07/03/2025

Lula faz 1ª visita a assentamento do MST após relação de acenos e ataques

Por Artur Búrigo/Folhapress em 07/03/2025 às 09:03

Reprodução/Site MST/Acervo MST
Reprodução/Site MST/Acervo MST

O presidente Lula (PT) faz, nesta sexta-feira (7), sua primeira visita a um assentamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) em seu terceiro mandato.

A viagem a Campo do Meio, no sul de Minas Gerais, a 335 km de Belo Horizonte, é considerada um gesto de aproximação do presidente com o movimento após uma série de desavenças entre seus líderes com representantes do governo.

A cerimônia desta sexta acontece na escola Eduardo Galeano, reconstruída após ser demolida em 2020, em meio a confrontos do MST com a Polícia Militar pela reintegração de posse no acampamento Quilombo Campo Grande.

Será anunciada pelo governo a entrega de 12.297 lotes em 138 assentamentos, entre eles o próprio Quilombo Campo Grande, em 24 estados do país. Outro destaque é o lançamento do Desenrola Rural, recém-lançado programa de negociação de dívidas de produtores.

“O ato no local onde existe talvez o maior conflito pela terra no país representa a retomada da reforma agrária por parte do Estado brasileiro. Isso nos coloca de novo numa relação harmoniosa com o governo, mas o MST tem sua autonomia”, afirma Silvio Netto, dirigente do MST em Minas.

Ele evitou direcionar críticas ao ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira (PT), e disse que a decisão pela troca do chefe da pasta cabe ao presidente.

Como mostrou a coluna Painel, da Folha, aliados de Lula dizem que o evento desta sexta poderá servir como uma espécie de termômetro da permanência do ministro.

Relembre ataques e acenos entre o governo Lula 3 e o MST

Invasões à área da Embrapa

Em 2023, na primeira Jornada Nacional de Luta pela Terra e pela Reforma Agrária (conhecida como Abril Vermelho) da atual gestão, o MST invadiu uma fazenda em Petrolina (PE) que pertence à Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).

A empresa federal é conhecida por ser uma referência em pesquisa agropecuária, e o ato gerou forte reação do governo, que optou por adiar o anúncio dos planos para a reforma agrária.

O movimento argumentou que o governo não cumpriu os compromissos para assentamento das famílias no local e invadiu a sede da Embrapa outras duas vezes, uma ainda em 2023 e outra em 2024.

Programa para a reforma agrária

Em reação às invasões de abril de 2024, o presidente lançou um programa com o objetivo de ampliar e dar agilidade à reforma agrária no país e disse que não iria “pedir para ninguém deixar de brigar”.

Naquele mesmo mês, Lula exonerou Wilson César de Lira Santos, primo do então presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), do cargo de superintendente regional em Alagoas do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).

A medida atendeu a pedido do MST e foi articulada pelo ministro Paulo Teixeira.

Críticas do líder do MST

O líder histórico do movimento, João Pedro Stedile, elevou o tom dos questionamentos à política do governo para a reforma agrária.

Em um podcast, no ano de 2023, disse que faltou “coragem” aos ministros, que, segundo ele, em sua maioria desconhecem a luta social e têm medo dela.

Em dezembro passado, afirmou à coluna Painel que o movimento está cansado de promessas feitas pelo governo Lula desde que tomou posse e chamou a gestão da reforma agrária de vergonhosa.

Aceno de Lula a movimento e crítica a banqueiros

Um dia após lançar o Plano Safra para 2024 e 2025 com a cifra recorde de R$ 400,5 bilhões, em julho passado, o presidente disse que “não é mais o Stédile, são os presidentes dos bancos que estão tomando terra”.

“Todos os proprietários de terra que têm dívida agrária, os bancos estão tirando a terra deles”, afirmou o mandatário na época.

Disputa com Teixeira

Houve guerra de versões entre líderes do movimento e o ministro do Desenvolvimento Agrário sobre as ações do governo relativas à reforma agrária.

No mês de janeiro, em reunião com Lula no Palácio do Planalto, o dirigente João Paulo Rodrigues classificou como “ridículo” o número de 1.500 famílias assentadas por ano.

O movimento pleiteia o assentamento de 65 mil famílias. Paulo Teixeira diz que o governo se comprometeu com 30 mil famílias neste ano em um pacote de ações para acalmar cobranças do MST.

Investigação a atentado

O ataque que matou dois moradores do assentamento Olga Benário, na cidade de Tremembé (SP), em janeiro deste ano, aproximou a gestão federal dos integrantes do movimento.

Membros do governo escalaram a Polícia Federal para investigar o atentado e criticaram métodos da Polícia Civil, órgão de segurança chefiado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos).

Posse de presidente uruguaio

Em novo gesto recente de aproximação, Lula levou o dirigente João Paulo Rodrigues como convidado para acompanhar a delegação brasileira que participou da posse de Yamandú Orsi como presidente do Uruguai no último sábado (1º).

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