27/10/2023

Lula diz que meta fiscal não precisa ser zero e prevê 2024 difícil

Por Marianna olanda, Mateus Vargas e Renato Machado/FolhaPress em 27/10/2023 às 18:04

Marcelo Camargo/Agência Brasil
Marcelo Camargo/Agência Brasil

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nesta sexta-feira (27), que a meta fiscal não precisa ser zero, como vinha sendo defendido pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda).

Lula disse que essa meta “dificilmente será atingida” porque, inclusive, não quer realizar cortes em investimentos e obras no ano que vem.

“Deixa eu dizer para vocês uma coisa. Tudo o que a gente puder fazer para cumprir a meta fiscal, a gente vai cumprir. O que eu posso te dizer é que ela não precisa ser zero. A gente não precisa disso. Eu não vou estabelecer uma meta fiscal que me obrigue a começar o ano fazendo corte de bilhões nas obras que são prioritárias nesse país”, disse o presidente.

Lula então acrescentou que o mercado sabe que a meta fiscal de déficit zero não será atingida, mas que os investidores são gananciosos.

“Então eu acho que muitas vezes o mercado é ganancioso demais e fica cobrando uma meta que eles sabem que não vai ser cumprida. Então eu sei, conversando com o Haddad, sei da vontade do Haddad, sei da minha disposição e quero dizer para vocês que nós dificilmente chegaremos à meta zero, até porque eu não quero fazer cortes em investimentos de obras”, afirmou.

“Se o Brasil tiver um déficit de 0,5% [em relação ao PIB, o Produto Interno Bruto], o que é? De 0,25%, o que é? Nada, absolutamente nada. Então vamos tomar a decisão correta e vamos fazer aquilo que vai ser melhor para o Brasil”, completou.

O mandatário também afirmou que 2024 será um ano difícil e que, por isso, pediu internamente um “check-up” sobre a atividade econômica tendo em vista impactos decorrentes de um possível desaceleração da China. Ele defendeu medidas para evitar que a situação saia do controle como uma “doença que não tenha mais cura”.

O mandatário participou de um café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto. Ele fez uma apresentação inicial e depois respondeu a algumas perguntas.

O evento aconteceu na semana em que o presidente retomou seus despachos de maneira presencial no palácio, após um período de recuperação das cirurgias a que foi submetido no fim de setembro.

A promessa de zerar o déficit das contas públicas já em 2024 foi feita pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no momento em que o governo enviou o PLDO (Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias) de 2024 ao Congresso Nacional, em abril.

O cenário de reequilíbrio dos números foi usado como premissa em toda a discussão do novo arcabouço fiscal

Na prática, a medida elevou a pressão do governo para aumentar as receitas. Na proposta de Orçamento enviada ao Congresso, a equipe econômica conta com um incremento de R$ 168,5 bilhões na arrecadação decorrente, em grande parte, de novas medidas.

A meta de zerar o déficit opôs o governo a parte considerável do Legislativo, que avalia ser inviável aprovar a proposta apresentada pelo governo.

Lula também afirmou, durante o evento, que prevê um ano de 2024 com dificuldades para a economia, por conta do contexto internacional. Mas disse que o governo federal fará uma análise da situação, para que possam ser tomadas medidas para evitar danos maiores.

“E obviamente que nós sabemos que o ano que vem se apresenta como um ano difícil por conta da queda de investimento da China, a queda do crescimento da China, aumento da taxa de juros americano”, afirmou.

“É por isso que inventaram o check-up, que é para evitar que a doença se prolifere. Então, temos consciência do que está acontecendo na economia mundial e temos que atuar agora para evitar que aconteça o que pode acontecer. É como a gente faz o ‘checkupzinho’ a cada um ano, dois anos, para evitar uma doença que já não tenha mais cura.”

O presidente também afirmou que o Brasil apresenta atualmente boas condições jurídicas e estabilidade para atrair investimentos internacionais, sendo o que chamou de “berçário dos investimentos”.

O presidente falou sobre a atração de investimentos em particular para a área de economia verde, com a negociação de créditos de carbono e outras medidas sustentáveis.

“Esse país se apresenta como novo berçário dos investimentos, e queremos competir com quem quer que seja porque nessa área [verde] acho que o Brasil é imbatível”, afirmou.

“Nós queremos construir parcerias produtivas para que as pessoas não venham com seus fundos aqui apenas explorar a taxa de juros alta. Que ele [investidor] venha para cá para investir em coisas produtivas que gerem um produto, que gerem um emprego, que gerem um salário, que gerem um dinamismo de crescimento na nossa economia brasileira, que é o que nós estamos precisando.”

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