07/03/2025

Lula diz que pode tomar 'atitude drástica' sobre alimentos, e ministro nega interferência artificial

Por Catarina Scortecci, Artur Búrigo e Mariana Brasil/ Folha Press em 07/03/2025 às 18:45

Reprodução/ Youtube
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Durante discurso em Minas Gerais nesta sexta-feira (7), o presidente Lula (PT) afirmou estar “muito preocupado” com o preço dos alimentos e sinalizou que o governo pode tomar “atitudes mais drásticas” em relação ao valor do ovo.

“Fizemos uma reunião ontem no Palácio, tomamos algumas medidas. Mas eu quero encontrar uma explicação para o preço do ovo. O ovo está saindo do controle. Alguns dizem que é o calor, outros dizem que é a exportação. Eu estou atrás”, disse ele, a uma plateia de trabalhadores rurais ligados ao MST.

“Nós estamos tentando encontrar uma solução. A gente não quer brigar com ninguém. A gente quer encontrar uma solução pacífica. Mas se a gente não encontrar, a gente vai ter que tomar atitude mais drástica, porque o que interessa é levar a comida barata para mesa do povo brasileiro”, afirmou o petista, sem explicar o que seriam as medidas.

Nesta quinta-feira (6), o vice-presidente, Geraldo Alckmin, anunciou que o governo vai zerar a alíquota de importação para diversos produtos. A lista inclui carne, café, milho, óleo de girassol, óleo de palma, azeite, sardinha e açúcar.

A cesta básica já tem a sua tributação de importação zerada, conforme anunciou o vice-presidente, Geraldo Alckmin, mas o governo federal disse que vai fazer um apelo aos estados para que retirem impostos estaduais. As medidas devem entrar em vigor nos próximos dias.

O ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro, reforçou o pedido aos governadores, para que retirem o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) sobre a cesta básica, durante entrevista à GloboNews nesta sexta.

Fávaro também afirmou que as medidas anunciadas pelo governo federal, como zerar a alíquota de importação de produtos e estímulo à superssafra, devem ser suficientes para lidar com a alta de preços no país. O ministro também descartou a possibilidade de o governo fazer uma interferência artificial no mercado.

“Esse conjunto de ações, mais a superssafra, é uma garantia de que teremos uma diminuição sensível no preço dos alimentos no Brasil”, afirmou.

A estratégia do governo foi considerada inócua por associações de produtores de milho e café, que criticaram a decisão sob a justificativa de que não existem fornecedores internacionais com preço competitivo em relação ao brasileiro para esses itens.

Ao comentar a declaração do presidente sobre medidas mais drásticas, o ministro criticou a imposição de tarifas como as feitas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e classificou as decisões anunciadas pelo governo brasileiro na quinta como ortodoxas.

“O presidente Lula em nenhum momento quis usar esse tipo de artifício porque sabe que os efeitos colaterais não são bons”, disse ele.

Fávaro também falou de medidas que serão complementadas, como mudar a forma de pagamento do vale-alimentação dos trabalhadores, o que tiraria encargos caros e pressão inflacionária, segundo ele.

Antes do anúncio oficial, o governo estudava maneiras de conter a alta de preços, que avaliava zerar a alíquota de importação do trigo, por exemplo. A estratégia, no entanto, pode não ter grande relevância sobre a inflação, mas, conforme mostrou a Folha de S.Paulo, o governo avaliava que, ao menos, daria um sinal político de que alguma medida está sendo tomada.

Essa estratégia já foi tomada em diversas ocasiões, incluindo nas gestões de Dilma Rousseff (PT), Jair Bolsonaro (PL) e do próprio presidente Lula.

Na primeira reunião ministerial do ano, Lula cobrou especialmente os ministros do setor para trazerem medidas que baixassem o preço dos alimentos. Desde então, havia a expectativa de que os chefes das pastas apresentassem alternativas ao governo.

Na ocasião, o presidente se queixou da alta da comida e afirmou que, a partir daquele momento, o lema de seu governo seria “união, reconstrução e comida barata na mesa do trabalhador”.

No final de fevereiro, o presidente chegou a afirmar ter “obsessão por comida barata”, durante participação em evento no Rio de Janeiro.

“Eu tenho obsessão em fazer o alimento barato, barato, barato, para que vocês possam comprar”, disse o presidente na ocasião.

Nesta sexta-feira, Lula disse que o alimento pode ser ao mesmo tempo barato e com preço justo para o produtor.

“A gente acha que o produtor também tem o direito de ganhar o dinheiro. A gente não quer que o produtor tenha prejuízo. O que precisamos saber é que tem muito atravessador no meio, entre o produtor e o consumidor. Tem muita gente que mete o dedo no meio da gente. E nós vamos descobrir quem é o responsável por isso”, afirmou ele.

“Então estamos muito ansiosos. O governo inteiro está preocupado, empresários também. A carne subiu, mas já está descendo. Mas quem come carne tem que ter uma carne acessível para a gente fazer um churrasquinho, né?”, afirmou Lula.

Também disse que trabalha para manter a inflação controlada e destacou o crescimento do PIB.

Lula participou nesta sexta de um ato em que anunciou novos lotes de assentamentos para trabalhadores rurais, incluindo integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), eleitorado historicamente ligado ao mandatário, mas que andava insatisfeito com o governo federal.

O evento começou por volta das 12h no Acampamento Quilombo Campo Grande, onde vivem famílias do MST desde o final da década de 1990, no município de Campo do Meio, no sul de Minas Gerais. No local, funcionava a Usina Ariadnópolis.

Com crise de popularidade, Lula afirmou que encontrou um país destruído e que “arrumar a casa destruída é mais difícil do que levantar uma casa nova”, mas prometeu cumprir com promessas feitas na campanha.

“O ano de 2025 é o ano que nós vamos colher tudo que preparamos nos dois primeiros anos. Temos que entregar o que prometemos na campanha. Quero terminar meu mandato com a moral elevada com vocês. Devo minha eleição ao povo. É para vocês que eu devo governar”, disse ele.

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