28/02/2021

Especialistas apontam que mudança no comando da Petrobras deve trazer instabilidade

Por Rodrigo Martins/#Santaportal em 28/02/2021 às 08:52

ECONOMIA – As recentes mudanças promovidas pelo presidente Jair Bolsonaro no comando da Petrobras geraram reações de diversos setores da sociedade. A indicação do general Joaquim Silva e Luna para a presidência da estatal foi alvo de críticas, causando turbulência política e tendo reflexos inclusive no mercado econômico.

Silva e Luna, atual presidente da Itaipu Binacional pelo lado brasileiro, foi indicado para substituir Roberto Castello Branco. O anúncio foi feito por Bolsonaro no último dia 19.

“No curto prazo qualquer interferência na administração de uma empresa mista como a Petrobras abala a confiança dos investidores e impacta negativamente nos preços das ações da empresa no mercado de capitais, o mundo das finanças é avesso ao risco, a incerteza, portanto, nunca vê com bons olhos algum movimento dessa natureza, quando ele é feito de maneira inesperada e sem avisos. No longo prazo somente a postura da nova gestão da empresa vai poder nos dizer se o mercado financeiro vai aprovar ou não, essa aprovação vai vir pela flutuação dos preços das ações, se subirem além da média de preços antes da mudança, é sinal de que aceitaram, se permanecer abaixo da média, não aceitaram”, disse o professor da Unisanta e economista da F Fatorial, Gabriel Eid.

Gabriel destaca, entretanto, que as quedas registradas na bolsa no começo da semana devem ser relativizadas. “É muito importante mencionar esse detalhe: subir ou cair um preço de uma ação não é parâmetro, a queda na segunda foi um ‘susto’ do mercado, assim como as últimas subidas de preço foi um ajuste, o que importa são as médias de preços”, explicou.

O cientista político Fernando Chagas acredita que Bolsonaro fez uma manobra errada ao realizar a indicação de Silva e Luna após fazer críticas à gestão da Petrobras e às sucessivas altas no preço dos combustíveis. “Antes de mais nada, é importante esclarecer que a Petrobras é uma empresa de economia mista, que tem ações ordinárias e preferenciais espalhadas pelo mundo afora. Assim, a estatal deve seguir as regras do mercado internacional de petróleo, para impedir prejuízos gigantescos aos acionistas minoritários e também evitar a perda credibilidade da empresa no exterior. Para corroborar com tal entendimento, basta olhar a fuga recorde de R$ 9 bilhões de capital externo em dois dias da Bolsa de Valores de São Paulo, justamente por causa da intervenção desastrada e desastrosa do presidente da República, Jair Bolsonaro, pedido a exoneração do presidente da Petrobras, Roberto Castelo Branco, repentinamente e sem justificativa plausível de cunho econômico”, afirmou.

noticia2021226312439.jpg
Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

No ponto de vista do coordenador geral do Sindipetro Litoral Paulista, Adaedson Costa, que também é secretário geral da Federação Nacional dos Petroleiros, a provável mudança no comando da Petrobras não deve trazer grandes novidades, tanto para os trabalhadores da estatal quanto para os rumos da empresa.

“Não criamos expectativa de nenhuma mudança na política da empresa. (A Petrobras) vai continuar seguindo a cartilha do Paulo Guedes, que é a privatização e a entrega do patrimônio nacional. A empresa foi sendo fatiada e vendida aos poucos, o que é uma estratégia que visa privatizar a estatal lá na frente. Por isso, sabemos que o general vai seguir o alinhamento definido pelo ministro Paulo Guedes, que é um erro no nosso entendimento. Hoje, a Petrobras é basicamente uma empresa de refino e exploração, o que está na contramão do que ocorre nas empresas do porte da Petrobras pelo mundo afora. Por outro lado, esperamos que se abra um caminho de conversação, por parte do comando da empresa, para que os trabalhadores sejam respeitados naquilo que fazem. A Petrobras conta com especialistas em suas áreas, os melhores profissionais do Brasil estão na empresa”, destacou Costa.

Para Chagas, uma solução para a alta no preço dos combustíveis passa pela vontade política do governo. “A palavra ‘resolver’ implica assumir que há uma solução para esse problema dos combustíveis, mas a realidade é que não há solução, qualquer medida tomada vai agradar um lado e desagradar o outro, é impossível uma medida política ou administrativa capaz de agradar plenamente sociedade e mercado financeiro. Ele precisa definir qual é a prioridade do governo dele, se é o país e seu povo ou se é o mercado financeiro e de capitais. Se for o país, que a Petrobras assuma seu papel social e incorra em prejuízos para sustentar um combustível mais barato, reduzindo assim o custo Brasil. Se for o mercado financeiro então que deixe a empresa se auto gerir e que os preços dos combustíveis sejam flutuantes conforme os preços da commoditie (o barril de petróleo)”, argumentou.

Já Gabriel Eid vê aspectos positivos e negativos na tentativa de controlar o preço dos combustíveis via Petrobras. “É maléfico sob o aspecto financeiro e gerencial, para uma empresa ter sua principal fonte de faturamento controlada ou limitada por motivos políticos e sociais acaba gerando uma enorme pressão sobre os resultados financeiros, a gestão de custos, projetos de investimentos da empresa e a distribuição de dividendos. Por outro lado, estamos falando de um dos pilares de qualquer economia, os combustíveis são um dos principais insumos do mundo, tendo impacto direto sobre todos os custos de todas as atividades econômicas, dessa forma, a capacidade de uma nação controlar esses custos ou subsidiá-los – que é o que o governo está fazendo ao tentar controlar os preços dos combustíveis – é uma grande vantagem competitiva nacional e internacional. Portanto, qualquer país que tenha um projeto de nação deve levar em conta essa variável e tentar fazer o possível para geri-la, o ganho que temos como país e sociedade é muito maior do que o prejuízo que decairá sobre a Petrobras, mas isso não agrada ao mercado financeiro, que tem uma considerável influência sobre os governos no mundo todo”, comentou.

Enquanto isso, Adaedson Costa vê a iniciativa de tentar controlar o preço dos combustíveis através da Petrobras como uma forma da estatal ajudar a economia brasileira, em um momento de crise, especialmente por causa da pandemia da Covid-19. “A política de preço adotada onera a população em detrimento de aumentar o lucro dos acionistas. Entendemos que nada mais justo para a população que essa alteração no comando fosse parar rever a política de preços dos combustíveis, em que pese a Petrobras ser uma empresa de economia mista. Ela foi criada também para ter a sua finalidade social e, por isso, em uma pandemia, com uma crise econômica e um número exacerbado de desempregados, se ela não servir para ajudar o povo brasileiro nesse momento, ela não vai servir nunca. Não é um preço justo (o dos combustíveis) e esperamos que isso seja corrigido”, concluiu o secretário geral da Federação Nacional dos Petroleiros.

noticia20212263234584.jpg
Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

loading...

Este site usa cookies para personalizar conteúdo e analisar o tráfego do site. Conheça a nossa Política de Cookies.