Estudante com 10% de visão inspira projeto inédito em Guarujá
Por Santa Portal em 05/12/2024 às 11:00
Olhos vendados, bengala, obstáculos pelo caminho e atenção redobrada. Em Guarujá, alunos da Escola Municipal 1º de Maio que participaram do Projeto Visão Inclusiva, na terça-feira (3), realizaram atividades cotidianas nestas condições. Eles sentindo na pele e compreenderam um pouco do que os deficientes visuais superam todos os dias. A programação integra a Virada Inclusiva 2024, em comemoração ao Dia Internacional da Pessoa com Deficiência – celebrado no último dia 3.
A experiência só foi possível devido à criação de oito estações interativas, como parte de uma das propostas da iniciativa idealizada pelas professoras de Educação Especial da unidade, Pâmela Martins e Neuma Lira. Elas dão suporte para dois alunos atípicos: Emerson Adriano de Oliveira, que tem 15 anos e apenas 10% da visão, e foi o principal motivador do trabalho, além de Guilherme Sinceree, de 14 anos, diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Ambos integram a turma de 24 estudantes do 9º ano C.
Em três classes que simularam as dificuldades dos cegos no mundo real, o primeiro desafio consistiu na locomoção no espaço urbano e doméstico. Com a supervisão da aluna Tatiana Silva, de 15 anos, uma das primeiras orientações era sobre o que as cores da bengala de hoover significam. “O branco indica que a pessoa é cega, o vermelho aponta que é deficiente visual e auditivo, enquanto o verde é utilizado por quem tem baixa visão. Antes de andar, é importante colocar a mão em frente ao rosto, para evitar acidentes graves ao, por exemplo, esbarrar em uma parede”, explicava.
Logo em seguida, sem enxergar nada, era preciso amarrar um tênis, identificar utensílios de cozinha, trocar um boneco de bebê, estender roupas e, por fim, descobrir o sabor de uma bala. A segunda estação sensorial foi exclusivamente para diversão, com jogos de dominó e de cartas, headphones e recipientes com condimentos para testagem do olfato, animaram os alcançados.
O secretário de Educação de Guarujá, Marcelo Nicolau, e a coordenadora de Educação Especial, Valéria Korik Franco, participaram das oficinas. “Que orgulho termos no Município um projeto tão bonito e sensível ao próximo. Sem dúvidas, essa é uma potente estratégia que pode ser ampliada, assim como as políticas públicas que investimos nos últimos oito anos para atender estudantes com deficiência. Hoje, somamos 34 salas de recursos, novos protocolos de atendimento e mais especialistas contratados”, comemorou o titular da pasta.
Sonho realizado
Para Emerson Adriano de Oliveira, que inspirou o Visão Inclusiva, o projeto é um sonho realizado. Ele ficou responsável pela estação de tecnologia assistiva, ensinando sobre como os recursos disponibilizados em smarthphones e tablets ajudam os deficientes visuais em quase tudo. “Sem os aparelhos eletrônicos, não teria nem metade do que já conquistei. Eles abrem portas, promovem mais inclusão social, acessibilidade e democratização de acesso”, destacou.
“Quando comecei a estudar aqui, acumulava diversas faltas, porque só tinha um amigo na classe. Com os esforços da turma, especialmente da professora Pâmela, agora consigo me abrir com meus colegas, tenho voz e me sinto valorizado. Sou normal, gosto de coisas como ficção, mitologia e game, e espero que todos entendam a importância da inclusão social para as pessoas com deficiência, assim como eu”, reforçou o estudante.
Paixão pelo braille
Todos que passaram pelas estações interativas imersivas ganharam um imã personalizado com a identidade visual do projeto, bem como seu nome em Braille, o sistema de escrita e leitura tátil usado por cegos ou com baixa visão. As lembranças foram confeccionadas por Davi Dantas, de 14 anos. Ele faz parte do 9° ano C e foi o primeiro a dominar a modalidade.
“Graças à professora Pâmela e ao Emerson, me apaixonei pelo braille e descobri que quero ser um profissional de apoio para deficientes visuais. Esse ano aprendemos muito a como nos colocar no lugar do outro e espero continuar ajudando mais pessoas por meio do meu futuro trabalho”, comemorou o estudante.