11/04/2023

Inflação de março sobe 0,71% com pressão da gasolina

Por Leonardo Vieceli/Folha Press em 11/04/2023 às 14:00

Rivaldo Gomes/Folha Press
Rivaldo Gomes/Folha Press

O índice oficial de inflação do Brasil teve alta de 0,71% em março com a pressão da gasolina mais cara. É o que apontam os dados do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) divulgados nesta terça-feira (11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O indicador, contudo, desacelerou o ritmo de alta na comparação com fevereiro, quando havia subido 0,84%. Segundo o IBGE, esse movimento se deve à perda de força de produtos e serviços diversos, incluindo artigos de residência e alimentos.

A variação de 0,71% ficou abaixo das expectativas de analistas consultados pela agência Bloomberg. A mediana das projeções era de alta de 0,77% em março.

Com o novo resultado, o IPCA acumulou inflação de 4,65% em 12 meses, abaixo dos 5,60% até fevereiro. Trata-se do menor nível desde janeiro de 2021, quando o índice marcava 4,56%.

Gasolina mais cara

Dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados, 8 tiveram alta de preços em março. O segmento dos transportes foi o destaque, com o maior impacto (0,43 ponto percentual) e a maior variação (2,11%).

Nesse grupo, houve influência da gasolina, que subiu 8,33%. O combustível foi o subitem com o maior impacto individual em março (0,39 ponto percentual).

O etanol também teve alta (3,20%). O mês passado marcou o retorno parcial da cobrança de tributos federais sobre os dois combustíveis.

“Os resultados da gasolina e do etanol foram influenciados principalmente pelo retorno da cobrança de impostos federais no início do mês, estabelecido pela Medida Provisória 1.157/2023. Havia, portanto, a previsão do retorno da cobrança de Pis/Cofins sobre esses combustíveis a partir de 1º de março”, disse André Almeida, analista da pesquisa do IBGE.

Artigos de residência em queda

O único grupo em queda foi o de artigos de residência (-0,27%), que tinha subido em fevereiro (0,11%). O ramo foi puxado pela baixa nos preços dos itens de TV, som e informática (-1,77%), principalmente televisor (-2,15%) e computador pessoal (-1,08%). Os eletrodomésticos e equipamentos também recuaram (-0,23%).

Do lado das altas, após os transportes, vieram saúde e cuidados pessoais (0,82%) e habitação (0,57%). Esses segmentos, contudo, desaceleraram ante o mês anterior —os avanços haviam sido maiores em fevereiro, de 1,26% e 0,82%.

Alta de alimentos perde força

Outro grupo que perdeu força em março foi o de alimentação e bebidas, que tem o maior peso no cálculo do IPCA. A alta dos preços atingiu 0,05%, após 0,16% no mês anterior.

Essa desaceleração foi influenciada pela queda da alimentação no domicílio (-0,14%). Trata-se do primeiro recuo em seis meses.

“Pelo lado positivo, um dos destaques ficou por conta de alimentação e bebidas. O grupo possui o maior peso e avançou somente 0,05%. Esse valor é ainda mais significante considerando que a alimentação no domicílio, a mais essencial, teve deflação [queda]. Esse movimento de arrefecimento parece ser um ajuste gradual das cadeias produtivas globais desde o 2º semestre de 2022”, analisou o banco Original.

Nos alimentos, houve queda nos preços da batata-inglesa (-12,80%) e do óleo de soja (-4,01%). Também foram registrados recuos da cebola (-7,23%), do tomate (-4,02%) e das carnes (-1,06%). Do lado das altas, destacam-se a cenoura (28,58%) e o ovo de galinha (7,64%).

André Almeida, do IBGE, indicou que um dos fatores para a trégua dos alimentos é a oferta maior de determinados produtos no mercado interno. As carnes, por exemplo, podem ter caído com o embargo a exportações brasileiras para a China e o período da quaresma, conforme o pesquisador.

Meta de inflação e juros

O centro da meta de inflação, que serve de referência para o BC (Banco Central), é de 3,25% em 2023. O intervalo de tolerância é de 1,5 ponto percentual para mais (4,75%) ou para menos (1,75%).

Embora o IPCA tenha ficado abaixo do teto em abril, analistas esperam que o índice volte a ganhar força no segundo semestre, estourando a meta pelo terceiro ano consecutivo.

Na mediana, o mercado financeiro prevê inflação de 5,98% no acumulado até dezembro de 2023, conforme a edição mais recente do boletim Focus, divulgada na segunda (10).

“Entendemos que a dinâmica do IPCA no ano terá 2 atos: arrefecendo até o 1º semestre, mas voltando a subir no segundo 2º semestre. Projetamos uma alta de 6,1% em 2023”, afirmou o banco Original.

Neste início de governo, o BC virou alvo de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O motivo foi o patamar dos juros no país.

Em uma tentativa de conter a inflação, o BC manteve a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano. Ao esfriar a demanda por bens e serviços, a medida busca frear os preços e ancorar as expectativas para o IPCA.

O efeito colateral esperado é a perda de fôlego da atividade econômica, porque o custo do crédito fica mais alto para empresas e consumidores.

Lula já defendeu uma flexibilização na meta de inflação com a expectativa de abrir espaço para o corte dos juros. Parte dos economistas, contudo, entende que o efeito concreto seria o oposto, por ampliar as incertezas.

“Se a meta [de inflação] está errada, muda-se a meta”, disse o presidente na semana passada.

De acordo com o economista André Braz, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), os juros altos já mostram reflexos sobre os preços de bens duráveis, enquanto os serviços seguem como um desafio para o BC.

Na visão de Braz, o “processo de desinflação está em curso, ainda um pouco tímido”. “Para o mês abril, esperamos uma inflação em torno de 0,4%”, projetou.

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