Espetáculo 'Ubu Rei' chega a Santos para apresentação única
Por Santa Portal em 04/06/2023 às 19:00
Ubu Rei, de Alfred Jarry, mais recente produção do grupo Os Geraldos, de Campinas (SP), em mais uma parceria do grupo com o premiado diretor mineiro Gabriel Villela, fará única apresentação no Teatro do Sesc Santos – dia 10 de junho, sábado, às 20 horas. O espetáculo acaba de encerrar uma temporada de dois meses no Teatro Anchieta (Sesc Consolação), um dos espaços culturais mais importantes de São Paulo, com ingressos esgotados em 21 sessões, e agora segue pelo interior paulista – mais de 8.000 pessoas já assistiram à peça. Com tradução de Bárbara e Gregório Duvivier e adaptação do grupo e do diretor, a peça – um clássico do teatro ocidental, marco de ruptura e transgressão no século XIX – revela-se mais contemporânea do que nunca, ao fazer uma sátira do Brasil atual. No elenco está Valéria Aguiar, nascida em Santos e atriz do grupo desde 2018.
O espetáculo marca o segundo encontro do diretor Gabriel Villela com o grupo Os Geraldos. A primeira parceria resultou no espetáculo Cordel do Amor sem Fim – ou A Flor do Chico, de Claudia Barral, que tem circulado por importantes circuitos teatrais brasileiros.
O teatro popular é o território que liga o grupo ao diretor, que, com uma estética vinculada às raízes culturais do Brasil profundo, trabalha na criação de pontes de sentido entre os clássicos e o contexto do espectador. Ubu Rei faz uma sátira do poder obtido por usurpação e exercido com tirania, ao apresentar Pai e Mãe Ubu, um casal entregue à barbárie que invade a Polônia e, assassinando o rei, assume o seu trono.
Considerado por dadaístas e surrealistas como precursor desses movimentos, assim como do teatro do absurdo e da performance, Jarry oferece o material dramático de que Villela e o grupo Os Geraldos precisam para responder, com beleza e humor ácido e inteligente, a este momento histórico de caretice, autoritarismo e vulgaridade, que exige ruptura, por meio do pensamento e da arte, como o fez historicamente essa peça.
Responsável pela produção do projeto, o grupo campineiro Os Geraldos, que completa 15 anos em 2023, contou com nomes relevantes do cenário nacional das artes cênicas, como o diretor Gabriel Villela, o assistente de direção Ivan Andrade, os preparadores vocais Babaya Morais e Everton Gennari, dentre mais de 30 pessoas, que estão diretamente envolvidas na produção do espetáculo, com 14 atores no elenco.
Sobre o espetáculo, Villela ressalta a vinculação direta com a situação sociopolítico-cultural brasileira. “Nós criamos um delírio tropical, em que fazemos uma sátira afiada do nosso país, respondendo, com violência poética, à selvageria e à estupidez destes tempos”, declara o diretor.
Atualidade no palco
Mesmo se tratando de um texto escrito no final do século XIX, o texto de Ubu Rei fala muito sobre os dias atuais. Para transpor a nova versão para a obra de Alfred Jarry (considerado o pai do teatro do absurdo), Os Geraldos e Gabriel Villela optaram por fazer uso da estética e da música para deixar ainda mais evidente o surrealismo da linguagem. A ideia é provocar no espectador uma sensação de vertigem, sair do prumo, balançar o extremismo posto em cena, fazer o espectador embarcar num delírio tropical, universal sobre os extremismos postos.
Entre as coisas que unem o grupo paulista e o diretor mineiro é o modo de usar a música para contar a história. São 18 canções (entre íntegras, versos, pedaços, melodias etc), interpretadas ao vivo pelos atores – com acompanhamento do maestro Everton Gennari, responsável pela direção musical (com Babaya Morais), ao piano. E uma inusitada homenagem à Miriam Batucada, com os artistas tocando caixa de fósforo.
São músicas do cancioneiro popular brasileiro e latino-americano – como Geraldo Vandré, Raul Seixas, Inezita Barroso, entre outros compositores. As canções são elementos da dramaturgia, servindo tanto como prólogo (protofonia musical) até para juntar cenas e atos, ou mesmo para levar as cenas para outro lugar.
Se na primeira parceria entre os artistas (Cordel do Amor sem Fim) o lirismo estava em cena, com a estética romântica que remete às cores de uma tempestade – azul, vinho… -, em Ubu Rei é o deboche que está em cena. Para a versão desse clássico do absurdo, o cenário e os figurinos trazem muito brilho, cores quentes, quase uma estética de cabaret, numa referência ao programa do Chacrinha.
O figurino traz diversas referências, com elementos do Japão, da África, porém misturado com estilos que remetem ao brega, trajes de festa envelhecidos, datados, desatualizados, com cortes desiguais, que mostram a decadência daquela sociedade posta em cena.
Gabriel Villela – que tem contribuição também na Música Popular Brasileira, com a direção de shows de Maria Bethânia, Milton Nascimento, Elba Ramalho e Ivete Sangalo – já dirigiu mais de 50 espetáculos teatrais, trabalhando com artistas como Renata Sorrah, Laura Cardoso, Beatriz Segall, Walderez de Barros, Marcello Antony, Regina Duarte, Thiago Lacerda, entre outros grandes nomes das artes cênicas nacionais. Já recebeu Prêmios Molière, Sharp, Shell, Troféus Mambembe, Troféus APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte), Prêmios APETESP (Associação de Produtores de Espetáculos Teatrais de São Paulo), Prêmios PANAMCO, Zilka Salaberry, além de dezenas de premiações internacionais, como no Festival Theater Der Welt in Dresden (Alemanha), Word State Festival, em Toronto (Canadá), “Globe to Globe”, no Shakespeare`s Globe Theatre (Londres, Inglaterra), dentre outros. Sua poética e produção artística estão registrados no livro “Imaginai! O teatro de Gabriel Villela”, de Dib Carneiro Neto e Rodrigo Audi, lançado em 2017 e vencedor, na categoria de livro de arte, do Prêmio Jabuti 2018.
Serviço:
Ubu Rei
Data: 10 de junho, sábado, às 20 horas
Local: Teatro Sesc Santos (R. Conselheiro Ribas, 136 – Aparecida, Santos – SP)
Ingressos: R$ 30,00 (inteira), R$ 15,00 (Meia: estudante, servidor de escola pública, + 60 anos, aposentados e pessoas com deficiência) e R$ 10,00 (Credencial plena: trabalhador do comércio de bens, serviços e turismo matriculado no Sesc e dependentes) – Os ingressos estão disponíveis para venda em sescsp e no app Credencial Sesc SP ou nas bilheterias do Sesc SP.
Duração: 80 minutos
Classificação indicativa: 18 anos
Lotação: 765 lugares