Família perde casa que comprou há 7 dias por fortes chuvas no Guarujá: “Não volto, tenho medo de fechar os olhos e morrer ali”

Por Beatriz Araujo e Yasmin Braga em 20/02/2023 às 06:00

Yasmin Braga/Santa Cecília TV
Yasmin Braga/Santa Cecília TV

Em uma semana, a conquista da compra da casa própria se transformou em um pesadelo para a família da copeira Jacielma Gracielly, instalada no Morro da Vila Baiana, do Guarujá. Isso porque, neste final de semana, a casa foi abalada pelas fortes chuvas e ela, seus três netos, dois filhos e marido, tiveram que deixar tudo para trás, sair do local e seguir rumo a um abrigo emergencial.

Em entrevista à Santa Cecília TV, Jacielma explica que, no sábado (18), estava no trabalho quando recebeu uma ligação de sua filha contando que machucou o braço porque metade da parede da casa recém comprada pela família caiu em cima dela. 

“Saí correndo do trabalho e quando cheguei minha filha e meu marido tinham pego as crianças e estavam me esperando em uma rua próxima”, explica. 

Sem saber para onde ir, a família ficou na casa de um vizinho até o começo da madrugada. Até que decidiram voltar para a resiliência em situação de risco para tentar resgatar algumas coisas, necessárias para os próximos dias incertos. 

Insistiram para a Defesa Civil liberar a entrada e, com muito custo, tiveram alguns minutos de acesso à moradia. “Por causa do nervosismo e da ressaca perdemos um pouco o foco e não conseguimos pegar, realmente, tudo que necessitamos”, relembra Jacielma. 

A partir disso, sem ter um lugar para ficar, a família foi direcionada para o abrigo montado no Ginásio Tejereba, onde seguem neste domingo (19). “Foi terrível. Não temos como pagar um aluguel porque a gente deu o único dinheiro que tínhamos nessa casa e, praticamente, perdemos tudo. A casa ficou lá, mas não tem mais condição de voltar”. 

Jacielma acredita que, por ser uma família com crianças, a situação é ainda mais sensível e a faz se sentir paralisada. “Sozinha você se vira, não estaria aqui. Mas não tem como pedir para ficar na casa de alguém e se enfiar na casa da pessoa com um monte de criança”, desabafa.

Por isso, sua decisão, por conta da impossibilidade de outras alternativas, é seguir sem trabalhar para cuidar de todos. O futuro segue nebuloso. Mesmo se houver a possibilidade de retornarem para a casa recém comprada, Jacielma não considera essa uma possibilidade.

“Não volto. Meu medo é alguém ligar, em algum momento que cair chuva, e dizer ‘ó, morreu todo mundo’. Esse dia podia ter sido ontem [sábado], podíamos ter morrido todos. Não vou arriscar morrermos soterrados. Tenho medo de fechar os olhos e morrer alí”, firma.

Pessoas desalojadas

Equipes de diversas secretarias da Prefeitura de Guarujá estão mobilizadas, desde a madrugada deste domingo (19), para atender e cuidar das 175 pessoas desalojadas em função dos quase 400 milímetros de chuvas ininterruptas das últimas 24 horas. O prefeito Válter Suman determinou a instalação do Gabinete de Gestão de Crise no início da manhã para dar celeridade às ações de atendimento aos munícipes e reordenamento da Cidade.

Os munícipes desalojados recebem o atendimento da Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Assistência Social (Sedeas), com acolhimento, referenciamento no Centro de Referência de Assistência Social (Cras) e cadastro.

O volume de aproximadamente 400 milímetros é superior à média prevista para todo o mês de fevereiro, que era de 234 milímetros, e o maior índice da série histórica nos últimos 70 anos. Desde a década de 50 que o Município não recebia um volume de chuvas tão forte em curto espaço de tempo.

O Gabinete de Crise criado na manhã deste domingo, em reunião no Paço Municipal Moacir dos Santos Filho, definiu a abertura de dois polos para abrigar as pessoas removidas preventivamente de suas casas: a Escola Municipal Benedita Blac, no Jardim Umuarama (Perequê), cedida pela Secretaria de Educação (Seduc), e o Centro Esportivo Duque de Caxias (Tejereba), liberado pela Secretaria Municipal de Esporte e Lazer (Sel).

A mobilidade urbana em Guarujá e Vicente de Carvalho foi restabelecida com a retirada de barreiras e árvores caídas pelas equipes das secretarias municipais de Meio Ambiente (Semam) e de Operações Urbanas (Seurb), com caminhões, maquinários, tratores, pá-carregadeira e retroescavadeiras. A Estrada do Morro Sorocotuba, afetada pelo volume de terra, já foi liberada. As principais regiões afetadas são Perequê, Morro do Sorocutuba, Pernambuco, Maré Mansa e Morrinhos.

A Defesa Civil de Guarujá prossegue com o monitoramento das áreas. O órgão recebeu um aviso meteorológico da Defesa Civil do Estado para acumulados de até 150 milímetros em três dias, o que acabou sendo ultrapassado em quase três vezes. Com isso, as ações do Plano Preventivo de Defesa Civil (PPDC) foram intensificadas desde a última quinta-feira (16), especialmente nas áreas de risco, além da publicidade dos fatos à população.

Atendimento em Saúde

A Secretaria Municipal de Saúde montou um ambulatório para atendimento e monitoramento em cada um dos abrigos, além de equipes para realização de curativos e disponibilização de ambulância e de medicamentos em casos de diabetes e pressão alta, por exemplo.

Solidariedade

O Fundo Social de Solidariedade (FSS) de Guarujá ofertou 500 peças de roupas, 200 cobertores e 400 quilos de alimentos aos desalojados. O FSS solicita ainda doações de kits de higiene (pasta de dente, escovas, sabonetes, absorventes, desodorantes, pentes), roupas de cama (lençol, fronha, travesseiros e cobertores), colchões, fraldas, leite e toalhas de banho.

A Secretaria de Defesa e Convivência Social (Sedecon), onde está inserida a Defesa Civil de Guarujá, auxiliou ainda na entrega de doações e apoio na segurança pública, com apoio da Guarda Civil Municipal (GCM).

Transporte

A empresa concessionária do transporte público, a City Transportes, também disponibilizou três ônibus para encaminhar os desalojados. Já a Polícia Militar cedeu 150 colchões para auxílio. O Colégio Adventista também doou 100 cestas básicas. Diversos munícipes também estiveram nos abrigos para oferecer doações.

Apoio dos Governos Federal e Estadual

A Secretaria de Planejamento (Seplan) tem dialogado com o Governo Federal, por meio do Ministério do Planejamento, para receber auxílio com as demandas necessárias. A ministra Simone Tebet, titular da pasta, colocou-se à disposição da Prefeitura de Guarujá em razão das necessidades em decorrência das fortes chuvas. O prefeito Válter Suman encaminhará ao Ministério as demandas do Município

Já o governador Tarcísio Freitas, diante do sinistro que atingiu todo o litoral norte e a Baixada Santista, declarou estado de calamidade pública, sob a publicação do Decreto Estadual 67.502/23, no Diário Oficial do Estado, e de celebração de convênios nos municípios atingidos pelas chuvas.

Cancelamento do Desfile Show de Carnaval

Diante de toda situação decorrente das fortes chuvas, a Secretaria de Cultura (Secult) comunicou às escolas de samba sobre a necessidade do cancelamento de todos os eventos relacionados ao Carnaval, incluindo Desfile Show, Música na Praça, desfiles de rua dos blocos e bandas.

Guarujá cancela programação de Carnaval em decorrência das fortes chuvas

Devido os impactos das fortes chuvas que atingiram a região nas últimas 24 horas, com um volume de aproximadamente 400 milímetros, o maior da série histórica em 70 anos, a Prefeitura de Guarujá alterou a programação do feriado prolongado de Carnaval. A Secretaria Municipal de Cultura (Secult) cancelou todos os eventos relacionados à Folia de Momo, incluindo Desfile Show, Música na Praça, desfiles de rua dos blocos e bandas. A Secult comunicou às escolas de samba sobre a necessidade da decisão neste domingo (19).

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