14/09/2017

Indústria Cultural: como o cinema e a televisão retratam as drogas

Por Noelle Neves/Colaboradora em 14/09/2017 às 15:16

CULTURA – Um pai encontra no casaco do filho adolescente um cigarro de maconha e o manda para um hospital psiquiátrico. Essa é uma das cenas de Bicho de Sete Cabeças , representando como a arte mostra o uso das drogas no cinema. A série Breaking Bad , por outro lado, mostra um professor de química que começa a produzir metanfetamina, após ser diagnosticado com câncer terminal, para pagar as dívidas hospitalares e ajudar a família.

O crítico de cinema do site CinemAqui, Vinícius Carlos Vieira, acredita que o cinema blockbuster atualmente foge da temática, mas que o cinema independente não. A abordagem pode ser em várias formas. Requiém para um sonho tenta entender o significado das drogas, enquanto Scarface usa a droga para traçar o perfil do vilão.

Em relação ao cinema nacional, o crítico comenta que a indústria prefere abordar a trajetória dos fornecedores de drogas, como em “Meu nome não é Johnny”, “Tropa de Elite” e “Cidade de Deus”.

Segundo o jornalista e professor, André Rittes, a Industria Cultural visa ao lucro e quando vai produzir um conteúdo, analisa o que é lucrativo no momento: “Criar uma série como Breaking Bad , por exemplo, é fazer apologia? Ou a série Narcos é ser crítica? Não sei. Fica difícil classificar quando a única baliza é o dinheiro”.

Vieira ressalta que não existe apologia a nada quando o assunto é arte. “O cinema e a televisão precisam se apropriar de símbolos (semiótica) para compor personagens e situações. O personagem estar bebendo cerveja tem um significado, se estiver bebendo uísque, outro. Isso compõe suas personalidades”, disse.

Vida dos Atores
Heath Ledger, Marilyn Monroe e Cory Monteith são frequentemente lembrados, quando se pensa em atores que morreram de overdose.

Segundo a psicóloga Rosa Lopes, a pressão causada pela fama e dinheiro é um dos principais causadores para artistas entrarem no mundo das drogas. ”O uso de cigarro, bebida ou alguma droga ilícita causa prazer, portanto alivia a pressão que sofrem no dia a dia. Mas não podemos generalizar.”

A estudante de teatro N.N.M. relatou que sempre antes de entrar em cena, ingere bebida alcoólica para ajudar a perder a timidez: “A primeira vez foi em uma peça, em que a personagem que eu iria interpretar era sedutora e dava em cima de muitos homens. Eu ficava tímida e usei a vodka como saída. Eu não podia decepcionar as pessoas que acreditaram em mim para fazer o papel. Desde então, bebo sempre”.

Reflexo no público
“O problema no cinema e na televisão é que são artes baseadas na imersão, então quando você está naquela imersão, concentrado, você pode sentir o que o personagem sente”, explicou Vieira.

Levando em consideração esse comentário, as cenas de drogas em filmes, novelas e séries influenciam o público? Vinícius Carlos Vieira acredita que não, porque o uso das drogas, na maioria das vezes, é prejudicial para o personagem: “Se a Indústria Cultural influenciasse, acredito que teríamos um mundo melhor, já que por definição, por exemplo, as sitcons, sempre têm uma lição e um ensinamento”.

Rosa discorda e justifica que dependendo do público, por existir essa possibilidade de reconstituir a realidade, é mais fácil para influenciar a população a fazer o que indústria julgou como certo naquele momento. “O cenário é mais complicado ainda, quando falamos de crianças assistindo a determinados filmes ou novelas. Nos Estados Unidos, há um tempo, teve um caso famoso de uma criança que pulou da janela, porque um ator pulava em um comercial e continuava vivo. Dependendo da mensagem que o filme deseja passar, pode sim influenciar”.

Na televisão brasileira, a novela Verdades Secretas mostrou a vida da modelo Larissa ao se envolver no mundo das drogas. A atuação de Grazi Massafera causou muitos comentários positivos e alavancou a carreira da atriz, sendo inclusive indicada ao Emmy. A personagem usava drogas como fuga dos problemas que passava na vida, como a mãe que a explorava e a agência que a pressionava para ser a melhor.

A estudante Verônica Benicio é apaixonada por novelas e acredita que, na maioria dos casos, as cenas conscientizem em relação às consequências negativas. “No quesito social, o papel dela é ainda mais importante pelo simples fato de que expôs um lado pouco explorado do mundo das drogas, onde as mesmas conseguem acabar com uma carreira, com toda uma beleza. Não me influenciou, me fez ter pavor desse mundo”, finalizou.

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