Lula volta ao Nordeste para tentar eleger 100% dos governadores aliados

Por Lucas Borges Teixeira/Folha Press em 13/10/2022 às 11:00

Bruno Santos/Folhapress
Bruno Santos/Folhapress

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou ao Nordeste nesta semana para tentar consolidar seu favoritismo na região -onde saiu à frente no primeiro turno- e ajudar na eleição de seus indicados em todos os nove estados nordestinos.


Em uma mistura entre apadrinhamento local e influência nacional, os quatro governantes eleitos em primeiro turno estavam com Lula -agora, ele quer impulsionar outros cinco.


O ex-presidente chegou na quarta (12) a Salvador para um cortejo com Jerônimo Rodrigues (PT), que acabou o primeiro turno na dianteira, referendando a virada indicada nas pesquisas.


Nesta quinta, vai a Aracaju com o senador Rogério Carvalho (PT-SE) pela manhã e a Maceió, à tarde, para apoiar o governador afastado Paulo Dantas (MDB). Na sexta (14), encerra a turnê em Recife, aderindo à campanha da deputada Marília Arraes (Solidariedade-PE).


Lula já havia prometido ir no segundo turno a todos os estados em que tem candidato -tanto para prestar apoio, quanto para pedir apoio. Desses, Dantas, Jerônimo e Carvalho já recebiam pedidos de voto do ex-presidente na primeira etapa

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Só Marília, ex-petista, acabou sendo preterida inicialmente por Lula, que apoiou o deputado Danilo Cabral (PSB-PE) por causa do acordo entre partidos da chapa nacional. O governador paraibano João Azevêdo (PSB) passou pela mesma situação, com Lula endossando a candidatura do senador Veneziano do Rêgo (MDB-PB), e agora também ganhará apoio do petista. Tanto Cabral como Veneziano acabaram em quarto lugar no primeiro turno em seus estados.


Depois da agenda corrida nesta semana no Nordeste, Lula deverá descansar no fim de semana e se preparar para o primeiro debate do segundo turno no domingo -a ser realizado por Folha de S.Paulo, UOL Band e TV Cultura. Já é esperado, porém, que o ex-presidente retorne à região em visita à Paraíba para apoiar a reeleição de Azevêdo.


Território vermelho


O Nordeste é a região mais determinante para a candidatura petista. No primeiro turno, Lula visitou os nove estados e conseguiu vencer com mais de 50% em todos eles -além de ver a eleição de quatro aliados:


No Rio Grande do Norte, a governadora Fátima Bezarra (PT) foi reeleita com quase 60% dos votos;


No Piauí, o professor Rafael Fonteles (PT), apadrinhado do senador eleito Wellington Dias (PT-PI), saiu do anonimato aos 57% dos votos;


No Ceará, em meio a um racha local com o PDT, o deputado estadual Elmano de Freitas (PT-CE) superou os candidatos bolsonarista e de Ciro Gomes (PDT) e, com ajuda do senador eleito Camilo Santana (PT-CE) e da governador Izolda Cela (sem partido), foi eleito com 54% dos votos;


No Maranhão, o governador Carlos Brandão (PSB), apadrinhado pelo senador eleito Flávio Dino (PSB-MA), passou na margem de corte com 51%.


Fechar a conta

Faltam cinco estados. Em todos, Lula tem um apoiador e um palanque no segundo turno. Em condições diversas, o PT diz acreditar na vitória de todos, mas uma situações são mais fáceis que outras.


Primeira parada de Lula na quarta, a Bahia tem o ex-secretário de Educação Jerônimo Rodrigues contra o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil). Diferentemente do que apontavam as pesquisas, o petista não só tirou a vitória prevista em primeiro turno para ACM, como ele mesmo quase conseguiu o feito, terminando a votação com 49,45% dos votos contra 40,8% do adversário.


No estado que deu uma das maiores votações a Lula, o senador Jacques Wagner (PT-BA) e o governador Rui Costa (PT) costumam lembrar que ambos foram eleitos ao governo em situação de virada semelhante de Jerônimo e dizem esperar seguir tendência, embora também seja esperado que os 9% do ex-ministro bolsonarista João Roma (PL) rumem para ACM.


Em Sergipe, segunda parada, Carvalho terminou o primeiro turno em primeiro com 44,7% dos votos, seguido pelo ex-deputado Fábio Mitidieri (PSD), com 38,9%. No estado, no entanto, o PT foi beneficiado pelo impedimento da candidatura de Valmir de Francisquinho (PL), único bolsonarista que liderava as pesquisas no Nordeste, na véspera da votação.


Em Alagoas, Lula enfrenta uma situação mais complicada. O governador Paulo Dantas foi alçado à dianteira das pesquisas e da votação graças ao seu apoio e ao apadrinhamento do senador Renan Calheiros (MDB-AL) e do então governador Renan Filho (MDB). Acabou com 46,6%, seguido por Rodrigo Cunha (União Brasil), com 26,7% – o senador Fernando Collor (PTB), nome de Bolsonaro, ficou de fora.


Agora, no entanto, Dantas foi afastado do cargo pelo STJ (Supremo Tribunal de Justiça) em uma operação que investiga rachadinha no seu tempo da Assembleia do Estado – ele entrou com recurso contra a decisão.
Após a operação, Lula defendeu Dantas, manteve a agenda em Alagoas e disse que ele deveria “disputar sub judice” com o apoio do petista “prazerosamente”. Ainda assim, entre os aliados já não há certeza de como o escândalo pode afetar o desempenho eleitoral do governador.


A disputa mais difícil, avaliam os petistas, está em Pernambuco. Mesmo sem o apoio oficial de Lula, mas com voto massivo dos petistas, Marília chegou ao segundo turno em primeiro lugar com 23,9% dos votos. Raquel Lyra (PSDB), que perdeu o marido no dia da eleição, ficou em segundo, com 20,5%.


Os nomes de Lula e Bolsonaro, no entanto, não ficaram muito atrás. O ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes Anderson Ferreira (PL) foi o terceiro com 18,15%, Cabral acabou em quarto com 18,06% e o deputado estadual Miguel Coelho (União-PE) em quinto com 18,04%.


Na primeira pesquisa do Ipec (ex-Ibope) divulgada no segundo turno, Marília aparece com 46%, oito pontos atrás de Lyra (54%). No PT, a avaliação é que, embora os votos do PSB tenham migrado para a ex-petista, a concorrente tucana recebe o apoio da maioria dos outros dois.


Por isso, a campanha de Marília aposta na influência direta de Lula para tentar impulsionar ainda mais seu nome. É esperado também que o PSB do seu primo João Campos, prefeito de Recife, também faça um aceno mais claro, embora haja resistência interna. Os dois racharam politicamente e fizeram uma eleição à prefeitura muito dura em 2020.


Embora ajudar a eleger governadores tenha sido uma prioridade de Lula desde o começo da campanha (hoje o PT se questiona se focar no Senado não teria sido uma estratégia melhor), o petista também avalia que a região onde é mais popular ainda tem potencial de conquista de eleitores, seja os que abstiveram ou que votaram em Ciro Gomes (PDT) ou em Simone Tebet (MDB).


Ciro recebeu 6,8% dos votos dos quase 7 milhões de eleitores do Ceará. No Rio Grande do Norte, foi 3,27% de 2,5 milhões de eleitores. Já Tebet, que também passou a apoiar a campanha petista, se saiu melhor em Alagoas (3,9%) e Sergipe (3,24%).


Lula e o PT entendem que a transferência de votos não é assim tão simples, mas trabalha com uma margem de 60% desse eleitorado, o que já poderia deixar o ex-presidente a um passo de garantir a vitória. Para isso, sua presença na região é vista como fundamental.

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