua última obra, uma peça para voz e piano. Gilberto deixa ainda um livro inédito, inspirado no período em que militou no Partido Comunista.

O jornalista Raul Christiano, ex-Secretário de Cultura de Santos e diretor das Oficinas Culturais do Estado de São Paulo, destaca a perda do ícone cultural de vanguarda. “Gilberto sempre foi aclamado muito mais onde há menos ignorância artística e cultural. Mas ele deixa uma vasta obra musical e um legado, para que Santos respeite e aprenda mais com exemplos de outros de seus artistas, que também fizeram história e são esquecidos”.

Raul lembra ainda a parceria de Mendes em diversos projetos nos últimos anos, como oLetras Santistas (reedição de obras raras de escritores locais, desde José Bonifácio) e Festival de Música & Letras (evento unindo música e literatura). “Sou um privilegiado e esteja certo que farei barulho por elas, até que saiam definitivamente do papel, com quem estiver no controle”.

Uma vida dedicada à música
Nascido em 1922 em Santos, Mendes foi bancário antes de se dedicar à música. Iniciou seus estudos de música aos 18 anos, no Conservatório Musical de Santos, comSavino de BenedictiseAntonieta Rudge. Praticamente autodidata em composição, compôs sob orientação deCláudio SantoroeOlivier Toni, e freqüentou oFerienkurse fuer Neue MusikdeDarmstadt,Alemanha, em1962e1968.

Foi um dos signatários doManifesto Música Nova, publicado pela revista de arte de vanguardaInvenção, de1963. Foi porta-voz dapoesia concretapaulista, do grupoNoigandres. Como conseqüência dessa tomada de posição, tornou-se um dos pioneiros no Brasil no campo damúsica concreta, aleatória, serial integral, mixed média, experimentando ainda novos grafismos, novos materiais sonoros e a incorporação da ação musical à composição, com a criação do teatro musical, dohappening.

Foi professor universitário, conferencista, colaborador das principais revistas e jornais brasileiros. Gilberto Mendes foi fundador (1962) e ainda o diretor artístico e programador do Festival Música Nova de Santos, o mais antigo em seu gênero em toda a América mas que não acontece mais na Cidade.

No Brasil, recebeu, entre outros, o Prêmio Carlos Gomes, do Governo do Estado de São Paulo, foi também diversos prêmios daAPCA, o I Prêmio Santos Vivo, dado pela ONG de mesmo nome, pela sua obra “Santos Football Music”, além de ter sido indicado para o Primeiro Prêmio Multicultural do jornal “O Estado de S. Paulo”. Também recebeu a Bolsa Vitae, o prêmio Sergio Mota Hors Concours 2003 e o título de “Cidadão Emérito” da cidade de Santos, concedidopela Câmara Municipal de Vereadores. Em cerimônia noPalácio do Planalto, emBrasília, no ano de2004, o autor recebeu a insígnia e diploma de sua admissão naOrdem do Mérito Cultural, na classe de comendador.

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