28/09/2017

Especial Setembro Amarelo: Cinema ainda trata o suicídio de forma irresponsável, dizem especialistas

Por Noelle Neves/Colaboradora em 28/09/2017 às 19:30

SETEMBRO AMARELO – O suicídio é tabu entre profissionais da área médica e na mídia. Quando se fala de Indústria Cultural, especialmente o cinema, não é diferente. “Talvez exista um medo de se passar a mensagem errada e celebrar o assunto. E acho que um dos motivos é que é algo muito profundo, mas que deixa poucos rastros para qualquer tipo de explicação”, comentou o crítico de cinema do site CinemAqui, Vinicius Carlos Vieira.

A cultura pop costuma mostrar o suicídio como forma de sacrifício, que é algo bastante visto, principalmente, em filmes de terror. “É comum um personagem, diante do perigo, decidir se sacrificar para salvar os amigos. Curiosamente, quase sempre é alguém querido que fará o espectador sentir a perda. O cinema olha até o final para morte e quando dá até passa pelo cadáver”, disse Vinícius.

Grandes filmes costumam se montar sobre o caminho do personagem até chegar ao suicídio. ‘Despedida em Las Vegas’ faz isso, com um suicídio que dura o filme inteiro e “não em um momento específico e climático”. ‘As Vantagens de ser Invisível’ fala de uma maneira sutil. Já em ‘As Virgens Suicidas’, a diretora transforma o filme “quase em um poema”. Mas, quanto ao ato em si, quase sempre os diretores desviam o olhar do assunto.

Outro destaque é a série Original Netflix ‘Thirteen Reasons Why’ (em português, ‘Os 13 Porquês’), que dividiu opiniões ao retratar sobre o suicídio de uma adolescente, que grava 13 fitas contando os motivos que a levaram a cometer o ato. De acordo com Vieira, houve irresponsabilidade dos realizadores por mostrar demais as razões e fazer com que os espectadores se identificassem com a personagem.

O psiquiatra Miguel Ximenes de Rezende reforça que para prevenir o suicídio, é preciso falar sobre. “Abordar o assunto de forma técnica é fundamental, mas sou radicalmente contra falar sobre técnicas de atentar contra a própria vida. Mas no cinema isso não dá bilheteria”, destacou.

Há um grande debate em relação a influência que esse tipo de conteúdo pode trazer. O psicólogo Javert Júnior rebate que não é possível uma obra literária e televisiva trazer consequências negativas. Mas alerta que “não se pode romantizar e sim mostrar como uma consequência de um grande sofrimento”.

Segundo os especialistas, não há um grande número de conteúdos responsáveis sobre o assunto e quem deseja entender mais, deve recorrer a documentários e livros técnicos. Mas afirmam que investir nesse tipo de conteúdo pode ajudar na prevenção, porque seria uma forma leve de passar informação e que ajudaria as pessoas a pedirem ajuda.

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