13/12/2023

Joia de Santos, Beth Gomes já bateu 35 recordes mundiais

Por Paulo Favero/FolhaPress em 13/12/2023 às 11:00

Reprodução/Alexandre Carvalho/CPB
Reprodução/Alexandre Carvalho/CPB

Já são 35 recordes mundiais e contando. Para Beth Gomes, atleta paralímpica de 58 anos e que foi diagnosticada com esclerose múltipla em 1993, sua luta é encarar um dia de cada vez. “nesta terça-feira (12) eu posso estar falando, nesta quarta-feira (13) eu não posso, nesta quarta-feira (13) eu posso acordar, depois eu não posso”, disse ao à reportagem.

O currículo da atleta é extenso. Ex-jogadora de vôlei, acabou mudando de esporte após seu diagnóstico da doença neurológica autoimune. Competiu no basquete em cadeira de rodas e agora faz sucesso no arremesso de peso e no lançamento de disco.

“Eu sei que estou me superando, querendo mais, e tudo é consequência dos treinamentos, eu bater meus próprios recordes, então eu fico muito feliz com isso, eu sei que eu estou vivendo, eu sei que a esclerose múltipla ela não vai me dominar, eu vou controlá-la”, afirma a atleta.

Confira a entrevista com Beth Gomes

Pergunta- Quando você se descobriu atleta?

Beth Gomes – Eu pratico esporte desde a minha infância. Antes de ficar deficiente, com 14 anos eu iniciei no vôlei e competi até 27 anos. Foi quando eu fui acometida pela esclerose múltipla e encerrei minha carreira sendo tricampeã pela minha cidade de Santos. Para mim a vida tinha acabado, de 1993 até 96 eu fiquei em depressão, não aceitava a minha vida profissional, pensei que tinha acabado. Até que eu iniciei no basquete em cadeira de rodas, conquistei vários títulos e participei das Paralimpíadas de Pequim (2008), e em 2006 eu ingressei para o atletismo de campo, e é onde eu comecei a me destacar e obter bons resultados. Em 2010 encerrei minha carreira no basquete sobre rodas e foquei no atletismo, ingressando na seleção brasileira e é onde eu estou até hoje.

P – O que a esclerose múltipla faz com a pessoa?

BG – A esclerose múltipla é uma doença autoimune, desmielinizante, que ataca a bainha de mielina, então pode até deixar sequelas. No meu caso, eu tive sequelas de paraplegia, afetou a minha medula, então preciso controlar a esclerose múltipla com os medicamentos, atividade física, que é muito importante, para você não ficar uma pessoa sedentária. Você pode viver com a esclerose múltipla. Então, você cuidando, como eu sempre digo, a esclerose múltipla é minha amiga, ela caminha do meu lado, mas ela nunca vai estar me vencendo, eu sempre vou estar vencendo ela e a respeitando.

P – E sua família, como que lidou com tudo isso?
BG – No começo, quando eu fiquei deficiente, tudo era uma novidade, era uma coisa que ninguém esperava, mas eu tive todo o respaldo da minha família, dos meus amigos, graças a Deus.

P – E as pessoas que têm, o que você recomenda?

BG – Eu sou uma das veteranas com a patologia da esclerose múltipla dentro do esporte, eu fui uma das primeiras atletas a ingressar no paradesporto, então, eu quero dizer que se você foi acometido pela esclerose múltipla, venha para o esporte, seja para alto rendimento, para as suas atividades físicas, para o seu controle de saúde, não deixe de fazer uma atividade física.

P – Como é ser veterana e conviver com muitos jovens no atletismo, provando que não existe limite para ter um bom desempenho?

BG – Olha, eu sou uma das mais velhas da delegação brasileira, com 58 anos, e a juventude que está aqui, a molecada, é muito gostoso estar com eles, porque eles se respaldam em mim, me pegam como referência, e eu fico muito feliz por ter esse carinho de todos esses atletas. Alguns até me chamam de mãe, eu tenho muitos filhos do esporte, filhos do coração, então é muito gostoso saber que no auge da minha idade eu ainda estou aí deixando alguns legados para quem está vindo para o esporte. Sou um espelho para muitos, tanto aqui no comitê quanto na minha equipe lá em Santos. É muito gratificante isso.

P – E agora, quais são os seus objetivos? Você é campeã paralímpica e mundial, recordista mundial, o que mais você quer?

BG – Eu estou aí, enquanto eu tiver saúde, eu vou continuar treinando, Paris é logo ali, e vou até onde der.

P – Você tem uma meta, um número mágico que você sonha em chegar?

BG – Como diz minha treinadora, vamos aí até os 70 anos no atletismo, vamos embora. Se der, estou aí.

Os paralímpicos, em algumas provas, não têm tanto o peso da idade, então eu vou continuar, até quando eu conseguir treinar. Desde Tóquio-2020 o ciclo continua. Não parou e os treinamentos continuam.

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